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Oficina debate agronegócio e agroecologia

Pedro Miller e Ingrid Quintanilha - cobertura colaborativa Abrascão

“O Brasil é um país continental, de uma diversidade enorme de terras, águas, pessoas, recursos naturais. Temos solo para produzir quase tudo, mas resolvemos produzir soja.” Coordenada por Antonio Inácio Andrioli, professor do mestrado em Agroecologia e vice-reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), a oficina: “Do agronegócio à agroecologia: desafios atuais para a sociedade”, teve como principal objetivo evidenciar a indústria do agronegócio como uma força ideológica, argumentando pela necessidade de se construir formas revolucionárias de se praticar a agricultura.

Realizada em 25 de julho, o segundo dia do pré-congresso do Abrascão 2018 (e coincidentemente o Dia do Agricultor Familiar), a oficina, aberta ao público, teve também participação de Maria Eneida de Almeida, Daniela Savi Geremia e Maíra Rosseto, todos da Universidade Federal da Fronteira do Sul, sediada em Santa Catarina – UFFS. Pesquisadores de instituições como Fundação Oswaldo Crus – Fiocruz e Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva – Inca e militantes da causa agrária em geral marcaram presença na plateia.

Na primeira parte da Oficina, o professor Andrioli apresentou alguns dados sobre a produção de soja no Brasil. Nosso país é um dos maiores produtores de soja no mundo, com 117 milhões de toneladas. Desses, cerca de 53 milhões são destinados para a exportação, e representam uma “injeção” anual de 25,4 bilhões de dólares na economia. Parece um ganho significativo, mas para Andrioli, não chega nem perto de cobrir os prejuízos. “Se considerarmos só o valor da água necessária para produzir soja, já teríamos déficit. Precisamos de 2200 litros de água para produzir uma tonelada de soja, isso são 150 bilhões de metros cúbicos por ano. Daria o suficiente para 2 bilhões de pessoal.” Outros gastos que tendem a não ser contabilizados são a destruição do solo do cerrado, o desmatamento que cresceu 27% no último ano, além do custo social do êxodo rural, que já afeta 560 mil trabalhadores camponeses anualmente.

A polêmica sobre o índice de agrotóxicos tende a se focar nas frutas e legumes que consumimos regularmente, tomates, pimentões, morangos. Mas, o que não é medido são os níveis de contaminação da soja, em especial do glifosato, um dos agrotóxicos mais comuns no Brasil. O argumento a favor do glifosato é que ele não é tão venenoso quanto outros herbicidas, mas essa lógica é abusada pelo agronegócio, que transforma o glifosato de “não tão venenoso, para o veneno do bem”. Para Andrioli, porém, a maior contaminação dos agrotóxicos é ideológica, que cria uma narrativa apoiada em ideias de progresso e ciência para justificar o abuso cada vez maior do meio ambiente em busca do lucro. Parte desse ideologia nasceu na própria academia, com estudos universitários bancados por grandes corporações do agronegócio, que pregavam as benéfices da “modernização da agricultura” através de monocultura, industrialização do campo e utilização de máquinas pesadas, transgênicos e agrotóxicos.

Andrioli terminou sua apresentação lembrando das origens da agricultura como uma força de produção fora da ordem do capital, concluindo que a única maneira de combater a ideologia destruidora do agronegócio é construindo nossas próprias utopias. “Nesse momento não podemos só defender a continuidade da ciência, mas a construção de um outro jeito de fazer ciência.”

Pedro Miller e Ingrid Quintanilha são estudantes da Uerj e participaram do projeto de cobertura colaborativa para o Abrascão 2018, sob a supervisão de Vilma Reis, Bruno C. Dias e Hara Flaeschen

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