Em 2020 o Grupo Temático Gênero e Saúde da Abrasco completa 25 anos como referência científica e política nas discussões sobre direitos reprodutivos e sexuais, gênero e sexualidade. São mais de duas décadas debatendo violência doméstica e sexual, gravidez, aborto, ISTs, contracepção, avaliação de políticas para mulheres – entre outras temáticas do campo. O cenário político é sombrio: além dos ataques ao Sistema Único de Saúde, há um retrocesso em discussões sobre aborto, liberdade do corpo e sexualidade. O GT, no entanto, segue como um espaço de reafirmação do posicionamento de pesquisadoras e pesquisadores que lutam pela ciência como elemento transformador da sociedade. É com esse ímpeto que Ana Paula Reis, docente da Universidade Federal da Bahia, e Ana Costa, da Escola Superior de Ciências da Saúde, no Distrito Federal, assumem a coordenação do grupo pelos próximos três anos.
Considerando que os temas de estudo e trabalho estão sob forte ataque, as novas coordenadoras planejam ações para fortalecer o GT internamente – em diálogo com outros Grupos Temáticos, Comissões e Diretoria da Abrasco: “Temos a obrigação, nessa conjuntura de retração de direitos e retrocesso moral, de realizar uma prática propositiva , uma crítica analítica permanente. Devemos exercitar ações inter grupos que possam potencializar nosso trabalho – conversar, por exemplo, com o GT Bioética para discutir aborto, com o GT Saúde e Ambiente para discutir a saúde das mulheres no campo, o GT Violência para abordar feminicídio. Os grupos devem trabalhar de forma particular e conjunta. O conceito de determinantes sociais da saúde exige muito mais a ideia da ‘floresta’ que de cada árvore. Nosso GT requer um compartilhamento muito grande de responsabilizações”, disse Ana Costa, membro fundadora do GT.
Se é importante olhar pra dentro, também é tempo de levar as discussões para além das entranhas da Saúde Coletiva. É o que acredita Ana Paula Reis, que visualiza a possibilidade de disseminar informações para a sociedade: “Já planejamos manter um espaço permanente no site da Abrasco – com artigos escritos pelos pesquisadores do GT ou dialogando com a Comunicação da Abrasco para sugerir conteúdos. Queremos pautar a sociedade, a imprensa, os meios de comunicação – mas não só reagindo às notícias, também adiantando as discussões. É importante dar presença a determinados temas. Há dez, 15 anos, tínhamos condição conjuntural mais favorável para desenvolver políticas públicas e produção de conhecimento sobre gênero e saúde. Agora teremos muita dificuldade, por causa da conjuntura social, política, econômica – mas isso não é desanimador”.
As coordenadoras também afirmam que um dos papeis principais do GT é assessorar a Abrasco – seja propondo mesas e debates nos eventos, seja subsidiando debates nacionais: “Nossa expressão se traduz na expressão da Abrasco – falamos através da Abrasco. Temos uma inserção no mundo acadêmico, sabemos que os estudos [sobre gênero e saúde] se proliferaram a partir da criação do GT, e agora devemos colher o que já acumulamos. Precisamos estar presente no Congresso Nacional – participar permanentemente de audiências públicas sobre as temáticas que circulam por lá – como aborto, planejamento familiar e educação sexual”.