A Abrasco tem denunciado os racismos estrutural e sistêmico, cruéis e persistentes na sociedade brasileira e em outras sociedades, responsáveis pela banalização da morte da população negra. Seguindo a tradição do diálogo democrático, repudiamos veementemente o assassinato brutal e covarde de João Alberto Silveira Freitas, praticado com requintes de crueldade por seguranças do supermercado Carrefour, na cidade de Porto Alegre, na noite de 19 de novembro de 2020.
Pai de família com quatro filhos, João Alberto era um trabalhador e torcedor de um dos times locais. Sua morte provocou comoção social na população brasileira e estrangeira, com protestos dos movimentos sociais não só pelas redes digitais, mas também em espaços públicos, inclusive em frente a unidades da rede Carrefour. Solidarizamo-nos com a família de João Alberto e com as famílias de todas as vítimas de mortes por assassinato que ocorrem diariamente em todas as regiões do Brasil.
É importante dizer que, infelizmente, fatos como esse não são inéditos no nosso país. Embora mais visível hoje, a violência do racismo anti-negro não é algo novo. O genocídio da população negra, especialmente sua juventude, está documentado em dados, pesquisas, noticiários. De acordo com o Atlas da Violência de 2018, 75,5% das pessoas assassinadas no país em 2017 eram pretas ou pardas – totalizando 49.524 vítimas. No período de 2007 a 2017, a taxa de assassinatos de mulheres negras cresceu 29,9%, enquanto, entre mulheres brancas o aumento foi de 4,5%. Esses dados mostram o genocídio a que estas populações estão expostas, principalmente, de jovens negras e negros. Entre os LGBTI+, as pessoas negras são as mais expostas à violência e ao extermínio, o que evidencia a interseccionalidade com raça e etnia, ampliando a condição de vulnerabilidade em que vivem.
A mortalidade por homicídio pode ser prevenida e evitada. Assassinos devem ser identificados e punidos; e assassinatos em situações de racismo devem ser repudiados e politicamente execrados. Quando o Estado nada faz nesse sentido é porque adere, apoia, promove e pratica uma necropolítica. Negar as evidências dos fatos/dados é também um ato racista.
Lamentamos e nos envergonhamos desta sociedade racista, homofóbica, sexista, desigual e injusta. Repudiamos todas as formas de violência contra pessoas negras, vítimas de discriminação, segregação e racismo. O povo negro brasileiro tem enfrentado o racismo há muito tempo. Nunca deixaremos de nos indignar diante de fatos como esse. Exigimos justiça e respeito à vida. Vidas negras importam!
Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO