Qualquer pessoa pode se afirmar como bissexual seja qual for a sua identidade de gênero: pessoas cis ou trans, homens, mulheres, não-bináries… O que vai definir a bissexualidade é a atração afetiva e/ou sexual por pessoas de diversos gêneros. Expressamos uma dissidência ao monossexismo, ou seja, ao padrão social que privilegia pessoas monossexuais (heterossexuais, lésbicas e gays) em detrimento de bissexuais.
O apagamento dessa orientação sexual origina uma série de preconceitos/discriminações que estão presentes, também, nos serviços de saúde. O fato de não perguntar a orientação sexual, de sempre pressupor uma monossexualidade, cria uma barreira para a produção de cuidado em saúde que nos contemple de maneira integral.
Desde o ano 1999, na data de 23 de setembro celebramos a nossa visibilidade, afirmamos as nossas existências, enfrentamos a bifobia (tipo de discriminação/preconceito que as pessoas bissexuais sofrem devido à sua orientação sexual) e lutamos por políticas públicas que nos contemplem. No caso da saúde, reafirmamos a importância da implementação efetiva da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
No ano 2021, a Frente Bissexual Brasileira, composta por um conjunto de entidades e ativistas de todo o país, lançou o Manifesto Bissexual Brasileiro . Citamos aqui um parágrafo que é elucidativo de algumas inequidades que nos afetam:
“A violência bifóbica tem muitas formas. A bifobia faz com que seja ainda mais difícil e exaustivo sairmos do armário para as pessoas importantes das nossas vidas, em locais de trabalho, de estudo, mais ainda no ambiente familiar. Nossos índices de saúde mental e uso abusivo de álcool e outras drogas são extremamente preocupantes. Somos suscetíveis a violência conjugal e sexual com mais frequência. Repetidamente pessoas bissexuais são rotuladas de forma bifóbica como vetores de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Há uma associação da bissexualidade com comportamentos patológicos que nos torna “objeto de correção” em consultórios psicológicos e médicos. O número de tentativas de suicídio de bissexuais é tão alto que ignorá-lo contribui para nossa morte. É inaceitável a existência do estupro corretivo, que vitima predominantemente mulheres negras, e que acontece sob o pretexto de correção da sexualidade por meio da prática de violência sexual contra quem não está dentro da cis e/ou heterossexualidade.”
(MANIFESTO BISSEXUAL BRASILEIRO, 2021)
Cabe destacar que é necessário expandir as pesquisas e ações em saúde coletiva que contemplem singularidades e demandas para a produção de cuidado integral e garantia de direitos LGBTI+.
*Laura Cecilia López. Mulher cis bissexual. Antropóloga, docente e pesquisadora na área da saúde coletiva. Membra do GT Saúde da População LGBTI+ da Abrasco.