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Journal of Controversial Ideas – aqui, os autores podem ser anônimos

Vilma Reis

Foi anunciado esta semana um novo periódico científico no qual os autores de artigos sobre temas sensíveis ou “polêmicos” poderão publicar os resultados de sua pesquisa protegidos por pseudônimos. A nova revista científica foi batizada de “Journal of Controversial Ideas” e será lançada no começo de 2019. Para os líderes da iniciativa – um grupo de pesquisadores de várias universidades ao redor do mundo – a livre discussão intelectual em assuntos sensíveis está sendo cerceada por uma cultura de medo e de autocensura.

A abrasquiana Débora Diniz, do Grupo Temático Bioética está no Conselho Editorial da publicação: – “A ciência precisa ser livre. Os cientistas têm que pesquisar, escrever e disseminar suas ideias sem medo de retaliação ou demissão. Por isso, Journal of Controversial Ideas será lançado. Sou do conselho editorial – aqui, os autores podem ser anônimos” anunciou em seu Twitter.

Em entrevista para a jornalista Martin Rosenbaum da BBC Radio 4, Jeff McMahan, professor de filosofia moral da Universidade de Oxford e um dos organizadores explica: – “(O periódico) permitirá às pessoas cujas ideias podem criar problemas com a direita, com a esquerda ou com as administrações de suas universidades que publiquem sob um pseudônimo”, disse. Ele revelou os planos para o novo periódico numa entrevista para o University Unchallenged, um rádio-documentário da BBC Radio 4 sobre diversidade de pontos de vista na academia. “A necessidade de discussões mais abertas é aguda. Há muita inibição nos campi universitários em assumir certas posições, por medo das consequências. O medo vem da oposição sofrida pelos pesquisadores, tanto por parte da direita quanto da esquerda. As ameaças de fora da universidade tendem a vir mais da direita. E as ameaças à liberdade de expressão de dentro da academia costumam vir mais da esquerda”, disse ele.

Revisão por pares

McMahan frisou que a nova publicação, que tratará de várias disciplinas científicas, adotará o procedimento padrão em periódicos do tipo, com revisão por pares. “O processo de avaliação será tão rigoroso quanto o de outros periódicos. O nível de qualidade será mantido”, disse. O conselho editorial será composto por estudiosos de várias áreas e em vários países, com representação do pensamento de esquerda e de direita, bem como de intelectuais religiosos e seculares. O objetivo é evitar que o periódico seja identificado com algum ponto de vista específico. A primeira chamada para artigos deve sair em breve. Outros pesquisadores importantes estão participando da iniciativa, como o filósofo australiano Peter Singer e a estudiosa de bioética Francesca Minerva, da Universidade de Ghent (Bélgica). McMahan disse que os responsáveis veem a iniciativa como uma resposta ao “espírito do tempo”. “Acredito que todos nós ficaríamos muito felizes se, e quando, a necessidade de um periódico desses desaparecesse. O quanto antes, melhor”. “Mas, nas condições atuais, algo deste tipo é necessário”, disse.

Na opinião de Tom Bartlett, da Escola de Inglês, Comunicação e Filosofia da universidade britânica Cardiff, as idéias podem inflamar e as conseqüências para expressá-las podem ser severas. Isso não é exatamente uma novidade. De fato, é mais ou menos a história da ciência e da filosofia: exílio, excomunhão, execução.

“Eu não acho que você deveria escrever um artigo pensando sobre as implicações políticas do que você está escrevendo”, diz Francesca Minerva, também editora da revista e pós-doc na Universidade de Ghent, na Bélgica. “Você deveria discutir com a melhor ciência disponível.” Minerva foi coautora de um artigo de 2011 – “O aborto pós-nascimento: por que o bebê deve viver?” – que levou a condenações e ameaças. Foi em parte essa experiência que a fez interessada em conceber e dirigir o novo periódico. Casos recentes, como as controvérsias sobre a defesa do colonialismo e um artigo sobre o chamado ” racismo”, também fizeram com que a necessidade de tal projeto parecesse urgente.

Os fundadores não estão interessados ​​em controvérsias por si só, mas em fornecer uma saída para idéias que, de outra forma, não poderiam ser encontradas. A razão pela qual eles querem publicar uma edição por ano, diz Minerva, é focar na qualidade das submissões. Eles montaram um conselho editorial com 40 acadêmicos em vários campos que simpatizam com seus objetivos. Eles esperam que a revista envie um sinal de que boas ideias, mesmo aquelas que inflamam, merecem ser debatidas.

“O que nos interessa é dar voz às pessoas”, diz Minerva, “porque, se você não publicar coisas controversas, talvez esteja perdendo algo realmente importante”.

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