Os problemas decorrentes das mudanças climáticas afetam de modo desigual todas as regiões do mundo. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) em seu relatório dos impactos, adaptações e vulnerabilidades, publicado em 2022, sinaliza que os maiores efeitos das mudanças climáticas na América do Sul e Central são referentes à insegurança hídrica.
O Brasil vem sofrendo, de forma recorrente e com maior intensidade, eventos climáticos e hidrológicos extremos. Inundações e desmoronamentos cada vez mais devastadores e estiagens mais prolongadas trazem mais sofrimentos, agravos à saúde, mortes, perdas econômicas e danos ambientais.
Chuvas torrenciais recentes, decorrentes de eventos climáticos extremos, como as observadas em novembro de 2022, afetaram com maior intensidade as regiões Nordeste, Norte, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, leste de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Em 2021, no Amazonas, 82% de seus municípios foram afetados pelas cheias. O nível do Rio Negro em Manaus alcançou 30 metros e se constituiu na maior cheia registrada desde 1902, afetando 455 mil pessoas. A Amazônia também sofre de modo dramático a insegurança hídrica decorrente da contaminação das águas com o mercúrio oriundo do garimpo ilegal. Os povos indígenas e ribeirinhos, além das populações das periferias das cidades, têm sido contaminadas.
Em escala nacional, o desmatamento nos biomas, os processos de degradação dos solos, da poluição atmosférica e hídrica, comprometem as bacias hidrográficas fundamentais para o consumo humano, ampliando os danos à saúde. A insegurança hídrica tem estreita relação com a insegurança alimentar, com uma parcela expressiva da população brasileira que tem fome e sede simultaneamente, de acordo com relatório da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSANN), publicado em 2022. O déficit de saneamento torna ainda mais vulnerabilizadas as populações do campo, da floresta, das águas, das favelas, dos bairros populares e das periferias urbanas às mudanças climáticas.
Todas essas nefastas contingências incidem sobre um contexto altamente vulnerabilizado que afeta a saúde humana e a vida em todos os biomas e de forma devastadora na Amazônia.
Hoje não há mais dúvidas de que a proteção e conservação da natureza são fundamentais para superar as desigualdades e iniquidades sociais. A natureza/ambiente precisa finalmente estar presente em todas as políticas públicas e, em especial, nas de saúde, produção, educação e ciência & tecnologia, para construção da sustentabilidade do desenvolvimento humano.
Considerando a complexidade, a transversalidade e as iniquidades com que as mudanças climáticas afetam territórios e populações, a Abrasco reconhece como fundamental que as políticas públicas definitivamente assumam ações de prevenção, mitigação e adaptação de modo intersetorial e participativo, nas quais a saúde seja o elo estratégico no enfrentamento dos problemas relacionados à emergência climática em sua integralidade.