Luis Eugenio de Souza – presidente da Abrasco entre 2012 e 2015 e, atualmente, integrante do Conselho Deliberativo e do Comitê de Relações Internacionais da Associação – tem uma mensagem para todos que querem fortalecer o direito universal à saúde: a pandemia de Covid-19 tornou a participação no 16º Congresso Mundial de Saúde Pública essencial. O congresso, que acontecerá em Roma, em outubro, será um espaço imprescindível de diálogo, e a comunidade latino-americana de saúde pública terá muito a aprender e ensinar. Leia o convite na íntegra, publicado originalmente no site do evento:
O Congresso Mundial de Saúde Pública (World Congress on Public Health – WCPH), que chega à sua 16ª edição em 2020, tem sido um espaço rico para intercâmbio entre pesquisadores e profissionais de saúde, formuladores de políticas públicas e representantes da sociedade civil. Nos congressos, temas importantes são discutidos, e aprofunda-se a compreensão das questões de saúde pública a fim de fortalecer a ação coletiva em prol do direito universal à saúde, equidade e justiça social.
Em nosso mundo globalizado, é essencial desenvolver e compartilhar uma perspectiva global de saúde pública para entender a realidade social e se tornar um agente histórico capaz de influenciar o curso dos eventos.
Ser capaz de desenvolver essa perspectiva global, tornando-se um ator político relevante, é ainda mais importante para a comunidade de saúde pública da América Latina – uma vez que as pessoas aqui carregam uma herança colonial que, se por um lado nos conectou a ricas culturas europeias, por outro, deixou as marcas do genocídio das populações indígenas e da escravidão. A extrema desigualdade social que ainda caracteriza nossas sociedades é, em parte, uma consequência desse passado.
Participar do Congresso Mundial de Saúde Pública é uma oportunidade de contribuir para a construção dessa perspectiva global, baseada nos valores de igualdade e justiça. De fato, esse tem sido o compromisso de quem vai aos congressos da Federação Mundial das Associações de Saúde Pública (WFPHA), como demonstra este trecho da declaração final do 15º WCPH, realizado em Melbourne, Austrália, 2017:
É papel dos profissionais de saúde pública e de suas organizações contribuir para: melhorar os resultados de saúde para todos e combater a iniquidade como principal fator de saúde precária, com ênfase particular em mulheres, crianças, povos indígenas – assim como comunidades pobres e marginalizadas-, exigindo mudanças políticas, sociais, ambientais e econômicas em todos os setores para uma saúde melhor e mais sustentável.
O 16º WCPH será, sem dúvida, outra boa oportunidade para avançar na luta da comunidade de saúde pública pela justiça social e saúde para todos. Se comparecer ao 16º WCPH já era interessante por si só, o surgimento da pandemia de Covid-19 tornou a participação necessária. Em poucas épocas da história a relevância da saúde pública foi tão clara quanto é agora; não só para especialistas, mas para a população de todo o mundo.
Como consequência, a pandemia atual tornou os temas centrais do congresso mais oportunos, a começar pela questão da relevância de ações orientadas pela razão e pela ciência. O enfrentamento à Covid-19 exige reconhecer que as políticas de saúde devem ser formuladas com base no conhecimento científico. Vários líderes governamentais que costumam atacar a ciência, promovendo o obscurantismo, se não recuaram, estão se isolando politicamente.
Por mais urgente que seja a pandemia, a emergência climática é outro tema central do 16º WCPH – talvez mais grave, dada a insuficiência de ações para combater o fenômeno. Esse é um tópico de particular interesse para a América Latina, cuja sociedade parece menos consciente dos efeitos catastróficos – já em andamento – das mudanças climáticas.
Além disso, o 16º WCPH terá várias sessões dedicadas à discussão de estratégias que a comunidade de saúde pública pode desenvolver para enfrentar questões com formação de líderes e agentes de mudança; democratização da tecnologia digital; qualidade e sustentabilidade de sistemas de saúde; interdisciplinaridade e intersetorialidade.
Os participantes latino-americanos terão muito a aprender, mas também muito a ensinar. Nossas universidades e centros de pesquisa, instituições de saúde e organizações comunitárias produziram conhecimento e acumularam experiências que enriquecerão as discussões no 16º Congresso Mundial de Saúde Pública. Os latino-americanos não perderão esta oportunidade!
Luis Eugenio de Souza, PhD
Associação Brasileira de Saúde Coletiva