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Moyses Szklo ministra Conferência Magna Ruy Laurenti

Erneilton Lacerda

“A transferência de novos conhecimentos obtidos a partir de estudos epidemiológicos ao planejamento de programas de políticas de controle de enfermidades tanto a nível individual quanto a nível populacional.” A definição de epidemiologia translacional foi dada por Moyses Szklo, professor da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, na Conferência Magna do 11º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva , o Abrascão 2015, realizada nesta quarta-feira (29). A Conferência, que prestou homenagem ao professor Ruy Laurenti, teve como tema Epidemiologia Translacional: Desafios Semânticos e Outros e foi coordenada pelo professor Maurício Barreto, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Confira aqui a apresentação do professor Szklo

Moyses Szklo, considerado o pioneiro da epidemiologia brasileira, definiu John Snow como o pai da epidemiologia translacional. De acordo com o pesquisador, Snow realizou o primeiro estudo de epidemiologia ao investigar a Cólera em Londres em meados do século XIX e descobrir que a causa de uma epidemia da doença era a água fornecida por uma das companhias abastecedoras da capital inglesa. “O processo da epidemiologia translacional é a tradução de conhecimento epidemiológico que começa por evidências, que são os resultados dos estudos. Idealmente, essas evidências são sumarizadas através de uma revisão sistemática e, às vezes, decisões têm de ser tomadas baseadas em único estudo sobre determinado tema”, comentou Szklo. “As evidências frequentemente se chocam com obstáculos de natureza ética e política e do ponto de vista dos recursos”, ponderou.

Porém, a tradução de conhecimento não é uma ciência exata. Daí o desafio dos pesquisadores, segundo Szklo. “Existe um lado subjetivo. Temos que derivar inferências dos dados objetivos”, constatou o professor, que apresentou “níveis de tradução”: o mais alto, A, representa um forte grau de certeza de que o benefício é substancial; abaixo, nível B, o benefício é moderado – nesse caso, deve ser implementado o programa, a intervenção ou a política.Já o nível C, onde há um grau de certeza forte ou moderado de que o benefício é pequeno, a intervenção, programa ou política deve ser implementada, mas, talvez, a decisão deve ser feita a nível individual, e não populacional; o nível D apresenta um grau de certeza forte ou moderado de que não há benefício ou que o dano é maior que o benefício. O último nível da escala aponta o quadro no qual a evidência não existe ou é inconsistente ou de baixa qualidade. “Por exemplo, quando ela é baseada na opinião de especialistas sem base em estudos epidemiológicos. Nesse caso, se a intervenção for implementada, os indivíduos devem saber que a sua efetividade é duvidosa”, explanou o conferencista.

+ Leia a entrevista exclusiva de Moyses Szklo à Abrasco

Em sua fala, Moyses Szklo explicou que a epidemiologia translacional se confunde com a definição de epidemiologia e seus dois componentes: estudo das distribuições determinantes dos estados de saúde ou eventos relacionados à saúde em populações e a aplicação do resultado desses estudos ao controle dos problemas de saúde nessas populações. “A ponte entre esses dois componentes é a epidemiologia translacional.” Para finalizar, Szklo diferenciou a epidemiologia translacional da acadêmica. “Enquanto o objetivo da primeira é aplicação de conhecimento, o da segunda é o estudo da etiologia e os mecanismos de doença. A translacional avalia a efetividade; a acadêmica, a eficácia”, exemplificou.

Homenagem a Ruy Laurenti – Ao agradecer o convite da Associação Brasileira de Saúde Coletiva para coordenar a Conferência Magna, Maurício Barreto disse ser justa a homenagem a Ruy Laurenti, falecido em 12 de junho deste ano. “Ruy foi um grande professor, sanitarista e epidemiologista. A maioria de nós o conhecemos pessoalmente ou por referência. Ele deixou um legado intelectual marcante para a história da Saúde Coletiva Brasileira”, salientou. “Moyses, além de um grande pesquisador, é um excelente professor que usa conceitos aparentemente complexos em benefício da Saúde Coletiva. O Ruy Laurenti deve estar feliz em ter tido a presença do Moyses na conferência em seu nome”, opinou Barreto.

Uma apresentação em vídeo mostrou a história resumida de Ruy Laurenti ao público presente no Centro de Eventos da Universidade Federal de Goiás. Logo depois, Márcia Furquim, aluna e colega de Laurenti e editora da Revista Brasileira de Epidemiologia (RBE), da Abrasco, também fez questão de homenagear o epidemiologista. “O Ruy foi uma pessoa que, por mais ocupado que estivesse, sempre encontrava um tempo para conversar com os alunos e tinha uma imensa curiosidade no que as pessoas estavam trabalhando. Ele sempre deu enorme incentivo ao uso dos dados secundários em Saúde”, testemunhou ela, que acrescentou: “Ele foi muito importante na criação do sistema de informação de mortalidade neste país, ao introduzir a declaração de óbito de forma padronizada nacionalmente”. Furquim encerrou dizendo que Laurenti contribuiu decisivamente na avaliação das condições de saúde e o desempenho dos serviços de saúde brasileiros.

Convidado de honra do 11º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, Moyses Szklo afirmou que conheceu bem Ruy Laurenti:  “Interagimos por anos e ele sempre me recebeu com muito carinho. Fiquei muito honrado com esse convite para fazer parte dessa homenagem ao Ruy Laurenti”.

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