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Não foi acidente – artigo de Fernando Carneiro

Vilma Reis

Ato e seminário relembram um ano da tragédia de Mariana

Fernando Ferreira Carneiro, membro do Grupo Temático Saúde e Ambiente da Abrasco, Observatório de Saúde das Populações do Campo, Floresta e das Águas – Teia de Saberes e Práticas e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz – Ceará aborda neste artigo os números por trás do lucro da Vale e a diminuição de investimentos da mineradora em segurança e saúde. O rompimento da barragem da mineradora Vale aconteceu no passado 25 de janeiro, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte –  quando um mar de lama destruiu a região do Córrego do Feijão. Até agora chega a 171 o número de pessoas mortas por conta do rompimento da barragem; 139 pessoas são consideradas desaparecidas. Confira o artigo:

A Vale é uma das maiores empresas de mineração do mundo, e nos últimos 5 anos responsável pela maior tragédia crime ambiental e de saúde do trabalhador do Brasil. Criada por Getúlio Vargas em 1946 iniciou-se com a nacionalização da exploração mineral na região de Itabira, Minas Gerais.

Em 1997 foi privatizada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso por 3,3 bilhões de dólares, valor questionado na época por não incluir suas reservas minerais estimadas em mais de 100 bilhões de dólares. Nessa época perdeu o Rio Doce do nome… e se transformou em Vale. Tempos depois – literalmente quase acabou com o Rio Doce.

Segundo os economistas Beluzzo e Sarti a empresa distribuiu aproximadamente 66% do lucro líquido acumulado para os seus acionistas entre 2008 e 2017. Cabe destacar que o limite mínimo obrigatório a ser distribuído é de 25%, conforme aponta o Formulário de Referência 2018 da empresa.

Em relação aos investimentos em operações, quando são desagregados, observa-se que os gastos em “pilhas e barragens de rejeitos” foram reduzidos pela metade entre 2014 e 2017 (US$ 474 milhões para US$ 202 milhões). O mesmo ocorreu com os gastos em “saúde e segurança” (US$ 359 milhões para US$ 207 milhões).

Apenas os investimentos nas áreas “social e proteção ambiental” mantiveram-se relativamente constantes no patamar de US$ 250 milhões, apesar da tragédia crime ambiental do rompimento da barragem de Mariana em novembro de 2015.

As imagens de uma barragem se desmanchando gerando um tsunami de lama de mais de 80 km por hora que chegou a 10 metros de altura em menos de um minuto engolindo o refeitório e a área administrativa da empresa mostra que seria humanamente impossível que qualquer plano de fuga desse certo. É uma questão de lógica e bom senso. A estrutura administrativa da Vale não poderia estar nesse lugar.

Fica evidente que a nova tragédia de Brumadinho poderia ter sido evitada poupando dezenas de vidas, se maiores investimentos em manutenção e segurança das barragens de rejeitos tivessem sido realizados. Não podemos chamar de acidente ou incidente. Ocorreu negligência por parte da Vale, diminuição de investimentos em segurança e saúde e por isso ela deve ser cobrada em toda sua responsabilidade pela sociedade brasileira.

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