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Olhares Femininos sobre o Cárcere

Erika Farias / Fiocruz

Durante a tarde, a Tenda Cecília Donnangelo recebeu a mesa-redonda Olhares Femininos sobre o Cárcere, coordenada pela pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca Alexandra Sanches. A mesa contou com a participação da fotógrafa Nana Moraes e da também pesquisadora da Ensp, Maria do Carmo Leal. O debate uniu o estudo científico de Maria do Carmo, uma das coordenadoras do Estudo Nascer nas Prisões, com o olhar artístico de Nana Moraes, para tratar da destruição que acontece em um núcleo familiar, quando uma mulher é presa.

Nana Moraes passou quatro anos percorrendo sistemas prisionais brasileiros para realizar o Projeto Travessia, que deu origem à exposição. Nana levaria até a família das detentas uma foto atual delas e uma carta, e traria de volta uma foto da família e uma resposta à carta. Mas antes, precisava que os familiares dessas presas autorizassem a ação. Das 18 famílias contatadas, apenas seis deram o aval. O material deste “reencontro” serviu de bordado para cobertores, toalhas e lençóis. “Essas famílias foram rasgadas e descosturadas. Por isso, uni os retalhos com fotos, cartas e algumas palavras que li com frequência nas mensagens, como ausência, perda e violência”, contou a fotógrafa.

Nana conta que, diferentemente dos homens presos, que sempre recebem visitas, mulheres presas tendem a ser trocadas por seus companheiros e, ainda, rechaçadas pela família. “Essas mulheres são punidas duplamente – como mães e como criminosas”.

Já a pesquisadora Maria do Carmo comparou números das pesquisas “Nascer nas Prisões” e “Nascer no Brasil” para entender a realidade da mulher que dá a luz enquanto está presa. Segundo a pesquisadora, o número de mulheres presas cresceu 698% nos últimos 16 anos. Desse total, 80% são mães. “Diferentemente das mulheres que dão a luz pelo SUS, 1/3 das mulheres que têm filhos no sistema prisional são chefes de família”, afirmou.

A pesquisadora também revelou que 60% dessas mulheres têm três ou mais filhos, fato capaz de gerar uma grande devastação no momento em esta mãe é presa. “Quando isso acontece, o filho não perde apenas ela. Perde também os irmãos, que muitas vezes são separados, indo parar em diferentes abrigos ou famílias”, completou.

Clique para assistir aos vídeos Nascer nas Prisões – Gestar, nascer e cuidar e Nascer nas Prisões – Impacto Social, ambos da VideoSaúde.

Ausência

Pouco antes da mesa-redonda, foi inaugurada na Cavalariça, no Centro Histórico da Fiocruz, em Manguinhos, a exposição Ausência, de Nana Moraes. Na ocasião, a fotógrafa recebeu a ex-presidente da República do Chile, Michelle Bachelet; a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima; o presidente da Abrasco, Gastão Wagner; além de Maria do Carmo Leal, Keneth Camargo, o Instituto de Medicina Social/Uerj; do ex-presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha; Andrea da Luz, representando o Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz, entre outros convidados.

Após a visita, Michelle Bachelet comentou a exposição. “Me impressiona muito que as mulheres presas, quando se trata de gênero, são um grupo pouco considerado. Então gostaria de parabenizar a Nana por colocar não apenas em evidência esse problema social, mas por fazê-lo dessa forma maravilhosa”, afirmou a ex-presidente. A exposição fica em cartaz até dezembro, na Cavalariça. A entrada é gratuita.

Assista ao vídeo com a íntegra da Mesa Redonda Olhares femininos sobre o cárcere, com Maria do Carmo Leal e Nana Moraes.

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