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 NOTÍCIAS 

Mário Scheffer e Caio Rosenthal avaliam os rumos do programa brasileiro de combate à Aids

02 de dezembro de 2013


Em homenagem ao dia mundial de combate à Aids, celebrado em 1º de dezembro, o jornal Folha de S.Paulo publicou o artigo Aids no Brasil, oportunidades perdidas, de autoria de Mário Scheffer, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP, e Caio Rosenthal, médico infectologista e membro do Conselho Regional de Medicina de São Paulo. O texto aborda o desenvolvimento das pesquisas no mundo e o quadro no Brasil, que vê o crescimento de casos e descaminhos em seu programa de combate. Leia na íntegra abaixo ou acesse a publicação

É bem possível que muitos de nós ainda estejamos vivos para assistir ao fim da epidemia da Aids. A ciência busca freneticamente uma vacina. Já em teste, drogas menos tóxicas e de efeito prolongado prometem substituir as doses diárias que pacientes tomam por toda a vida.

Ganha força a ideia da cura funcional da Aids, a redução do HIV a um nível tão baixo no organismo ao ponto de o sistema imunitário assumir o controle da infecção, mesmo sem medicamentos.

Hoje, quem faz o teste, descobre que tem HIV e recebe o tratamento pode também prevenir a transmissão a parceiros, assim como já é possível o uso controlado de antirretrovirais antes ou depois do sexo sem proteção, uma alternativa para pessoas soronegativas expostas. Se combinadas com a massificação do uso de preservativos, essas estratégias fariam cair drasticamente o número de infectados e de mortes.

Nos últimos anos, no entanto, o Brasil não só perdeu essas oportunidades como imprimiu retrocessos no seu outrora respeitável programa de combate à Aids. Por falta de campanhas adequadas, o uso de preservativos só diminui. Desde 2006, as taxas de mortalidade voltam a crescer e, em algumas regiões, superam as da década de 1980. Trinta mortes e cem novos casos são registrados todos os dias no país.

Por desconhecerem que estão infectados e por iniciarem tardiamente o tratamento, muitos morrem logo no primeiro ano do diagnóstico. Outros esperam meses entre o teste positivo e a primeira consulta em serviços lotados e sem médicos.

Recente diretriz nacional que antecipa o começo do tratamento da Aids prevê o deslocamento de milhares de novos pacientes para as unidades básicas de saúde, que não estão preparadas para um atendimento que exige experiência e especialização. A oferta antecipada de medicamentos depende também do diagnóstico precoce. Infelizmente, as iniciativas de testagem do HIV buscam holofotes, do Carnaval ao Rock in Rio, mas deixam de identificar novos casos. Os mais atingidos pela epidemia seguem sem acesso ao teste.

Trunfo do Brasil no passado, que chegou a quebrar a patente de um medicamento, a produção local de genéricos estagnou. Até hoje laboratórios nacionais não fabricaram a prometida dose fixa combinada, que junta três remédios antiaids em um único comprimido, o que facilita a adesão ao tratamento.

No ritmo da incompetência, ministro e secretários da Saúde deveriam ser processados a cada caso de criança que nasce com HIV, um flagelo perfeitamente eliminável. Erráticos, os dados oficiais apostaram que a Aids avançaria em direção aos heterossexuais, às pessoas de baixa renda e ao interior do país. Concentrada nas áreas urbanas, a verdade é que a epidemia ressurge com força total entre os homossexuais e outras populações negligenciadas.

Costuras eleitorais permitem o triunfo do moralismo e da religião sobre a saúde pública. Campanhas dirigidas aos mais vulneráveis são censuradas, afastando a ação governamental da epidemia real.

Sem mais investimentos federais no SUS, sem liderança que retome o diálogo e a mobilização social, o Brasil ficará de fora da marcha mundial para o fim da Aids.

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