O jornalista Claudio Oliveira do Portal Fiocruz conversou com o coordenador da sub-comissão de Mobilização Social do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, Leonídio Madureira, coordenador da Cooperação Social da Fiocruz. Confira a entrevista:
Pela primeira vez a Fundação Oswaldo Cruz terá a satisfação de abrigar o Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva da Abrasco, carinhosamente conhecido como Abrascão, justamente num ano tão emblemático para a Saúde Pública e Coletiva, quando se comemoram os 30 anos da Constituição Cidadã de 1988. O 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva terá como tema a defesa das conquistas da saúde coletiva, do SUS, dos direitos e da própria democracia brasileira, de forma a proteger e aperfeiçoar os avanços conquistados.
O evento, que acontecerá em julho, contará com a participação de pesquisadores de diversas áreas, profissionais e trabalhadores da saúde, gestores e técnicos da saúde, além de militantes de movimentos sociais e de entidades da sociedade civil, caracterizando-se como um dos mais importantes fóruns científicos da área em todo o mundo.
Para falar um pouco sobre a participação da sociedade civil no congresso, o Portal Fiocruz entrevistou o coordenador da Cooperação Social da Fiocruz, Leonídio Madureira.
Como se dará a participação de movimentos sociais no evento?
Leonídio Madureira: Estamos falando da participação de movimentos sociais em um congresso científico de saúde coletiva de abrangência nacional. Neste contexto, está prevista a presença de representações de movimentos sociais e organizações populares nas diversas atividades do Pré-Congresso que será realizado na UERJ, como mini-cursos e oficinas; do congresso em si; e também nas rodas de conversas da Tenda Paulo Freire. Representações de movimentos sociais poderão solicitar gratuitamente o crachá de visitantes para acompanhar o congresso.
Quais os temas do congresso mais ligados aos movimentos sociais?
Leonídio Madureira: Podem ser citados os temas relacionados aos povos originários, às questões geracionais, de gênero, das violências, segurança alimentar, meio ambiente, racismo, entre outros. No momento, já estão previstas, por exemplo, a presença de movimentos sociais no curso Pesquisa Militante em Saúde programado no Pré-Congresso; em mesas redondas no congresso, como as de Estratégias para a Promoção da Saúde e Gestão Territorial Democrática em Favelas e As Entrelinhas do Cuidado: práticas e experiências de redução de danos no RJ.
Já na Tenda Paulo Freire, acontecerão rodas de conversa a partir da discussão de pautas dos movimentos sociais relacionadas com as suas vivências e às estratégias de enfrentamento ao desmonte do SUS e a perda do direito à saúde.
Qual a sua expectativa em relação ao evento?
Leonídio Madureira: O diálogo com os movimentos sociais é de suma importância para o fortalecimento do SUS, dos direitos e da democracia. Espero que a bandeira do SUS seja reforçada, o que é muito importante na atual conjuntura, e que, neste momento histórico, está relacionada com o desafio de pensar estratégias de proteção e fortalecimento. Resgato aqui a mensagem do Presidente da Abrasco, Gastão Wagner, na qual ele afirma que os direitos, a liberdade, democracia, universidade pública e o Sistema Único de Saúde estão submetidos a ataques cerrados e o Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva poderá demonstrar a potência da organização para resistir e obstaculizar o retrocesso aos direitos e a liberdade.
Haverá produção de conteúdo e/ou cobertura jornalística do congresso voltada para mídias comunitárias?
Leonídio Madureira: Sim, a Fiocruz está se organizando para gerar um cadastro único de veículos de comunicação comunitária, comunicadores populares, e coletivos de mídia livre que serão convidados a participarem e produzirem sua própria cobertura do evento. A equipe do jornal Fala Manguinhos!, que possui uma relação com a instituição, certamente fará a cobertura de todos os temas que considerar pertinentes aos seus leitores, entre as mesas redondas, palestras, conferências, rodas de conversa, e outros. Da mesma forma, os demais veículos terão essa liberdade.
Uma comunicadora ligada ao Programa de Promoção de Territórios Saudáveis da Cooperação fará a articulação entre esses veículos e os jornalistas da Fiocruz para mapear a participação deles e suas publicações.
Jornalistas da Fiocruz irão vocalizar a participação desses veículos no Abrascão por meio de reportagens e outros produtos de comunicação interna e externa à nossa instituição como forma de potencializar e dar visibilidade às narrativas produzidas por eles. Além disso, a comunicação do congresso já sinalizou que poderá criar áreas na página do congresso nas mídias sociais com o “olhar da mobilização social” para o Abrascão, publicando fotos, vídeos e reportagens.
O evento acontece no Rio de janeiro em uma área de constantes confrontos armados, desigualdade e pobreza, como o Abrascão pretende abordar essas questões?
O lema do Congresso esse ano é Fortalecendo o SUS, os Direitos, e a Democracia. As questões que você está citando estão dentro desse olhar que a organização está propondo como mote em 2018 e por isso está pautado em diferentes conferências, comunicações orais, rodas de conversas, e etc.
A Cooperação Social da Fiocruz, que integra a sub-comissão de Mobilização Social, tem a função de contribuir para a participação de grupos sociais historicamente minorizados e movimentos sociais organizados que resistem e lutam contra as desigualdades sociais nesse Congresso, que também possui uma forte dimensão política. Em nossas atividades regulares, trabalhamos para que as políticas públicas sejam voltadas para melhoria da qualidade de vida e saúde desses segmentos.
Entendemos que é necessário envolver esses grupos na luta pelo fortalecimento do SUS, dos direitos e da democracia, fortalecendo essa bandeira. E, por outro lado, também é preciso fortalecermos os movimentos. Tudo está associado, democracia, trabalho, saúde, cultura. Resgatando a máxima de Sergio Arouca: o SUS é um projeto civilizatório.