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Ligia Bahia e Nilson do Rosário debatem na ENSP a Saúde na nova configuração

28 de junho de 2013 – Por Bruno C. Dias



A aluna Vanessa Nolasco (centro) conduz o debate com os professores Nilson do Rosário e Ligia Bahia

 


A força popular que tomou de assalto o debate político e as notícias na mídia e redes sociais nos últimos dias foi o tema da mesa Qual o mal-estar na sociedade e na saúde pública? Promovida pelo Fórum de Estudantes de Pós-Graduação da ENSP/Fiocruz nesta sexta-feira, 28 de junho.
 

Na mesa, coordenada pela aluna Vanessa Nolasco Ferreira, os dirigentes da Abrasco Nilson do Rosário e Ligia Bahia destacaram o quão importante é aprender com os novos tempos: “O que está nas ruas não é a pauta sindical, associativa ou puxa-saco. O recado é claro: temos de nos reconfigurar e isso pode ser interessante, pois mostra um país que está descobrindo novas formas de representação”, destacou Ligia Bahia.

 

A explosão da mobilização pegou todos, sem exceção, de surpresa, explicou Ligia, integrante do Conselho da Abrasco, logo na sua primeira fala. Ela lembrou que dois dias antes das mobilizações simultâneas no Rio e em São Paulo, uma mesa de debates sobre os 25 anos do SUS questionava a falta de novos atores políticos na conjuntura. “E dois dias depois apareceram um monte de cartazes, como "Enfia os 20 centavos no SUS", "Se seu filho ficar doente, leve ele a um estádio”, “Saúde padrão FIFA" – todo um conjunto de expressões com uma conotação positiva, de defesa do Sistema Único de Saúde e nenhum sequer pedindo subsídios para as empresas. Ou seja, está claro que plano de saúde e comprar diplomas em escolas de má qualidade não estão dando certo”.

 

A professora da UFRJ analisou que a dispersão e multiplicação dos segmentos e grupos sociais nas ruas não pode ser encarada unicamente como uma apropriação da direita nem com desdém pelos acadêmicos. “É um movimento progressista e, como sempre aconteceu, tem sim um pessoal da direita querendo se apropriar. Muitos pensadores da universidade estão em dúvida e demonstram até certo nojinho pela desorganização, falta de objetividade e excesso de espontaneidade. Mas teremos de acordar mesmo que no susto. Se há gigantes despertos, o gigante da saúde pública não pode ser o último a acordar. É importante que a gente se mobilize”.

 


Ligia Bahia, do Conselho da Abrasco, destacou que o setor da Saúde tem muito a aprender com as novas formas de luta

 

Essa mobilização, segundo ela, deve questionar a política de importação de médicos anunciada pelo pronunciamento da Presidenta Dilma Roussef na noite do dia 21. “Sem um sistema de saúde, sem uma estrutura de acolhimento, não vai dar certo, pois o SUS precisa ser mais importante do que os médicos. Tal decisão mostra que, para o governo, é mais importante ter o João Santana (responsável pelo marketing do Palácio do Planalto) para decidir as políticas do setor do que as associações científicas”.

 


Já Nilson do Rosário Costa, professor da ENSP e vice-presidente da Abrasco, disse que a criatividade das ruas foi percebida com rapidez pelas elites, que tentaram pautar na mídia uma agenda difusa e diferente a das ruas, e pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que continua apostando nas alianças de centro da composição política nacional. “A coalizão do governo, que poderia aproveitar esses elementos para pensar a questão nacional, não mudou sua visão e continua deixando de fora da pauta questões como a gestão do desenvolvimento urbano”.

 


"Temos de seguir o caminho do dinheiro, cobrar uma audiência pública sobre a natureza do pacto produtivo na Saúde e seus efeitos”, afirmou Nilson do Rosário, vice-presidente da Abrasco.

 

Para o Rosário, a sociedade sente um grande déficit democrático, que não pode ser sanado apenas pela redução da exposição da economia ao capital financeiro. “Nosso modelo anacrônico de desenvolvimento causa efeitos terríveis na vida nacional, como as parcerias público-privadas para reduzir a dependência de medicamentos estrangeiros. Esse é um exemplo, mas há coisas maiores que envolvem riscos de alienação de patrimônios nacionais”, detalhou o professor.

 


Ambos dirigentes não se propuseram a fazer análises sobre o futuro, mas apontam que já são sensíveis mudanças nas articulações do setor da Saúde. “Como vice-presidente da Abrasco, tenho tido o privilégio de estar em debates sobre a regulamentação da Emenda Constitucional nº 29, que congela os gastos federais com a saúde, e é visível como os secretários municipais encontram-se em estado de guerra com o Palácio do Planalto, numa ruptura sem precedentes dentro do pacto relativamente harmônico do jogo político (…) Temos de seguir o caminho do dinheiro, cobrar uma audiência pública sobre a natureza do pacto produtivo na Saúde e seus efeitos”, destacou Rosário.


Já Ligia reforçou também a prioridade das pautas que não foram respondidas pelo governo, como a polêmica da cura gay e o debate do aborto no Estatuto do Nascituro.  “A demanda da rua é a favor, então vamos nos pronunciar sobre os debates que queremos avançar, como crítica à cura gay e o tema do aborto. E façamos isso como e com quem está nas ruas, sem financiamento. Cada um leva seu cartaz e entrega suas flores. Temos de superar a prisão da agenda e do financiamento governamentais, deixar os Poderes se pronunciarem e bagunçarem bem o coreto para sabermos como nos posicionar”. 

 

O Fórum de Articulação com os Movimentos Sociais da ENSP publicou um manifesto sobre os protestos populares que vêm sendo realizados no país.

 

Confira aqui o texto

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