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Maria da Glória Teixeira fala dos 40 anos do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFBA

 

São 40 anos de atividades, debates e lutas do campo da Saúde Coletiva bahiana inaugurados com o início das atividades do Mestrado de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina e que compõem o histórico do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (PPGSC-ISC/UFBA).

Para falar dessa trajetória institucional e apresentar a programação comemorativa, a Abrasco entrevista a professora Maria Glória Teixeira (foto abaixo), Coordenadora do Programa, que titulou 314 doutores e quase 800 mestres, entre acadêmicos e profissionais, além de contar com parcerias internacionais com institutos da América Latina, Europa e África.

Abrasco: O PPGSC da UFBA foi criado em 1973 inicialmente com o mestrado em Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina. Da formulação inicial até os dias de hoje, quais pontos permanecem atuais e contribuem para esta continuidade histórica?

Maria Glória Teixeira: A crítica aos movimentos de reforma da saúde já vinham, naquele momento, sendo objeto de discussão ao interior do departamento de Medicina Preventiva da UFBA. A ideia central, à época, era retomar os princípios dos grandes sanitaristas da Medicina Social europeia do século XIX, que se contrapunham ao modelo tradicional da Saúde Pública apoiada nos princípios, práticas e saberes da biomedicina. Assim, o mestrado em Saúde Comunitária nasceu em um ambiente receptivo ao debate, fortemente influenciado por estas ideias, em consonância com o trabalho político e teórico do seu jovem corpo docente, num momento da história do país em que esta prática era proibida e ferozmente combatida.

Ao longo do tempo, o PPGSC-ISC-UFBA consolidou-se conservando em sua trajetória esta marca de se manter como um espaço acadêmico aberto ao debate de ideias, à construção de consensos e ao enfrentamento dos novos desafios contemporâneos, sempre na perspectiva de contribuir, por meio da investigação científica e formação de sujeitos, para a melhoria das condições de saúde da população.

Abrasco: Os primeiros anos do mestrado em Saúde Comunitária foram importantes na formação de profissionais, pesquisadores e professores que assumiriam posições de liderança na construção da reforma sanitária e do SUS. Quais nomes e eventos corroboram esta participação na história da instituição e do campo da saúde coletiva baiana e nacional?

Maria Glória Teixeira: Ao lado das atividades acadêmicas, a maioria dos docentes participava das lutas para redemocratização do país, especialmente dos movimentos específicos do campo da saúde. Por exemplo, a criação do Cebes na Bahia no ano de 1975 foi arquitetada por professores do departamento de Medicina Preventiva, sob a liderança de Jairnilson Paim. Foi intensa também a militância de professores e alunos do mestrado na criação da Abrasco e, não por acaso, Sebastião Loureiro foi presidente desta Associação em 1986, ano da VIII Conferência Nacional de Saúde. Documentos base apresentados nesta conferência histórica, tiveram a participação destes e outros professores, a exemplo de Maurício Barreto, Naomar de Almeida Filho, Eduardo Mota, Carmen Teixeira.

O atual Secretário da Saúde do Estado da Bahia, Jorge Solla, e Luis Eugenio Portela, atual Presidente da Abrasco, são exemplos de ex-discentes do Programa que se destacaram no movimento pela RSB e SUS e que se tornaram lideranças comprometidas com os princípios e diretrizes que deram vida a este movimento.

Abrasco: Em 1995, foi criado o Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, fato que impulsionou a vivência acadêmica e trouxe novos desafios ao corpo docente. Que novidades surgiram com o advento do ISC para o programa e quais foram estes desafios?

Maria Glória Teixeira: O debate iniciado pela comunidade científica durante o III Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva estimulou o conjunto de professores, pesquisadores e técnicos do departamento de Medicina Preventiva para a necessidade de desenvolver espaços específicos para o desenvolvimento técnico e científico do campo da saúde coletiva. Para tal, foi estabelecido um processo estatuinte no interior do Departamento que deu forma a esta nova unidade acadêmica, denominada de Instituto de Saúde Coletiva da UFBA (ISC/UFBA), com modelo de gestão e organização menos burocrático, mais eficiente e produtivo.

Ao ser criado, o ISC/UFBA não se departamentalizou e instituiu os Programas Integrados de Pesquisa e Extensão, liderados por professores ou pesquisadores. Neste espaço, os alunos de Pós- Graduação e PIBIC passaram a ser inseridos e desenvolver seus trabalhos de conclusão, no qual têm a oportunidade de vivenciar cotidianamente no ambiente científico a troca de experiências para além do seu objeto específico de interesse, sob a orientação dos quadros de professores da Pós-graduação. O desafio constante é buscar concretizar nestes espaços a prática da interdisciplinaridade, considerada necessária para constituição de sujeitos qualificados e comprometidos para que atuem na academia ou nos serviços de saúde, na perspectiva de aportar contribuições para resolução de problemas de saúde que afetam a população.

Este desafio estabelece um constante e profícuo debate, intra e inter Programas Integrados, do qual participa toda a comunidade do ISC/UFBA promovidos tanto pela direção como pelo Colegiado do PPGSC. Os resultados e propostas que emergem desses espaços são inscritos nos Planos Diretores que apontam as diretrizes e caminhos do ISC e, consequentemente, também para sua Pós-graduação.

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