É inadmissível que, ainda no mês de junho, o Brasil alcance à triste marca de meio milhão de brasileiras e brasileiros mortos pela Covid-19. A desvalorização da vida e as desigualdades sociais serviram de terreno fértil para o vírus no Brasil. Em um contexto em que o Brasil volta ao mapa da fome, as populações vulnerabilizadas são as que mais morrem.
Apesar da recente diminuição da média móvel diária de mortes para 2.000 nas últimas semanas, esse alto patamar não pode ser naturalizado. Diante da inserção de novas variantes em solo nacional, o aumento dos casos diários, a baixa velocidade na vacinação e o relaxamento das medidas de isolamento indicam a possibilidade de recrudescimento do quadro, que tende a ser ainda mais dramático.
Mesmo com esse quadro de calamidade pública, o Governo Bolsonaro continua atuando na contramão da responsabilidade sóciossanitária. Ao longo da pandemia, ele operou uma estratégia institucional deliberada de disseminação do vírus pelo país com o intuito de atingir a tão propagada “imunidade de rebanho”. Ações relevantes de enfrentamento, que deveriam ter sido lideradas pelo governo federal, foram negadas, desconsideradas e/ou sabotadas pelo presidente da república. A ausência de coordenação nacional entre as esferas de governo, negação de vacinas, testes armazenados sem uso, recursos financeiros retidos e minimização do potencial letal da doença são alguns exemplos.
É imprescindível que a responsabilidade pelos casos e mortes evitáveis ocorridos durante a pandemia seja apurada. Considerando o importante papel da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instaurada pelo Senado Federal, na evidência e indicação de punição às pessoas envolvidas no genocídio do povo brasileiro, é fundamental que ela vá até as suas últimas consequências.
Apesar de Bolsonaro e seus aliados, o Sistema Único de Saúde (SUS) desempenhou um papel essencial no enfrentamento à pandemia. O SUS precisa, no entanto, de sua força de trabalho valorizada, recursos materiais adequados para conter a circulação do coronavírus. Precisa de coordenação uniforme, nacional, articulada, testagem em massa, monitoramento de casos e seus contatos e assistência pelas equipes de saúde. Ciência, tecnologia e inovação em saúde para laboratórios públicos, produção de equipamentos, fármacos, vacinas e material de proteção necessitam de investimento. Para isso, será necessário um orçamento suficiente – ao menos 168,7 bilhões, conforme requisitado em petição pelo Conselho Nacional de Saúde, e a revogação da EC 95 – para atender à demanda da população.
No dia 29 de maio, mais de 420 mil pessoas foram às ruas para clamar por vacinas, comida no prato, respeito à vida e Fora Bolsonaro. É nesse espírito de indignação e de esperança que realizaremos no dia 9 de junho (próxima quarta) a 2ª Marcha pela Vida. Será um dia de atividades virtuais promovidas por diversas entidades e organizações, culminando num ato político junto a lideranças políticas, científicas e culturais. Convocamos todos os defensores do SUS e da vida para esse evento de luta e resistência!