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#MariellePresente mobiliza abrasquianos, entidades e intelectuais

Bruno C. Dias

“Meu nome é Marielle Franco. Sou mulher, negra, mãe e cria da favela da Maré. Sou socióloga com mestrado em Administração Pública e acredito que ocupar a política é fundamental para reduzir as desigualdades que nos cercam.” Com essas palavras, Marielle Franco apresentava-se nas reuniões, comícios e atividades nas quais participava, sempre buscando evidenciar que a transformação social só poderá acontecer pela inserção de mulheres, negras, índios, homossexuais, travestis e todos os segmentos historicamente rejeitados, excluídos e sistematicamente assassinados em nosso país. Infelizmente, a máquina de morte e rancor atingiu Marielle, assassinada na noite de 14 de março deste 2018, na zona central do Rio de Janeiro, após ter participado de um evento com ativistas negras. Junto com Marielle, foi morto o motorista Anderson Pedro Gomes.

Foi a violência a que são submetidos os moradores de comunidades e periferias Brasil afora que transformou a jovem da favela da Maré numa lutadora, trazendo-a para a boca da cena política carioca, fluminense e nacional. “Iniciei minha militância em direitos humanos após ingressar no pré-vestibular comunitário e perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo da Maré. Aos 19 anos, me tornei mãe de uma menina. Isso me ajudou a me constituir como lutadora pelos direitos das mulheres e debater esse tema nas favelas”, informa ela no site de seu mandato. Logo em sua primeira campanha como candidata à vereadora, obteve 46.502 votos, sendo a quinta mais votada no pleito, assumindo uma das cadeiras da Câmara do Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Sua figura marcante e a coragem que estampava nos olhos e nas palavras a distinguiam na multidão. Participou de inúmeros eventos do campo da Saúde Coletiva, tanto na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) como no Instituto de Medicina Social (IMS/Uerj), debatendo as relações entre segurança pública, gênero, raça, violência e o espaço urbano do Rio de Janeiro. Sua dissertação de mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF) teve como título “UPP: a redução da favela a três letras”. Junto com demais 18 vereadores, passou a compor a comissão da Câmara Municipal para acompanhar a intervenção federal no Rio, em 28 de fevereiro. Nos últimos dias, vinha denunciando a ação de policiais militares em Acari, zona norte do Rio. “O 41º Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. (…) Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior”, escreveu ela nas redes sociais. “Nós temos lado e somos contra essa intervenção. Já nos posicionamos sobre isso. Sabemos que ela é uma farsa, com objetivos eleitoreiros”, disse em outra postagem dedicada ao tema.

A forma do crime não deixa dúvidas da sua natureza política, numa clara tentativa de calar uma das vozes mais contundentes e aterrorizar a sociedade que questiona e luta por justiça social. A Abrasco, junto com seus dirigentes, associados individuais e institucionais está de luto, se solidariza com a dor da família, de amigos e movimentos aos quais Marielle integrava, e faz coro ao provérbio mexicano que esta líder popular tanto gostava e citava em suas intervenções: “Eles tentaram nos enterrar, não sabiam que éramos semente”. Sejamos sementes de novas Marielles.

Confira abaixo declarações de associados institucionais, individuais e outros intelectuais. Utilize os comentários para expressar sua indignação, apoio, pesar e solidariedade. 

A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP-Fiocruz) lamenta o assassinato da vereadora Marielle Franco. O diretor, Hermano Castro, que esteve no local da execução e acompanhou de perto as primeiras investigações, afirmou que a Escola não se calará diante da arbitrariedade da execução da vereadora e cobrará do poder público a investigação do caso e punição dos assassinos. A ENSP não se abaterá. Seguirá firme na luta pelos direitos humanos, contra o genocídio de pobres e negros e contra o racismo.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca – ENSP-Fiocruz

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV-Fiocruz) se solidariza com todas as mulheres, negras e negros, moradores de favela e vítimas da violência de Estado que hoje perderam Marielle Franco, uma de suas mais incansáveis defensoras. E, junto com ela, o trabalhador Anderson Gomes, que dirigia o carro alvejado. Ocupando agora um mandato de vereadora, Marielle era, desde muito antes, uma militante dos direitos humanos, lutadora que conhecia de perto, na pele, as dores que todos os dias sangram as periferias do Rio de Janeiro. Foi, desde muito antes da sua eleição para a câmara municipal, uma importante parceira desta Escola nos debates contra o racismo e o machismo e, ainda mais, nas lutas contra o genocídio de jovens pobres e negros que, como em tantos outros espaços desta cidade, é também marca do território de Manguinhos, em que a EPSJV/Fiocruz está inserida e com o qual tem compromisso e responsabilidade. A EPSJV/Fiocruz também se junta a todos que esperam uma investigação rigorosa e a punição dos culpados por um crime cujos indícios apontam a forte suspeita de execução. É preciso justiça.

Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio – EPSJV-Fiocruz

O Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ) lamenta com muita tristeza a perda desta grande mulher que morreu por lutar e acreditar numa sociedade mais justa. No ano passado, Marielle participou da mesa “Somos todas clandestinas”, no evento ABORTO: DESAFIOS PARA A PESQUISA E O ATIVISMO”, atividade que comemorou o dia 28 de setembro, que homenageia a luta pela legalização do aborto em toda a América Latina e no Caribe, organizado pelo CLAM/IMS, no dia 4 de outubro 2017 no auditório do Instituto de Medicina Social.

Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – IMS/UERJ

O Programa de Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva (PPGBIOS) vem a público manifestar sua tristeza e indignação com o assassinato da vereadora (PSOL-RJ) Marielle Franco e de seu motorista Anderson Pedro M. Gomes, ocorrido na quarta-feira (14/03), no Estácio, centro do Rio de Janeiro. Esperamos que as motivações e interesses desta ação violenta sejam rapidamente apurados e que os responsáveis sejam punidos. O PPGBIOS se une a todos que lutam pela conquista dos direitos básicos para todos os indivíduos, na defesa de uma vida realizada, onde a voz da “guerreira dos direitos humanos” sempre ressoará. Manifestamos solidariedade e apoio às famílias e amigos de Marielle Franco e de Anderson Gomes.

Programa de Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva (PPGBIOS)

A Abrasco se soma a uma série de outras entidades que protestam contra o assassinato de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro e ativista dos Direitos Humanos, das mulheres e de um país justo e igualitário. Exigimos a apuração imediata do crime e a responsabilização dos envolvidos.

Gastão Wagner – presidente da Abrasco

A Fiocruz está de luto , estamos de luto por todas as mortes injustas, pela morte de Matheus – que trabalhava conosco – estamos de luto pela violência na nossa cidade, no nosso país, pela injustiça. Mas estamos hoje de luto de uma maneira muito forte por Marielle Franco, nossa companheira. […] É um sentimento de luto, de dor, mas também de luta, de ação. Ação de proteção coletiva, ação de dar visibilidade às denúncias, que precisam ter força e ser muitas. […] A gente tem que sentir cada perda dessas como uma morte nossa, como parte de nós que está morrendo. É um pedaço de todos nós. Não há dúvida que no caso da morte de Marielle é um assassinato que tem que ser apurado, temos que nos somar às vozes que exigem apuração. O que se vê na morte de Marielle é uma mensagem para todos nós. Diante dessa mensagem temos que lembrar que , como canta Milton Nascimento, quem cala sobre teu corpo consente na tua morte. Não podemos calar. Quem fala, quem grita, vive contigo, Matheus, Marielle e todas as vítimas da violência.

Nísia Trindade, presidente da Fundação Oswaldo Cruz

Conhecia ela das lutas e atividades realizadas pela UFRJ na Comunidade da Maré, vizinha à nossa universidade. Foi e sempre será uma liderança autêntica, que sempre frisava um lindo provérbio mexicano que diz muito deste momento: |“Eles tentaram nos enterrar, não sabiam que éramos semente”.

Ligia Bahia

Não nos tombarão, Marielle. Dentro da onda de violência e impunidade que marcam o Rio de Janeiro e o país, a morte de uma mulher negra, vereadora do povo, não pode ser mais uma triste notícia no cotidiano dos jornais. A sua morte não pode ser descrita de forma natural, neste cenário de barbárie que cruza as linhas tênues entre a vida e a morte daqueles que soltam suas vozes em defesa de outras vozes. No Rio de Janeiro, matam em silêncio aqueles que anunciam o desprezo pela vida e pagam com a própria vida os gritos do silêncio. Marielle, tombaram uma rosa, mas suas sementes. Estas, não tombarão.

Maria Fátima de Sousa

Indignação! Revolta! Tristeza e pranto!

Ilara Hammerli

Mulher, negra, periférica e lésbica. Candidata entre os cinco vereadores mais votados do município do Rio de Janeiro. Socióloga que ousou pôr no título de sua dissertação de mestrado a frase “UPP: a redução da favela à três letras”. Quando foi indicada para ser relatora da comissão que acompanha a intervenção militar na cidade, foi assassinada. Fica a pergunta: A quem mesmo serve a intervenção no Rio de Janeiro?

Eduarda Cesse

Estou chocada com a morte da Marielle Franco. Acordei com a notícia. Perde o feminismo negro. Perdem as mulheres. Perdem os Diretos Humanos. Perde o Rio. Perde o Brasil. Perdemos todxs. Sem palavras.

Estela Maria Aquino

Minha vereadora assassinada. Em meio à imensa tristeza e dor é preciso dizer: corruptos, canalhas e covardes, mas não nos calarão, jamais!

Guilherme Werneck

O Rio de Janeiro tem sido usado para “dar exemplo” por todos aqueles que se colocaram como donos do Brasil e da cidade do Rio de Janeiro. O assassinato de Marielle Franco significa matar muita, mas muita coisa em nós. É uma morte aviltante de alto impacto simbólico que cancela a vida de uma guerreira admirável, aquela pessoa que a gente queria ver na política, em todos os lugares, o tempo todo. Que a gente queria pra vereadora, para senadora, para deputada, para prefeita e, um dia, para PresidentA.

A morte de Marielle Franco nos atinge afetiva e politicamente. Marielle era uma das pessoas mais admiráveis que conheci e com quem tive a alegria de conviver. Sua morte estarrece quem a amava e mostra a indignidade e abjeção de seus algozes, sacerdotes de um sistema que não quer saber o que é o direito à vida e à cidade. Tudo o que ela representava. Marielle representou o que há de mais digno e sempre foi emocionante em sua luta, em sua trajetória, em seu modo de ser. Seu assassinato é uma prova da abjeção governamental e se insere na política de terror de Estado que atinge a todos. Mas atinge sobretudo o povo da favela, marcado pra morrer. Ela é escolhida nesse momento pelo sistema de opressão para confirmar o genocídio do povo negro. Para silenciar quanto ao lugar das mulheres negras na política. Marielle Franco fazia desse mundo um lugar menos horrível. O Rio de Janeiro nesse momento dá a prova do pior dos horrores de uma política genocida.

Márcia Tiburi

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