O debate não é novo, mas em épocas do resultado da avaliação trienal da Capes, mesmo com o belo desempenho dos programas de pós-graduação em Saúde Coletiva, sempre vale voltar à reflexão. Será que o atual estágio da produção científica, baseado em métricas de produtividade, é um índice real da qualidade dos trabalhos e de seus pesquisadores?
Em artigo publicado em abril no jornal O Estado de S.Paulo, Fernando Reinach, professor da Universidade de São Paulo, questiona os parâmetros do que é conhecido como “salami science”, no qual as descobertas e resultados de estudos e pesquisa são fatiados em diversos artigos para assim ampliar impacto da pontuação acadêmica dos pesquisadores. Para Reinach, “não há dúvida de que métodos quantitativos são úteis para avaliar um cientista, mas usá-los de modo exclusivo, abdicando da capacidade subjetiva de identificar pessoas talentosas, criativas ou simplesmente geniais, é caminho seguro para excluir da carreira científica as poucas pessoas que realmente podem fazer descobertas importantes”. O pesquisador destaca que grandes pequisadores do século XX, como Einstein, James Watson e Francis Crick, simplesmente não se adequariam a tais procedimentos, e que a valorização dessas métricas, deve-se, em parte, ao fato da ciência brasileira não acreditar na sua capacidade de produzir grandes feitos.
O debate não é exclusivo à produção nacional. Em 2012, Joern Fischer e seus colegas Jan Hanspach e Euan G. Ritchie publicaram o artigo Academia’s obsession with quantity no periódico Trends in Ecology & Evolution no qual afirmam que o produtivismo tornou-se uma ideologia. “O que era para ser um dado de performance dos pesquisadores transformou-se um fim em si mesmo”, destacam os pesquisadores ligados à Universidade de Lueneburg, na Alemanha, e na Universidade de Deakin, na Austrália. O texto argumenta que tal procedimento torna os pesquisadores ainda mais estressados e distantes da discussão de ideias, o que torna o ambiente universitário refratário a jovens talentosos, fazendo-os optar por estar fora da academia ou ao esgotamento.
Em meio ao debate, vale lembrar que toda e qualquer jornada requer sua cota de sacrifícios, esforços e dedicações. Cabe então pensar as formas de se confrontar e nunca esquecer que mudar a lente pode ser interessante. Como disse a professora Madel Luz, em uma das entrevistas dos Grandes Debates do Congresso de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, realizado em novembro deste ano, no qual abordou o tema do produtivismo na academia, “isso pode acontecer quando não se quer eliminar os adversários como os pugilistas, mas sim desenvolver uma compreensão como a dos maratonistas, que competem consigo mesmos, num desafio para produzir mais, melhor e com solidariedade”. Leia abaixo os artigos na íntegra e confira aqui a entrevista.
Darwin e a prática da ‘Salami Science’ Academia’s obsession of quantity