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Nota relativa às evidências científicas quando à utilização de um esquema uniforme e de curta duração no tratamento de hanseníase na APS

Vilma Reis

Confira o esclarecimento sobre as evidências científicas do esquema uniforme e de curta duração para tratamento de hanseníase, em retorno à veiculação na página eletrônica da Abrasco, no dia 24 de abril de 2018, da nota da Sociedade Brasileira de Hansenologia que questiona o tratamento que pode ser implantado no Brasil. O documento é assinado por Gerson Oliveira Penna, Maria Lucia Fernandes Penna, Maurício Lima Barreto, Celina Turchi, Heitor de Sá Gonçalves, Sinésio Talhari e Maria Araci de Andrade Pontes.

Prezado Professor Gastão Wagner, presidente da Abrasco.

Como é de seu conhecimento, desde 2006 pesquisadores de instituições brasileiras e internacionais (lista abaixo) elaboraram e realizaram o ensaio clínico randomizado e controlado, intitulado Estudo independente para determinar efetividade do esquema Uniforme de MDT de seis dose (U-MDT) em pacientes de hanseníase, U-MDT-CT- BR), para avaliar a efetividade de um esquema terapêutico uniforme e de curta duração (seis meses) para tratar todos os pacientes de hanseníase, independentemente de classificação clínica, para fins de implementação na atenção primária a saúde (APS). Esse ensaio foi financiado pelo Decit/CNPq processo nº 403293/2005-7 e registrado no Clinical Trial.gov (NCT00669643).

Nosso estudo contou ainda com um comitê cientifico independente de experts, composto por: Celina Turchi, Diana Lockwood, Euzenir Sarno, Ji Bahong*, Maria Leide de Oliveira, Paulo Machado, Sinésio Talhari e V. Pannikar, que não foram autores de nenhum dos manuscritos para evitar conflito de interesse.

O referido estudo, teve, entre 2012 e 2018, seus resultados publicados em 14 artigos científicos (anexo 2) observando todos os postulados do CONSORT. Adicionalmente outras três publicações de estudos conduzidos em Bangladesh, na Índia e na China, que embora com metodologia não tão robusta quanto a do estudo brasileiro, confirmaram de forma independente, os resultados favoráveis do nosso estudo e fortaleceram a ideia da implementação desse novo esquema na APS.

Uma vez publicados os resultados finais na PLos NTDiseases (PDF anexo 3), o Ministério da Saúde constituiu um Comitê Técnico Assessor (CTA – portaria, anexo 4), que se reuniu em dezembro de 2017 e em abril de 2018 para discutir o tema e a implementação do novo esquema em nosso pais. Ocorre que embora a maioria do CTA tenha sido favorável a implementação em nosso país, uma minoria se posicionou desfavorável, sem, entretanto, apresentar nenhuma evidência (publicação cientifica) que pudesse contradizer os achados desses 17 artigos publicados e favoráveis à implementação do novo esquema terapêutico na APS.

Note que, ao longo da história do tratamento da hanseníase, as taxas de recidiva foram (i) na era da monoterapia sulfônica de 18,7% em 25 anos; (ii) no tempo do tratamento até a negativação da baciloscopia não há estudos que a demostrem; (iii) no tempo em que o tratamento foi por 24 meses, em um só registro de um estudo aberto não controlado foi de 2,6% ao ano; (iv) para o tratamento de 12 doses não há estudos que demonstrem a taxa de recidiva, e, no nosso estudo, a taxa, para seis meses de tratamento, é de 0,26% ao ano.

Observe ainda que os Anais Brasileiros de Dermatologia, periódico científico da Sociedade Brasileira de Dermatologia, em seu último número, explicita em seu editorial, aos seus quase 8000 associados, o apoio na implementação do novo esquema na APS. Além de publicar dois dos artigos mencionados.

