Pensar o SUS à luz da sua própria história e da centralidade dos vários protagonistas que construíram e constroem diuturnamente o sistema de saúde. Um público atento e mobilizado refletiu sobre essa trajetória e os desafios impostos pela conjuntura à Saúde Pública na Roda de Conversa ampliada “Os Desafios do Direito à Saúde na Atualidade: reflexões para o campo da Saúde Coletiva”. A atividade, preparatória ao 8º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas da Saúde (8º CBCSHS), foi realizada na última segunda-feira, 3 de junho, no auditório do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba (CCM/UFPB).
Para provocar o debate, a atividade contou com a participação de Gastão Wagner de Sousa Campos, presidente da Abrasco 2015 – 2018, e José Ivo dos Santos Pedrosa, vice presidente da Associação. A mediação foi de Marísia Oliveira da Silva, professora do Departamento de Psicologia da UFPB e do Grupo de Pesquisa em Educação Popular em Saúde e membro da Comissão Organizadora Local do 8º CBCSHS.
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Logo na abertura, Pedro Cruz e Eymard Vasconcelos, respectivamente presidente e vice-presidente da Comissão Organizadora Local do 8º CBCSHS. abordaram os significados do Congresso para o atual contexto político e social brasileiro e para o fortalecimento do campo da Saúde Coletiva na Paraíba. “Esse congresso será especial no sentido de criar espaços de encontros humanos, de diálogos e de aprendizados que estimulem os vários atores sociais que fazem o SUS, ou seja, os trabalhadores, pesquisadores, movimentos sociais e estudantes, no sentido de enfrentamentos para a construção compartilhada do bem viver, com a defesa e o aprimoramento do SUS” disse Pedro Cruz.
Eles estavam acompanhados de Luciano Gomes, Chefe do Departamento de Promoção da Saúde do CCM/UFPB, que ressaltou a trajetória singular e rica de Gastão e de José Ivo, e a oportunidade de refletir conjuntamente com dois nomes históricos do movimento sanitário os desafios de ameaças ao direito a saúde.
Gastão Wagner enfatizou como desafio se pensar em modelos de desenvolvimento social e econômico pautados pelo investimento nas pessoas, nos espaços públicos, nas políticas públicas sociais inclusivas e na garantia de melhores condições de trabalho e renda para os trabalhadores das áreas de assistência e proteção social, inclusive a saúde. Ressaltou a preocupação com 70 a 75% da população que conta exclusivamente com o SUS, e com 50 milhões de pessoas que vivem em comunidades dominadas pelo narcotráfico e por milícias. “Esse é um desafio que não é só macro, mas está também em nosso cotidiano, nas nossas ações no campo da saúde, no agir com o outro e com a outra, inclusive em nossa postura humana nos espaços sociais, como a família e os círculos de amigos” pontuou o docente da Unicamp.
Na avaliação do abrasquiano, ao longo de suas mais de três décadas o SUS foi atacado em seus pilares, inclusive por setores progressistas, sendo desconstruído em alguns de seus principais fundamentos, o que muitas vezes deu elementos para setores contrários ao direito a saúde fazerem valer uma agenda anti-SUS no interior das estruturas técnicas e políticas que deveriam justamente fortalecê-lo. “É necessário colocar na mesa obstáculos e desafios para o aprimoramento e qualificação do SUS, mas tendo clareza do quanto ele é uma conquista histórica e democrática que precisa ser defendida” afirmou Gastão.
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Ao partir do debate sobre o conceito de bem viver, José Ivo aponta a construção de mentalidades críticas como o caminho possível para buscar as alternativas necessárias e caminhos alternativos de humanização e de emancipação. “O desafio do trabalho em saúde no SUS é constituir essas possibilidades de bem viver em meio ao enfrentamento cotidiano das determinações sociais de saúde e de fenômenos conjunturais. Esses últimos produzem processos exigentes de saúde e doença, trazem dificuldades para o viver com plenitude e com dignidade. Na criação do SUS, esperava-se contar com outras criações estruturantes, como Reforma Agrária e a ampliação do direito à moradia, o que não foi conseguido em sua maioria” avaliou.
Para o vice-presidente, vivemos um risco preocupante de colapso da vida, alargado com a atual ênfase de políticas públicas fomentadoras de atitudes e de atividades não saudáveis, como a recente liberação recorde de agrotóxicos nos alimentos, o decreto do porte de armas, entre outros.