A Associação Brasileira de Saúde Coletiva recebeu, com tristeza e indignação, a notícia do assassinato de Marcus Vinicius de Oliveira, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia, defensor dos direitos humanos e militante das causas sociais.
Marcus Vinícius, também conhecido como Marcus Matraga, foi vítima de homicídio, no município de Salinas das Margaridas, em função de sua atividade política na mediação de conflitos de terras indígenas. Ele foi sequestrado por dois homens armados em casa e levado até uma estrada do povoado, onde foi morto com um tiro na cabeça.
Manifestamos a nossa profunda preocupação com os casos de assassinatos, agressões e expulsões relacionados aos conflitos por terras indígenas na Bahia e, por fim, exigimos que o Ministério da Justiça atue na apuração desse crime político.
A Nota de Pesar da Abrasco foi enviada nesta sexta-feira, 5 de fevereiro, ao Ministro de Estado da Justiça, Dr. José Eduardo Cardozo, como pedido para a apuração na morte de Marcus Vinicius.
Nascido em Minas Gerais, tinha mestrado em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia, onde se aposentou mais tarde, como professor, e doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Marcus foi um dos pioneiros na luta pela reforma antimanicomial e criação dos Centros de Atenção Psicossocial, os Caps. Graduado em Psicologia pela Fundação Mineira de Educação e Cultura (1982), Mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia (1995) e Doutor em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2003). Era professor associado aposentado do IPS – Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia, coordenador do LEV-Laboratório de Estudos Vinculares e Saúde Mental IPSI-UFBA, diretor do Instituto Silvia Lane-Psicologia e Compromisso Social, consultor eventual da área Técnica de Saúde Mental do Ministério da Saúde, integrante do NESM – Núcleo de Estudos Pela Superação dos Manicômios.
Marcus formou gerações de psicólogos, realizou e participou de importantes pesquisas na área. Atuou em gestões do Conselho Federal de Psicologia.
Com outros companheiros, fundou o movimento Cuidar da Profissão, que trouxe a preocupação e compromisso com os dilemas e problemas da realidade brasileira e de nossa gente. O compromisso social da Psicologia passou a orientar discursos e práticas profissionais e de formação.
Em nota, o Conselho Federal de Psicologia destacou o caráter de Matraga como defensor incansável dos direitos humanos e militante da reforma psiquiátrica e da saúde mental no Brasil. Era entusiasta da Clínica das Psicoses e ferrenho estudioso das desigualdades sociais e subjetividade.
Marcus Vinícius participou ativamente da consolidação da Psicologia no Brasil, tendo integrado o Conselho Federal de Psicologia nas gestões de 1988 – 1989, 1992 – 1995, 1997 – 1998, 1998-2001 e 2004 – 2007. Também esteve em gestões dos conselhos regionais de Minas Gerais e Bahia. Foi coordenador do Centro de Referências em Políticas Públicas – CREPOP – entre os anos de 2004 e 2007. No Conselho Nacional de Saúde participou da Comissão Nacional de Saúde Mental, como representante do FENTAS – Fórum Nacional de Trabalhadores de Saúde. Foi, ainda, integrante da Comissão Nacional de Reforma Psiquiátrica de 1994 a 1997.