Abordagens críticas e inovadoras; assuntos regionais; pautas que evidenciam a importância da participação social. Uma nova leva de sites na internet voltados à cobertura da área da saúde mostra a abertura de jornalistas, produtores de conteúdo e profissionais de saúde a temas antes restritos à academia e/ou à militância. Ganham os profissionais, a área de Saúde Coletiva e a sociedade, que sabe e quer ver a discussão da saúde para além das carências dos hospitais públicos e dos procedimentos estéticos e técnicos.
Quando, no início de dezembro, o ministro Marcelo Castro escolheu Valencius Wurch Duarte Filho para o comando da Coordenação-Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (CGMAD/MS) e rapidamente a Abrasco e demais entidades posicionaram-se contrárias, Thiago Henrique dos Santos Silva, médico de família e Comunidade formado pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), mestrando da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP) e um dos articuladores da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, sabia que o assunto merecia uma abordagem mais próxima aos movimentos para explicar de fato à população o motivo de tanta reclamação e crítica. Passados mais de dois meses, Valencius segue no cargo, mas não há ato contrário a sua presença que não seja coberto pelo site Saúde Popular, que destaca em sua homepage a intervenção de estudantes de Sorocaba, cidade do interior de São Paulo, que protestaram contra Valencius quando o mesmo lá esteve na última quinta-feira (18).
“Criamos o Saúde Popular por um sentimento de vazio do campo progressista da nossa categoria. É para fazer o contraponto mesmo, e defender o Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, sabemos que não vamos resolver os problemas do sistema só com as questões de gestão”, explica o médico militante.
Fruto de um projeto político, o site surgiu em junho do ano passado como plataforma de comunicação da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMP). No entanto, desde o lançamento, busca abordar pautas para além das discussões da RNMP e olhar os assuntos trabalhados pelas demais mídias com enfoques diferentes. “Não queríamos ser mais um site de um coletivo de esquerda para falar para nós mesmos, mas sim disputar as pessoas fora dessa ‘bolha'”, reforça Thiago Silva, que compõe o Conselho Editorial.
O conteúdo é produzido por coletivos de comunicação sob orientação do Conselho Editorial do site, composto por membros da Rede e também por lideranças de outros movimentos sociais e pesquisadores. A estratégia vem dando certo. “A matéria sobre as pesquisas que mostram relação entre os produtos da Herbalife e problemas no fígado foi uma das mais acessadas e, ao chegar ao site, as pessoas leem outras coisas. Temos de abandonar a retórica de vomitar ideias nas pessoas, e sim ganhá-las para o lado da saúde pública, pois, da forma antiga, estamos perdendo a narrativa do SUS”, reforça ele.
Tradução e conexão: A preocupação com ampliar as temáticas e fazer um debate justo e claro sobre o papel do SUS na sociedade brasileira também é uma das marcas do site Saúde!Brasileiros. O projeto foi idealizado pelas jornalistas Monica Tarantino e Rachel Costa e abraçado por Hélio Campos Mello, diretor de redação da revista Brasileiros. Em agosto passado, a nova área temática foi aberta no site.
“A gente sabe da importância de estender a pauta para assuntos raramente cobertos pela grande mídia e não ficar toda hora dizendo que o SUS não presta, que o SUS é isso, que o SUS aquilo. Óbvio que temos que mostrar o outro lado, a fila dos hospitais, etc. Mas o SUS é um projeto universal de saúde que muitos países gostariam de ter. Eu acredito que tem duas maneiras de você levar uma pauta. Uma é chegando lá e mostrando o povo no corredor e a outra é mostrando o porquê daquela deficiência, como está a demanda naquela região, de onde vem os recursos, etc. E isso qualifica o debate”, explica Monique Oliveira, editora-assistente.
Mesmo os assuntos que comumente alimentam sites e páginas de revistas, como tratamentos e dietas, na Saúde!Brasileiros são abordados pelos seus estudos clínicos, desempenhando um papel de tradução do conhecimento. Além disso, há forte preocupação em fazer um jornalismo próximo e em diálogo com a sociedade, evidenciado também na cobertura do atual momento da Saúde Mental e nas perguntas e dúvidas vindas dos leitores. “A gente começou pouco a pouco a se aproximar dos movimentos sociais em saúde e isso tem sido uma troca muito interessante pra gente, pois essas pessoas estão lendo o site e nos dando retorno. Também temos o cuidado de responder ao leitor, tanto nos comentários como nos e-mails. Tento ajudar e não dizer apenas ‘procure o seu médico’, mas sim me conectar um pouco com a angústia daquela pessoa, mesmo que no final recomendemos de fato procurar um profissional”, complementa Monique.
Plataforma integrada: Organizar é dispor o conteúdo da saúde nas mais diversas mídias e colocá-lo em contato direto com o público. Essa é a proposta do Saúde no Ar, ação desenvolvida por uma equipe de profissionais da saúde e de comunicação da Bahia que tem como proposta fortalecer estratégias de promoção da saúde. O portal começou em 2014 e, mais recentemente, investiu no lançamento da plataforma integrada. Mesmo valorizando notícias de interesse público, o Saúde no Ar também trabalha com publicidade e produção de conteúdo customizada.
“Utilizamos os recursos da web e da radiodifusão para disseminar de forma clara, objetiva e responsável informações variadas sobre o universo da saúde. Nosso objetivo é fortalecer a importância da educação e da comunicação para a área, isso com programas e matérias de informação, de formação e também de entretenimento, feito “com e para” os profissionais de saúde, pacientes, acompanhantes e todos que entendam que saúde é um bem que precisa ser preservado”, explica Ezequiel Oliveira, diretor executivo.
A plataforma é ancorada no trabalho do portal da internet, com canais de webrádio e webtv, além de produzirem programa para uma rádio AM com alcance na região metropolitana de Salvador. Parte desse conteúdo é também oferecido como serviço de TV interna, para ser instalada e veiculada nas salas de espera de hospitais, ambulatórios e consultórios, e em outros ambientes, como escolas e demais espaços públicos. Além da abrangência e diversidade de veículos da plataforma, chama a atenção a valorização de fontes médicas locais e de um noticiário que busca equilíbrio entre os temas e vozes. “Acredito que a variedade de informações sobre a saúde nas diversas áreas, da gestão aos negócios, dos serviços públicos à pesquisa, com atualização diária, seja um grande diferencial nosso e que gere maior interesse nos internautas”, completa Oliveira.