POSICIONAMENTO ABRASCO 

Nota de posicionamento: pela inclusão dos agrotóxicos nas avaliações da IARC

Comunicação Abrasco

A  Sociedade Internacional de Epidemiologia Ambiental – International Society for Environmental Epidemiology (ISEE) – enviou recentemente uma carta da dirigida ao Conselho Diretor da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer – International Agency for Research on Cancer – (IARC), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), conclamando-os a incluir agrotóxicos na sua próxima avaliação do Programa de Monografias. É sabido que a IARC não realizou nenhuma avaliação de carcinogenicidade de agrotóxicos desde 2016, quando o glifosato passou a ser classificado na categoria 2A como um “provável carcinógeno para humanos”, e a agência passou a receber pressões da indústria.

Em 2014, a IARC publicou uma lista de prioridades para elaboração ou revisão de Monografias para o período de 2015-2019. Dentre os agentes selecionados, estavam incluídos 15 agrotóxicos, além da classe de produtos denominados sinergistas, que são utilizados para aumentar a eficácia dos produtos. Também foi considerada como alta prioridade, a exposição ocupacional aos agrotóxicos.[1]

Desta lista, poucas avaliações foram finalizadas e as demais não aparecem na programação da Agência nos anos seguintes. Em 2015, a IARC concluiu a classificação dos inseticidas tetraclorvinfos, DDT, lindano, malation, paration, diazinona e os herbicidas 2,4-D e glifosato [2],[3]. Em 2016, concluiu a reavaliação de pentaclorofenol e outros 4 organoclorados considerados POP segundo a Convenção de Estocolmo. Na lista de prioridades para 2020-2024 alguns destes agentes foram mantidos, porém também não foram avaliados[4].

A não inclusão de agrotóxicos para avaliação pela IARC vem acontecendo apesar dessas substâncias terem sido consideradas como agentes de alta prioridade para avaliação de carcinogenicidade por um grupo de especialistas reunidos pelo Programa de Monografias da IARC em 2019 [5] e, mais recentemente, novamente em março de 2024 [6], quando alguns agrotóxicos são listados, mas a exposição ocupacional é retirada da lista.

Juntamente com a ISEE, da qual fomos parceiros para a realização de sua Conferência Internacional em 2015, São Paulo, a Abrasco sente-se compelida a instar a IARC a reavaliar os seus planos para avaliações futuras e a dar prioridade à revisão de agrotóxicos no seu programa de Monografias. A Abrasco também manifesta a importância de garantir que os processos de reavaliação sejam protegidos de conflitos de interesse do setor econômico e que pesquisadores da IARC desempenhem suas funções técnicas protegidos das tentativas de cerceamento, constrangimento e assédio externo.

O uso de agrotóxicos no Brasil e no mundo vem aumentando todos os anos, incluindo produtos associados ao aumento do risco de câncer em diferentes países. Promover este esforço é essencial para salvaguardar a saúde humana e prevenir a incidência de diversos tipos de câncer. Por isso, juntamos esforços solicitando à IARC que considere este assunto com a máxima urgência e dedicação, reconhecendo as profundas implicações que tem para a saúde pública e a proteção ambiental.

Rio de Janeiro, 9 de maio de 2024.

Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco 


[1] https://monographs.iarc.who.int/wp-content/uploads/2018/08/14-002.pdf

[2] IARC Publications Website – Some Organophosphate Insecticides and Herbicides (who.int)

[3] IARC Publications Website – DDT, Lindane, and 2,4-D (who.int)

[4]https://monographs.iarc.who.int/wp-content/uploads/2019/10/IARCMonographs-AGReport-Priorities_2020-2024.pdf

[5] Marques et al. 2019 https://doi.org/10.1016/S1470-2045(19)30246-3

[6] Berrington de Gonzalez et al. 2024 https://doi.org/10.1016/S1470-2045(24)00208-0

Clique aqui e acesse o documento.

Associe-se à ABRASCO

Ser um associado (a) Abrasco, ou Abrasquiano(a), é apoiar a Saúde Coletiva como área de conhecimento, mas também compartilhar dos princípios da saúde como processo social, da participação como radicalização democrática e da ampliação dos direitos dos cidadãos. São esses princípios da Saúde Coletiva que também inspiram a Reforma Sanitária e o Sistema Único de Saúde, o SUS.

Pular para o conteúdo