Na madrugada do dia 18 abril, Everaldo da Silva Fonseca acompanhava sua esposa, Maria Gonçalves Lopes, no Hospital Dom João Backer, em Gravataí (RS) e foi acusado de furtar um celular por uma pessoa que trabalha na instituição. Após a acusação, Everaldo foi agredido e humilhado por seguranças. Diante das agressões, Maria Gonçalves, que estava internada para tratar de problemas no fígado, sofreu uma parada cardíaca e faleceu. Essa notícia não se trata de um “fato isolado”, como aponta o GT Racismo e Saúde da Abrasco em sua nota de repúdio ao racismo, humilhação e violências física, psicológica e verbal sofridas pelo senhor Everaldo.
Além do repúdio, o GT Racismo e Saúde manifesta solidariedade ao senhor Everaldo, um idoso preto e pobre, e toda sua família. Confira a nota na íntegra abaixo:
NOTA DE REPUDIO
O GT Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) manifesta repúdio sobre o ato de racismo, humilhação e violências física, psicológica e verbal sofridas pelo senhor Everaldo da Silva Fonseca e sua esposa Maria Gonçalves Lopes, no Hospital Dom João Becker, no município Gravataí, estado do Rio Grande do Sul. Na madrugada do dia 18 de abril de 2020, o senhor Everaldo, idoso de 62 anos, foi acusado injustamente de furtar um celular de uma profissional de enfermagem, enquanto acompanhava sua esposa que estava internada no hospital. Devido à acusação ele foi agredido, humilhado e expulso do hospital. O filho do casal ainda relata que procuraram o celular até mesmo nas fraldas que a paciente utilizava. Maria Gonçalves Lopes ao assistir a violência sofreu uma parada cardíaca que a levou à óbito. Após o ocorrido, o celular foi encontrado em outra ala do hospital.
Infelizmente este não é um caso isolado, mas uma consequência dos processos estruturais e institucionais do racismo em nossa sociedade. Os corpos negros têm sido alvo de opressões cruzadas, dentre elas, de gênero, idade e classe social. O fato do senhor Everaldo ser um idoso preto e pobre, tornou-o alvo de violências e racismo institucionais.
É inaceitável que o racismo, expresso nas mais diferentes formas de violências, mate cotidianamente a população negra.
Este ato demonstra a maneira como o racismo institucional continua permeando os serviços de saúde e evocam uma longa história de colonialismo ao qual o Brasil foi fundado. A atitude dos servidores do hospital vai na contramão dos direitos fundamentais e atenta contra a Constituição Federal e legislações antirracistas. Neste sentido, devemos combater qualquer manifestação de natureza discriminatória e racista dentro das instituições de saúde e lutar pela justiça social e respeito à dignidade humana.
O GT defende uma sociedade plural e democrática, com eliminação de todas as formas de preconceito e discriminação, respeito à diversidade e compromisso com a luta pela promoção da igualdade e pelo combate ao racismo e ao idadismo. Reafirmamos nosso compromisso para melhoria das condições de vida e saúde da população negra, por meio de ações e estudos desenvolvidos em nossas instituições no combate ao racismo em todos os âmbitos da Saúde.
Por isso, solicitamos que as instâncias responsáveis pela gestão desta instituição, município de Gravataí e as autoridades brasileiras tomem todas as medidas necessárias para investigar a morte de Maria Gonçalves Lopes e garanta a proteção e o direito de justiça ao senhor Everaldo da Silva Fonseca e sua família.
Os GT Racismo e Saúde e o GT Envelhecimento e Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) manifestam a sua solidariedade ao senhor Everaldo e sua família.