No Brasil, pesquisas mostram o aumento da obesidade, diabetes, hipertensão e uma série de outras doenças crônicas, ler as informações nutricionais dos alimentos industrializados e levar em conta estas informações pode fazer a diferença. Foi inserida neste debate que, na manhã do dia 8 de setembro, segundo dia do 9º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, a palestra ‘Mudanças na rotulagem de alimentos – Potenciais efeitos sobre a pandemia de obesidade’, mostrou os resultados da estratégia australiana que facilita a comunicação entre universidade, governo e indústria, para conseguir avançar na legislação sobre rotulagem nutricional.
Heather Yeatman, professora na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Wollongong, mostrou com mais detalhes, a classificação de alimentos conhecida como ‘estrelamento’, que combina diferentes aspectos nutricionais de cada alimento.
Este sistema de classificação, que utiliza cinco estrelas para a rotulagem de alimentos “é uma vitória para a saúde pública e para os consumidores e vai ajudar a Austrália a combater a epidemia de obesidade” comemora Heather. Para mostrar o quanto são saudáveis, são colocadas voluntariamente nas embalagens, de meia até 5 estrelas tornando a escolha mais fácil para os consumidores, a imagem tem fácil leitura e apresenta informações baseadas em um sistema de perfil científico de nutrientes.
“As pessoas não precisam de lentes de aumento de ler o rótulo, nem precisam ser especialistas em saúde para interpretar a informação” avalia Heather. Ela defende ainda que este sistema está atuando inclusive como um incentivo para que as empresas de alimentos modifiquem os seus produtos de forma a alcançar maiores classificações de estrelas, num incentivo à concorrência no setor.
Heather fez questão de pontuar que estas pequenas mudanças são viáveis para a indústria e pode fazer a diferença na luta contra a obesidade. Ela defende ainda que quando a rotulagem é de fácil interpretação, se forma uma cadeia estratégica para facilitar a escolha saudável de cada consumidor.
Para o Brasil, Heather deixou um recado importante, melhor os sistemas de rotulagem não só alteram diretamente a escolha diária do consumidor, como também pode afetar a indústria que, para obter melhor classificação, altera a composição dos alimentos. “Na Austrália, as duas grandes cadeias de supermercados, estão atrasando a entrada de alguns produtos, pois estão alterando a composição nutricional para uma participação melhor no ‘ranking’ do sistema de estrelamento” comenta Inês Rugani, do GT de Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva da Abrasco.
Inês explica ainda que, além da importância dos estudos de Heather, a atuação política dela articula pesquisadores, governo e consumidores, e facilita o avanço efetivo no combate aos problemas da obesidade. “O sistema de ‘estrelamento’ é fruto de um algoritmo que combina todos os componentes nutricionais do alimento, e traz uma clareza intuitiva ao consumidor, pois numa escala de meia a cinco estrelas, alimentos com duas estrelas e meia para cima são evidentemente mais saudáveis, então fica muito clara a mensagem para evitar alimentos com duas estrelas e meia pra baixo” pontua Inês.
Heather abordou também a nova versão do Guia Alimentar para a população Brasileira, para a professora australiana, é importante monitorar a regulação da rotulagem ou mesmo a composição nutricional dos produtos industrializados, mas não se deve esquecer de promover o alimento in natura. Na Inglaterra, mais de 65% da alimentação da população vem de produtos ultraprocessados, já no Brasil esse percentual está abaixo de 30%, ou seja, os ingleses devem trabalhar mais intensamente na mudança do consumo. Diferentemente deve ser a estratégia brasileira, onde a principal política publica deve incentivar o consumo que já é nanatural na mesa da maioria dos brasileiros, e aproveitar que nós não mudamos a nossa alimentação como outros países já mudaram. “Hoje, nos EUA, dos 10 alimentos consumidos, 9 são ultraprocessados, o arroz é o único alimento básico que está entre os 10 mais consumidos, não é esse o caso do brasil. Na minha opinião Heather faz o alerta correto, para não ficarmos focados apenas na alteração de rotulagem, mas para preservarmos nosso legado, como o tão nacional feijão com arroz de todos os dias” conclui Inês.
Sobre a palestra de Heather, a coordenadora do GT de Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva da Abrasco, Maria Angelica Tavares de Medeiros, pontua a mensagem final da professora australiana “Ela não prescinde de uma ação mais global que vá além da prescrição, que reúna também as diferentes maneiras de agir de cada país. Conjugar sistemas de rotulagem com a promoção da alimentação saudável, e da culinária em detrimento do ultraprocessado, torna mais forte a luta contra esta indústria e contra a obesidade”.