A imprensa mundial está repercutindo o número recorde de mulheres, gays e outras minorias que conquistaram um poder político importante nestas eleições intermediárias dos Estados Unidos. “A reação começou oficialmente”, disse o analista político de Washington, David Richardson. “O que vem crescendo desde que Trump assumiu o cargo foi mostrado nas pesquisas. Áreas de descontentamento, a saber, gays, mulheres e minorias, ganharam terreno significativo como resultado de indignação nacional” evidenciou o jornalista Peter Mertz na reportagem Direitos das mulheres, gays e minorias avançaram nos EUA em 2018.
Beatriz Bulla, correspondente em Washington de’O Estado de São Paulo publicou As eleitoras democratas reapareceram onde entrevista Rachel Bitecofer, cientista política da Christopher Newport University que previu a vitória democrata em região estratégica na Virgínia e afirma que quando se sentem ameaçadas, as pessoas se mobilizam “A vitória de Trump em 2016 estimulou mulheres. A evidência disso é vista no surgimento de movimentos femininos de base, no recorde de mulheres candidatas, nos movimentos como o “Women’s March”. São mulheres que pensavam o mundo de uma forma e, a partir de 2016, viram ir embora ilusões que as mantinham confortáveis”
Embora os resultados finais das eleições demorem mais dias para serem tabelados, a partir de quarta-feira, a CNN projetou 96 mulheres para as cadeiras da Câmara, com 31 mulheres recém-eleitas e 65 mulheres reeleitas, superando o recorde anterior de 85 representantes, segundo o Serviço de Pesquisa do Congresso. “Um número recorde de mulheres ganhou assentos na Câmara dos Representantes ou na Câmara dos EUA na terça-feira, em uma noite maciça para candidatas do sexo feminino em todo o espectro político. A terça-feira viu as duas primeiras mulheres nativas americanas eleitas para o Congresso – Sharice Davids e Deb Haaland, do Kansas e Novo México – ambas disputando pelos democratas. Davids é membro da Nação Ho-Chunk e Haaland é membro inscrito do Pueblo de Laguna, de acordo com suas respectivas campanhas. Davids se identifica como uma lésbica, fazendo dela também o primeiro membro abertamente LGBT do Congresso do Kansas.’Trump confiscar terras sagradas indianas e fazer declarações encorajadoras sobre grupos nacionalistas brancos nos ajudou a nos energizar’, disse Loni Keppa, um membro da nação Sioux em Dakota do Sul, “Eu não acho que você encontrará muitos nativos americanos que apoiam o Trump “, diz a reportagem.
Apesar da antipatia aberta de Trump contra os muçulmanos e suas restrições à imigração de pessoas de países muçulmanos, as democratas Rashida Tlaib e Ilhan Omar, do Partido Trabalhista Democrata-Camponês de Minnesota, se tornarão as primeiras mulheres muçulmanas no Congresso. Omar, além de ser uma das primeiras mulheres muçulmanas no Congresso, é também o primeiro membro somali-americano. Ela veio para a América há duas décadas como refugiada. Embora os resultados finais não sejam esperados até este fim de semana, o Arizona tem a garantia de eleger sua primeira senadora, com a democrata Kyrsten Sinema e a republicana Martha McSally encerrando a corrida, com a republicana liderando por 49,4% a 48,4% dos votos.
E no Texas, os eleitores elegeram as duas primeiras mulheres hispânicas do estado para o Congresso, quando Veronica Escobar ganhou o assento para substituir o deputado Beto O’Rourke no distrito do Congresso perto de El Paso. Na vizinha Houston, outra latina, a senadora estadual Sylvia Garcia, ganhou uma cadeira no Congresso, que foi deixada livre pelo deputado democrata Gene Green.
O Estadão perguntou para a cientista política Rachel Bitecofer Como os subúrbios se tornaram democratas? – “Identifiquei distritos de Virgínia como passíveis de mudar o voto, em julho, em razão da população com diploma nos subúrbios. O mais comum é dizer que eleitores que votaram em republicanos antes estariam escolhendo agora por democratas. Até há alguns desses. Mas o predominante é que mulheres que tendiam mais para os democratas, mas não tinham expressiva participação em eleições legislativas, apareceram. A vitória de Trump em 2016 estimulou essas mulheres. A evidência disso é vista no surgimento de movimentos femininos de base, no recorde de mulheres candidatas, nos movimentos como o “Women’s March”. São mulheres que pensavam o mundo de uma forma e, a partir de 2016, viram ir embora ilusões que as mantinham confortáveis. Quando as pessoas se sentem ameaçadas, elas se mobilizam”
Que tipo de ilusão mantinha essas mulheres à margem da participação? “Elas tinham a ilusão de que estavam numa América pós-racial, pós-misógina, que mulheres já tinham garantido seu espaço. Mas o que acontece após a vitória de Trump as faz repensar. A eleição de Trump torna a política muito pessoal”.
Peter Mertz conta que um século atrás, o Colorado era um reduto da Ku Klux Klan e, em 1992, foi apelidado de “estado de ódio” depois que os eleitores aprovaram a proibição de leis municipais anti-discriminação para proteger os gays. Em 1996, a Suprema Corte dos EUA derrubou a lei como inconstitucional e o Colorado tem visto um influxo constante de jovens millennials educados desde então, que pesaram a balança em favor dos democratas. “O Colorado está mudando”, disse Alex Mendel, estudante da Universidade do Colorado, na quarta-feira. “Nós representamos a nova América – jovens profissionais que aceitam os outros e são politicamente conscientes e ativos. É desnecessário dizer que o estado está oscilando para a esquerda nos dias de hoje”, disse ele à Xinhua. O Colorado foi vencido na eleição presidencial de 2016 pela candidata democrata Hillary Clinton. “Somos um estado inclusivo”, disse Jared Polis em seu discurso de vitória na quarta-feira. Ele é o primeiro governador abertamente gay a ser eleito na história dos Estados Unidos. “Esta noite, aqui no Colorado, nós provamos que somos um estado inclusivo que valoriza cada contribuição”, disse ele à mídia após a decisiva vitória por 7 pontos de vantagem.