Na última segunda-feira (20/08), a epidemiologista e abrasquiana Maria Glória Teixeira participou do programa Participação Popular, na TV Câmara, e falou sobre vacinas. Segundo a professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia ISC/UFBA, é necessário ampliar os horários da sala de vacinação e colocar postos extras na rotina do serviço de saúde. Leia trechos da fala de Glória e assista ao programa:
As questões de horário: muitas mães trabalham, em tempo integral e não podem levar as crianças no dia à dia para os postos de vacinação. Eu defendo que as salas de vacinação e postos volantes estejam disponíveis para a população não só no sábado, muita gente trabalha no sábado – precisa ter também no domingo. As crianças só têm acesso se os pais levarem. Isso é uma questão sistêmica, em todos os municípios. Temos que lutar para o fortalecimento do SUS e para ampliar os horários da sala de vacinação e colocando postos extras na rotina do serviço de saúde.
[…] O sarampo, que está voltando, causou 7 óbitos em 2018 – 5 em crianças menores de 1 ano. Essa doença é muito grave. Não é uma virose comum da infância, é uma doença que traz desnutrição, muitas vezes prejudica seis, sete meses de vida de uma criança ou de um adulto. É debilitante. É necessário que mantenhamos as coberturas bem elevadas porque foi uma conquista da sociedade brasileira nos últimos 30 anos do SUS. Temos que manter e aprimorar. Antes do SUS vacinávamos 4 , 5 imunógenos, hoje vacinamos contra 11 diferentes patógenos, com várias doses. Não vacinamos só crianças, vacinamos adultos, idosos. E isso tem dado impacto. Hoje nós nos preocupamos mais com as Doenças Não Transmissíveis, porque nossa população envelheceu, e a redução das Doenças Imunopreviníveis deu espaço para que nosso Sistema de Saúde cuidasse também das Doenças Não Transmissíveis – como o enfartamento do miocárdio, neurites, Acidente Vascular Cerebral (AVC) . E isso são leitos [ no hospital].
+ Abrasco divulga nota alertando sobre a queda da cobertura vacinal no Brasil
Sarampo, difteria, coqueluche não são viroses comuns de infância, são doenças graves , que precisam de coberturas vacinais elevadas para evitar. O nosso programa nacional de imunizações que atua em todos os municípios ganhou prêmios mundiais como um dos melhores do mundo, se não o melhor. A sociedade brasileira não vai permitir um retrocesso desses, eu tenho certeza disso. Nós vamos continuar lutando para haver cada vez mais redução da mortalidade infantil, e não esse retrocesso que estamos vendo nestes últimos dois anos.
O Brasil precisa ser autossuficiente em imunobiológicos. O brasil produz 70% das vacinas que aplica, mas tem capacidade técnico-científica para produzir 100% de sua necessidade. Temos que ter um plano estável. É necessário que a sociedade lute para que nós possamos ficar autônomos na área de imunobiológico, é uma luta que já avançamos mas tivemos retrocesso com o fechamento de laboratórios técnicos por falta de recurso. Por último, peço para toda população ir aos postos de saúde, para que nós consigamos aumentar coberturas e não tenhamos o retorno de doenças que já foram eliminadas e controladas aqui em nosso país.