O IATS, Instituto de Avaliação de Tecnologia em Saúde, que congrega um grupo de mais 80 pesquisadores e dedica-se na atuação da produção de orientações e avaliações críticas de tecnologias em saúde no Brasil, na edição de seu jornal de 19 de setembro de 2017, teve a nossa publicação final PLoS NTD avaliada positivamente e destacada na matéria de capa.

Em 2016, em Seminário de hanseníase na London School of Hygiene and Tropical Medicine, no auditório John Snow, organizado pela Professora Laura Rodrigues, o comentário do Professor Paul Fine, epidemiologista e hansenologista de reconhecido mérito, foi: “Meus amigos, este é o único ensaio clínico randomizado e controlado com este período de acompanhamento e com sofisticadas análises epidemiológicas envolvendo esses esquemas. Talvez mesmo o único na história do tratamento da hanseníase. Os artigos estão publicados. Não é concebível que as autoridades de saúde de países endêmicos e a OMS ainda não tenham chamado o grupo de Dr. Penna a discutir esses dados de modo a adotar MDT-U como política mundial.”

Certo que, como Presidente da Abrasco, e conhecendo a reputação acadêmica do nosso grupo, possa atuar oportunamente no esclarecimento desses fatos, ao tempo em que nos mantemos à sua inteira disposição com a máxima de que “a ciência nos cabe produzir evidências, e aos tomadores de decisão cabem adotá-las ou não na criação de políticas públicas”.

Brasília, 03 de maio de 2018

Assinam essa nota em nome do grupo de pesquisa, Gerson Oliveira Penna, Maria Lucia Fernandes Penna, Maurício Lima Barreto, Celina Turchi, Heitor de Sá Gonçalves, Sinésio Talhari e Maria Araci de Andrade Pontes.

Ana Regina Coelho de Andrade 5,
Andrea Machado Coelho Ramos 5,
Andrej Benjak 12,
Charlotte Avanzi 12.13,
Chloe A Loiseau 12,
Gerson Oliveira Penna 1,
Heitor de Sá Gonçalves 8,
Jearemie Piton12 13,
Laura Cunha Rodrigues 4,
Lígia Regina Sansigolo Kerr 3,
Marcelo Grossi de Araujo 5,
Maria Araci de Andrade Pontes 8,
Maria Lucia Fernandes Penna 11,
Mariane Martins de Araujo Stefani 2,
Maurício Barcelos Costa 6,
Maurıcio Lima Barreto 10,
Patrícia Sammarco Rosa 7,
Philippe Busso 12.13,
Pushpendra Singh 12.13,14,15 ,
Rossilene Cruz 9,
Samira Buhrer-Sekula 2,
Stewart T. Cole 12

– 1Tropical Medicine Centre, University of Brasilia, and Fiocruz Brasılia, 2Tropical Pathology and Public Health Institute, Federal University of Goias3, Department of Public Health. Federal University of Ceará, 4Department of Infectious and Tropical Diseases, London School of Hygiene and Tropical Medicine, 5 Dermatology Department Clinical Hospital of Federal University of Minas Gerais,6 Medicine Faculty Federal University of Goias 7 Lauro de Souza Lima Institute ,Bauru, São Paulo, 8 Dona Libânia Dermatology Centre, Ceara9 Tropical Dermatology and Venerology Alfredo da Matta Foundation, Amazonas, 10 Oswaldo Cruz Foundation, Salvador, Bahia,11 Epidemiology and Biostatistics Department, Federal University Fluminense, 12Global Health Institute,EÂ cole Polytechnique FeÂdeÂrale de Lausanne, Switzerland, 13 Department of Medical Parasitology and Infection Biology, Swiss Tropical and Public Health Institute, Switzerland, 14Department of Microbiology and Biotechnology Centre, Maharaja Sayajirao University of Baroda, Vadodara, India, Diseases, Higashimurayama, Tokyo, Japan15; Jyu-kanbo National Museum, Kusatsu, Gunma, Japan.

 

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