O tema provocador fez parte de um dos debates da programação do Seminário Nacional de Educação Popular na Formação em Saúde, que aconteceu em João Pessoa, Paraíba, entre 10 e 13 de dezembro. Julio Wong, coordenador do GT Educação Popular em Saúde da Abrasco, Helena David (UERJ) e Simone Leite (ANEPS) destacaram as questões inegociáveis na Educação Popular em Saúde. A primeira fala foi de Helena David, que afirmou da necessidade de pensar o processo, ressaltando que é preciso uma paciência histórica para que as coisas aconteçam no contexto da Educação Popular. “É preciso muita intuição porque uma percepção de tempo é necessária para que as coisas aconteçam. E essas coisas não estão nos livros, estão nas vivências”, disse.
Trazendo o filósofo Spinoza ao debate, Helena David explicou parecer que o mundo está “colocado e pronto”, mas que na verdade não está. “É isso que não quero negociar: não quero negociar o processo. Os fins não justificam os meios. Só que isso tem um preço, principalmente quando estamos na gestão pública”, ressaltou.
Já Simone Leite trouxe sua trajetória profissional e política envolvida com a Educação Popular para tratar de um ponto específico sobre o tema: o diálogo. “No coletivo, o que é inegociável? Para mim, é o diálogo. Todas as pessoas têm o que compartilhar. É possível negociar e construir diferente com todas as pessoas. É fundamental fazer pontes entre os movimentos sociais, as instituições, os coletivos partidários, a sociedade civil. É preciso construir diálogo verdadeiro entre a universidade e a sociedade civil”, pontuou.
Julio Wong, de forma descontraída, brincou um pouco com o próprio “título” do debate: “o que não é negociável?”, “que negociado não pode?”, “como tornar palatável o subversivo?”, “como tornar o subversivo chocho (sem graça)?”, “que negócio é esse que estão fazendo comigo?”. Explicando que faz mais de 30 anos que está envolvido com a Educação Popular, Julio afirmou que é importante se enxergar nesse processo. Para ele, trata-se de ter “grandes poderes, grandes responsabilidades”, como os super-heróis. E utilizando-se da ARS Poética, reforçou a urgência de uma poética do reencantamento, feita a várias mãos. “O educador em saúde precisa ser uma coisa: trans-cendental, trans-visual, trans-versal, trans-artesão, trans-sexual. É preciso aprender a gerenciar melhor do que eles. É preciso incorporar e construir uma ética inédita na gestão pública, brincar, se fazer brinquedo e brincadeira, apodrecer ao sol”, pontuou. Para Julio Wong é inegociável uma Educação Popular sem poesia.
Debates sobre Educação Popular em Saúde em seminário na capital paraibana