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Nosso adeus a José Rodrigues Coura

Bruno C. Dias, con informações da ABC e da SBMT

José Rodrigues Coura – Foto:Gutemberg Brito/ASFOC

A ciência brasileira se despede de José Rodrigues Coura, um dos sistematizadores da Medicina Tropical brasileira. Coura faleceu na manhã desse sábado, 3 de abril, e deixa um grande legado para o conhecimento em saúde.

Paraibano de Taperoá, sertão da Paraíba, nascido em 15 de Junho de 1927, mudou-se para o Rio de Janeiro para cursar medicina na então Universidade do Brasil (atual Federal do Rio de Janeiro -UFRJ). Formou-se em 1958, e um pouco depois ingressou como instrutor de ensino na mesma faculdade, em 1960. Na sequência fez especialização em clínica médica e se interessou pelas doenças infecciosas e parasitárias, cursando especialização nesta temática em 1964, em Londres. Retornou do exterior para fazer a livre docência e doutorado na mesma área de pesquisa, na já UFRJ, no ano seguinte, passando a compor o corpo docente da Faculdade de Medicina da mesma Universidade até 1996, quando se aposentou voluntariamente. Fez pós-doutorado no NIH, nos Estados Unidos, em 1986.

Em paralelo, Coura ingressou no Instituto Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), instituição na qual foi chefe do Laboratório de Doenças Parasitárias; diretor do Instituto por dois mandatos (1979-1985 e 1997-2001) e vice-presidente de Pesquisa. Também foi docente da Faculdades de medicina da Universidade Federal Fluminense e dFaculdade de Medicina de Campos, no estado do Rio de Janeiro.

Nas áreas do ensino e da pesquisa foi responsável pela organização de dois cursos de pós-graduação Stricto sensu. O primeiro, em doenças infecciosas e parasitárias, na UFRJ, em 1970, foi pioneiro na área médica a alcançar o conceito A pelo Sistema Capes/CNPq . Quando esteve em sua primeira gestão à frente do IOC/Fiocruz, criou o programa de pós-graduação em Medicina Tropical, em 1980. Das duas instituições as quais dedicou a vida, alcançou grau máximo de reconhecimento: obteve em vida os títulos de professor emérito da Faculdade de Medicina da UFRJ, e de pesquisador emérito da Fundação Oswaldo Cruz.

Foi um dos grandes publicadores da ciência nacional, com 279 trabalhos em revistas nacionais e internacionais, com uma média de 4,8 trabalhos/ano entre 1961 a 2020, sem contar as centenas de resumos de trabalhos apresentados em congressos e reuniões científicas. Contribuiu com 57 capítulos em livros de sua especialidade e publicou nove obras completas, dentre as quais “Dinâmica das Doenças Infeciosas e Parasitárias”, título vencedor do Prêmio Jabuti 2006, da Câmara Brasileira do Livro. No campo da edição científica, liderou a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical durante 12 anos e a Memórias do Instituto Oswaldo Cruz por dez anos.

A Medicina Tropical foi seu campo de dedicação. Coura foi membro fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) da qual foi presidente de 1973 a 1975, e também membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC). O reconhecimento extrapolou as associações da ciência. Coura ganhou a insignia de comendador (2002) e de membro Grã Cruz (2008) da Ordem do Mérito Científico da Presidência da República do Brasil. Em 2013, foi agraciado com o Prêmio Conrado Wessel de personalidade da Medicina e, em 2014, com a Comenda Sérgio Arouca do Conselho Federal de Medicina (CFM).

“Vale destacar que Coura foi um construtor de instituições. O Pavilhão Carlos Chagas, berço de muitos tropicalistas importantes, foi obra essencialmente sua. Mesmo que um conservador nos assuntos políticos, jamais tolerou a violência e a perseguição realizada pelos militares no período da ditadura”, aponta Reinaldo Guimarães, vice-presidente da Abrasco.

Também vice-presidente da Abrasco e integrante da diretoria da SBMT, Guilherme Werneck destaca a paixão de Coura pela ciência. “Coura é um ícone da Medicina Tropical, um pesquisador apaixonado, dedicado ao povo e a seus alunos. Esta é uma perda inestimável para a ciência brasileira, para a legião de alunos, colaboradores, amigos e familiares. Para além do pesquisador, também o homem simples, brilhante e veemente, que não aceitava a falta de vontade politica para o enfrentamento das doenças tropicais negligenciadas. Foi uma honra tê-lo conhecido e desfrutado de sua experiência, palavras de apoio, afeto e amizade”.

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