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O Brasil tem fome: 2º inquérito sobre insegurança alimentar no contexto da pandemia de Covid-19 

“O dilema entre economia e saúde no enfrentamento da pandemia de Covid-19 é falso, e o aumento da fome no país é um exemplo disso. A fome deriva de processos econômicos e políticos que moldaram historicamente a sociedade brasileira”, afirmou Ana Maria Segall, professora aposentada da UNICAMP, durante a apresentação do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, na quarta-feira (8/6). 

A pesquisa, realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), indica que cerca de 33,1 milhões de pessoas vivem com insegurança alimentar grave no país. Os dados foram obtidos entre novembro de 2021 e abril de 2022, e sinalizam que milhares de famílias não têm acesso cotidiano aos alimentos. 

Segundo Rosana Salles, professora da UFRJ, as evidências também demonstram a profundidade das desigualdades:  “O mapa humano mostra que quando a pessoa de referência na família é branca, a segurança alimentar é mais de 50%, e quando preta ou parda, a insegurança alimentar moderada e grave assume patamares expressivos”. O mesmo se reflete no recorte de gênero: famílias que têm homens como principais provedores sofrem menos com a fome que as chefiadas por mulheres.

O inquérito também abordou outros aspectos, como o nível de escolaridade – a insegurança alimentar é maior em lares com pessoas que estudaram menos de quatro anos – e a relação com endividamento, que atingiu 38,2% das famílias, sendo que 57,1% tiveram cortes em despesas essenciais em seus domicílios. “Sabíamos da gravidade da fome, mas não esperávamos que seria tão ruim”, apontou Rosana. 

Os dados não são mais animadores em contextos rurais: 38% dos domicílios de pequenos produtores e agricultores familiares convivem com a fome, associada à perda de produção durante a pandemia – decorrente da dificuldade de escoar e vender o que colhem. Se, por um lado, há alta nos valores dos alimentos em todo o país, por outro não há valorização do trabalho, e a queda nos preços dos produtos da agricultura familiar contribui para a piora da insegurança alimentar nesse cenário.

José Raimundo, da UFABC, afirmou que a fome é “um processo e um produto da nossa sociedade”,  e que é imprescindível encarar os números com a percepção de que refletem questões sociais,  ajudam a formular questões e a pensar estratégias de transformação, mas não explicam tudo. “A fome não é um mal entendido, não é que as pessoas não saibam que existe.  É que alguns lucram e acumulam com isso, porque a fome torna as pessoas mais vulneráveis aos processos de exploração. Antes do momento que os alimentos acabem por completo,  já experienciam as sensações físicas e psíquicas provocadas pela privação de alimentos”. 

A apresentação do inquérito aconteceu durante o V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, na mesa “Muitas fomes no Brasil: Reflexões a partir dos inquéritos VIGISAN da Rede PENSSAN”, coordenada por Chico Menezes, da Action Aid.  Além de Ana Maria Segall,  Rosana Salles e José Raimundo, participaram do debate Renato Maluf, da Rede PENSSAN, e Rafael Pérez-Escamilla, da Yale School of Public Health. 

Assista ao evento completo:


Confira o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil e participe da campanha “Olhe para a fome“. 

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