Novos olhares sobre os perfis das categorias profissionais da saúde; os efeitos da precarização do trabalho e os novos modelos e relações na gestão do trabalho deverão estar no foco das investigações dos pesquisadores da Saúde Coletiva dedicados ao tema da gestão do trabalho e educação em saúde nos próximos anos. Esses foram os pontos de destaque elencados por diversos pesquisadores que compuseram as mesas do I Simpósio Internacional Trabalho e Educação na Saúde, realizado em 01º de maio no auditório da reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) dentre as atividades preparatórias do III Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão em Saúde.
Organizado pelo Grupo Temático Trabalho e Educação na Saúde (GT-TES/Abrasco) em parceria com o Observatório de Análise Política em Saúde (OAPS/ISC/UFBA), Observatório RH UFRN e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), o encontro mobilizou mais de 100 participantes, o que só reforça a pujança desse tema dentro das discussões da área: o eixo nº 6: Gestão do trabalho e da educação na saúde foi o que teve maior número de submissões e de trabalhos aprovados, como ressaltou Janete Castro, coordenadora do ObservaRH UFRN e anfitriã do simpósio na mesa de abertura.
Juntamente com Janete, Isabela Cardoso Pinto, coordenadora do GT-TES/Abrasco; Monica Padilla, representante da Unidade Técnica de Capacidades Humanas da OPAS; Ana Paula Skiavone; à frente da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde (SGTES/MS); Guadalupe Medina, representando o OAPS/ISC/UFBA, Cipriano Maia, presidente do III Congresso e Gastão Wagner, presidente da Abrasco, compuseram a mesa de abertura. Homenagens ao Dia do Trabalhador e citações ao atual processo de precarização das relações previdenciárias e trabalhistas com as reformas impostas pelo governo Temer marcaram as falas iniciais. “Vivemos uma época de desprestígio do trabalhador e do trabalho. No discurso dos mandatários do governo e empresários, o nosso bem-estar e os nossos direitos são o motivo da crise, numa completa inversão de valores”, ressaltou Gastão Wagner. Já Isabela Cardoso ressaltou o trabalho pioneiro do GT TES/Abrasco, que celebrou 25 anos de sua criação. “Em suas diversas formações, este GT teve atuação de seus membros em diversos espaços, tanto no âmbito da universidade como da gestão do SUS. Conformamos um conjunto de conexões e contribuições na constituição de novos sujeitos críticos dentro da Saúde Coletiva, da prática profissional e da consolidação da Reforma Sanitária Brasileira em nosso país”.
Tal contribuição esteve presente e viva nas quatro mesas redondas que se sucederam ao longo do dia. A primeira, Emprego em Saúde e Desenvolvimento Econômico, contou com as exposições de Edson Araújo, pesquisador sênior do Banco Mundial; e Monica Padilla, da OPAS, que promoveram uma sistematização do atual debate internacional acerca da composição da força de trabalho na saúde, apresentando indicadores, hipóteses hegemônicas e alternativas e como as visões influenciam no debate entre acesso universal versus cobertura universal.
A segunda mesa Trabalho, Regulação e Redes fez um apanhado de duas importantes pesquisas neste arco temático: Perfil da Enfermagem no Brasil, apresentada por Maria Helena Machado, da ENSP/Fiocruz, que trouxe dados da realidade de cerca de 1,8 milhão de profissionais, entre técnicos e graduados – o maior contingente profissional dentro dos 3,5 milhões de brasileiros atuantes na área da saúde; e o estudo de caso das regiões Alto e Baixo Barretos, integrante da pesquisa Região e Redes apresentado por Ana Paula Chancharulo e Liza Yure Uchimura, ambas doutorandas do DMP/FM/USP.
À tarde, as mesas Força de Trabalho no Brasil Hoje, com as apresentações de Celia Pierantoni (IMS/Uerj); Marina Peduzzi (EE/USP); Allan Claudius Barbosa (UFMG) e Haroldo Pontes (Conass); e A Agenda de Pesquisas sobre Trabalho e Educação na Saúde, com Isabela Pinto, Félix Rígoli (ISAGS) e Carlos Rosales (OPAS) exemplificaram como as dimensões teóricas, econômicas e sociais incidem diretamente na conformação do mercado de trabalho e na investigação científica atualmente desenvolvida pela academia e organismos internacionais. O desempenho dos Observatórios Temáticos na consolidação de evidências para a tomada de decisão na gestão do trabalho em saúde; a necessidade de se voltar às pesquisas para as práticas macrossociais e que explorem abordagens interprofissionais também tiveram destaque nas falas dos pesquisadores.