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Nota biográfica sobre a profª Elza Berquó

Márcia Furquim*

Elza Salvatori Berquó é demógrafa e PhD em Bioestatística pela Columbia University. Iniciou a vida acadêmica como bacharel em matemática pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP) e fez mestrado e livre docência na Universidade de São Paulo (USP), onde foi professora catedrática de Estatística Aplicada à Saúde Pública na Faculdade de Saúde Pública. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências, recebeu a Grã­Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico da Presidência da República, foi condecorada com a Medalha de Mérito da Fundação Joaquim Nabuco, e é Pesquisadora Emérita do CNPq.

Na década de 1960, fundou o Centro de Estudos de Dinâmica Populacional (Cedip), instalado no Departamento de Estatística Aplicada da então Faculdade de Higiene e Saúde Pública, hoje Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública. O Cedip foi concebido como um centro multidisciplinar que tinha como objetivo a realização de pesquisas, atividades didáticas e assessoria. O Centro contou com o apoio financeiro da OPAS, para sua criação e funcionamento por cinco anos, que ofereceu bolsas de estudos para formação no exterior de diversos membros da equipe, entre os quais Paul Singer, Neide Lopes Patarra, Cândido Procópio Ferreira de Camargo, Jair Lício Ferreira Santos e João Yunes. O Cedip foi o primeiro centro do gênero no país, sendo responsável pela introdução do ensino formal de demografia, com o primeiro curso de especialização, em 1966. Ele formou aquela que seria a primeira geração de pesquisadores em demografia no Brasil. Este grupo liderado pela professora Elza iniciou a inovadora Pesquisa Nacional de Reprodução Humana, um levantamento de base domiciliar no município de São Paulo, que investigou os modos de produção e a sua influência no comportamento reprodutivo individual.

Em 1968, a Universidade de São Paulo foi duramente atingida pelo Ato Institucional Nº5, com a aposentadoria compulsória de vários docentes, entre eles a professora Elza Berquó e os professores Paul Singer e Luiz Rey da Faculdade de Saúde Pública. A aposentadoria compulsória destes docentes comprometeu o promissor projeto de formação de recursos humanos e de pesquisa na área de demografia e estatística na Faculdade.

Para dar continuidade às suas atividades de pesquisa, a professora Elza juntamente com outros docentes aposentados compulsoriamente da USP fundaram o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), em 1969, onde a professora coordenou a área de População e Sociedade e exerceu atividades de direção. A constituição desse Centro viabilizou, entre outras, a conclusão da Pesquisa Nacional de Reprodução Humana iniciada na Faculdade, e o desenvolvimento, sob a coordenação de Elza Berquó, de inúmeras pesquisas inovadoras em demografia e saúde.

A área de demografia que, até então, era incipiente no país, se consolida e, em 1977, a professora Elza é uma das fundadoras da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP), da qual foi presidente e tem ativa participação. Também é membro da International Union for the Scientific Study of Population, da Population Association of Americas e da Associación Latinoamericana de Población.

Com a lei da Anistia em 1979, a USP abre a possibilidade de retorno às atividades dos professores aposentados compulsoriamente, entretanto como este retorno não teve unanimidade na congregação da FSPUSP, a professora Elza Berquó decide então permanecer no Cebrap.

Em 1982, retoma sua vida acadêmica na Universidade Estadual de Campinas como uma das fundadoras do Nepo (Núcleo de Estudos Populacionais), que recentemente teve sua denominação alterada para Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó”. Ainda hoje atua nesse Núcleo como Membro dos Conselhos Técnico Científico e Superior.

A produção científica da professora Elza é vasta e sempre contou com parcerias nacionais e internacionais. Ela se destaca pela incorporação de temáticas inovadoras na área de demografia e saúde pública, tais como: a introdução da concepção de gênero e da sexualidade em estudos de população; saúde reprodutiva da mulher negra no Brasil; a violência de gênero e raça presentes na sociedade brasileira; cenários da reprodução no Brasil; estudo do impacto da legislação brasileira sobre a esterilização voluntária de mulheres na idade reprodutiva, entre outras.

Entre as pesquisas que coordenou, destacam-se: Estudo Multicêntrico da Morbi-Mortalidade Feminina no Brasil, Saúde Reprodutiva da Mulher Negra, Comportamento Sexual da População Brasileira e Percepções do HIV/Aids, Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS 2006) e Avaliação do Programa Nacional de Assistência Integral à Saúde da Mulher e Planejamento Familiar. Atualmente, coordena a pesquisa Cenários da Reprodução no Brasil: adiamento, espaçamento e encerramento.

Destacou-se também na formação de pesquisadores. No Cebrap criou o inovador programa para formação de pesquisadoras negras no país. Em reconhecimento ao seu trabalho em prol da formação de jovens pesquisadores, recebeu homenagem do Fundo de População das Nações Unidas – FNUAP.

A contribuição da professora Elza Berquó, entretanto, não se restringiu apenas à produção de conhecimento. Participou do Comitê Assessor do Programa do Fundo de População das Nações Unidas para o Brasil; da Comissão Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde; da Comissão Nacional de Morte Materna do Ministério da Saúde, entre outros. Presidiu ainda a Comissão Nacional de População e Desenvolvimento. Participou também das Comissões Consultivas dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010, da Fundação IBGE. É membro do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho Nacional de Determinantes Sociais da Saúde.

Em reconhecimento a sua contribuição acadêmica na área de saúde pública, a Congregação da Faculdade de Saúde Pública, no dia 27/03/2014, aprovou por unanimidade a entrega do título de Professora Emérita da Faculdade de Saúde Pública à professora Elza Berquó. Esse ato, além de reconhecer sua contribuição científica, também pretende resgatar o elo da Faculdade de Saúde Pública com um de suas mais ilustres professoras.

* Marcia Furquim é livre docente da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), associada ao Departamento de Epidemiologia e editora cientifica da Revista Brasileira de Epidemiologia, editada pela Abrasco

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