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Letalidade da Covid-19 na população negra pauta imprensa sobre raça e desigualdades

Embora minoritários entre os registros de afetados pela Covid-19, pretos e pardos representam quase 1 em cada 4 (23,1%) dos brasileiros hospitalizados com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG, em português; SARS, em inglês), mas chegam a 1 em cada 3 entre os mortos infectados pelo novo coronavírus (32,8%). Já com a população branca ocorre o contrário: são 73,9% entre aqueles hospitalizados com Covid-19, mas 64,5% entre os mortos. Os dados foram apresentados durante coletiva do Ministério da Saúde realizada na sexta-feira, 10 de abril. O Grupo Temático Racismo e Saúde (GT Racismo/Abrasco) já havia apontado esta possibilidade com preocupação na matéria “População negra e Covid-19: desigualdades sociais e raciais ainda mais expostas, produzida pela Comunicação da Abrasco e publicada em 31 de março, no conjunto de materiais do Especial Abrasco Coronavírus. Infelizmente, os dados atuais já indicam que o coronavírus chegou às periferias antes do que se pensava e só reforçam que as questões relacionadas à saúde e às doenças nas sociedades têm forte determinação social e racial.

“Com 20 dias desde o primeiro óbito, termos 32% das mortes entre pessoas negras indica que o isolamento social não retardou a chegada do coronavírus nas periferias como esperávamos. A epidemia começou com uma elite, majoritariamente branca, mas que tem sua cozinheira, sua faxineira, seus cuidadores, majoritariamente negros” disse Luis Eduardo Batista, pesquisador do Instituto da Saúde da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, diretor do Conselho Deliberativo da Associação e integrante da coordenação do GT Racismo/Abrasco, ao jornal Folha de S. Paulo na matéria Coronavírus é mais letal entre negros no Brasil, apontam dados da Saúde.

A matéria da Folha ressalta também que a Coalizão Negra Por Direitos e o Grupo de Trabalho de Saúde da População Negra da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) entraram, em separado e por vias distintas, com pedidos ao Ministério da Saúde para a inclusão de campos específicos de raça, gênero e moradia desagregada por bairros nos municípios nas notificações obrigatórias para SRAG e demais enfermidades relacionadas à Covid-19. “Assim como nos Estados Unidos fica evidente que a população periférica, majoritariamente composta por pessoas negras, é mais afetada pela Covid-19, é importante que tenhamos esses dados categorizados por raça e cor no Brasil para tomar providências”, afirma Denize Ornellas, diretora da SBMFC. Outra matéria do mesmo veículo de comunicação aponta que a pasta da saúde deverá abraçar as demandas. No entanto, não há na matéria fonte oficial do Ministério, nem uma notícia específica no site da autarquia.

Crise tem cor e gênero: O GT Racismo/Abrasco também pautou este debate no artigo da colunista Flávia Oliveira, do jornal O Globo, publicado na sexta, dia 10. A jornalista também partiu do cenário da pandemia nos Estados Unidos e as discrepantes taxas de óbitos entre brancos e negros naquele país. Na cidade de Chicago,  estado de llinois, onde afro-americanos compõem um terço da população, ele correspondem a 72% dos óbitos motivados pela pandemia.

“Lá como cá, as estatísticas sobre incidência da pandemia por cor ou raça são deficientes. No Brasil, contaminações leves ou assintomáticas mal foram detectadas; faltam testes. Nas fichas de comunicação obrigatória dos casos graves, a informação sobre etnia é quase sempre negligenciada. Isso, até agora, inviabilizou a produção de dados sobre o perfil racial dos doentes por Ministério da Saúde, governos estaduais e prefeituras. Não à toa, a Coalização Negra por Direitos reivindicou em documento assinado por 150 organizações a apresentação dos recortes racial e de gênero. Pleito semelhante fez a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) em relatório com uma dúzia de recomendações para o enfrentamento à pandemia” traz o texto de opinião.

Entre as recomendações do GT Racismo/Abrasco, constam ações emergenciais, como a realizar ações de educação em saúde, utilizando materiais educativos (em português, inglês e francês) para levar informações sobre a Covid-19 em parceria com organizações, grupos e coletivos negros nos territórios prioritariamente ocupados por população negra, como quilombos, favelas, bairros periféricos, terreiros, assentamentos, populações do campo, e ampliar as condicionalidades nos programas de renda familiar mínima para contemplar: os grupos em contexto de maior vulnerabilidade socioeconômica, entre outras. Clique e confira a matéria do GT Racismo e Saúde – Acesse aqui o Especial Abrasco Coronavírus.

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