Em 30 de setembro, a Ágora Abrasco abrigou o painel Bocas, corpos e subjetividades que envelhecem: como cuidar? Organizado em conjunto pelos Grupos Temáticos Saúde Bucal Coletiva e Envelhecimento e Saúde Coletiva da Abrasco, o evento foi coordenado por Maria Gabriela Haye Biazevic, professora da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo e membro do GT Saúde Bucal Coletiva da Abrasco. A atividade abordou políticas públicas, cuidado e luta, com sensibilidade poética.
Kenio Costa de Lima, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e integrante do GT Envelhecimento e Saúde Coletiva/Abrasco trouxe dados epidemiológicos da pandemia, pontuando que não são os idosos os mais acometidos pela Covid-19, mas são os que mais morrem. O pesquisador afirmou ser necessário mudarmos o processo de cuidado, combater o preconceito, o ‘velhismo’ nas práticas de saúde, para acabar com o ‘gerontocídio’ que estamos vivenciando.
Falando sobre a determinação social das doenças bucais, negligências e perdas dentárias, a professora da Universidade Federal de Santa Catarina Ana Lúcia Ferreira de Mello enumerou políticas públicas e eventos. A pesquisadora questionou sobre o cuidado com a população idosa, sobre saúde bucal e também sobre o porquê das políticas públicas falharem. “Como cuidar? Como cuidar de tragédias anunciadas? É preciso reformular a agenda. O cuidado à saúde bucal é uma construção cotidiana. O cuidado é uma ação política”, disse.
Renato José de Marchi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ressaltou a importância da luta em defesa do Sistema Único de Saúde, abordando o cuidado à pessoa idosa. Contando a história de seus bisavós, destacou a vulnerabilidade social, a capacidade de enfrentamento e a falta de ações programáticas. “O cuidado já acontece antes do nascimento, e a pessoa começa a envelhecer assim que nasce. O cuidado da pessoa idosa acontece em todos os tempos, ou não acontece. Cuidado é luta”, observou.
Poeta, cordelista, escritor e cirurgião-dentista da Estratégia Saúde da Família em Assú, no Rio Grande do Norte, Manoel Cavalcante contou experiências profissionais usando a literatura popular de cordel como motivação para a população idosa em Instituições de Longa Permanência para Idosos. Cavalcante recitou trechos de seu poema que virou livro, “A casa de minha avó”. “Escrevi quando eu estudava odontologia em Natal e estava com saudades da casa das minhas avós, e a poesia era a única forma de viajar e voltar para lá”, explicou.