Entre 1986 e 2017, a população brasileira vivenciou diversos cenários políticos e sociais. Da redemocratização pós-ditadura ao golpe em 2016, da luta pelo direito à saúde até o atual momento de transição epidemiológica, foram diversos os fatos e decisões que influenciaram diretamente o governo federal, o Sistema Único de Saúde (SUS), e a Ciência e Tecnologia brasileira. Todos esses temas, sem exceção, tiveram espaço nos debates científicos e políticos promovidos nas 11 edições do Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Já na preparação para o 12º Congresso, cujas as primeiras inscrições promocionais encerram-se no próximo dia 20 de dezembro – confira um pouco das temáticas e debates que atravessaram a história desse que é o maior congresso brasileiro e latino-americano da área, espaço necessário para a discussão, organização e consolidação da saúde e da democracia brasileiras.
1º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Rio de Janeiro (RJ), de 22 a 26 de setembro de 1986
Assim como o Abrascão 2018 que se aproxima, o 1º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva foi realizado na cidade do Rio de Janeiro, nas dependências da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Uerj, entre 22 e 26 de setembro de 1986. O primeiro grande encontro da área reuniu cerca de duas mil pessoas, sob o tema Reforma Sanitária e Constituinte : garantia do direito universal à saúde. Na época, o presidente Sebastião Loureiro afirmou que “a Abrasco procurava ser a consciência crítica do movimento progressista na saúde”.
2º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – São Paulo (SP), de 3 a 7 de julho de 1989
Três anos depois, a capital paulista foi o palco do 2º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva que aconteceu em julho de 1989, sob o tema central Sistema Único de Saúde – conquista da sociedade. Aconteceu em parceria com a Associação Paulista de Saúde Pública (APSP), que organizou, no mesmo espaço, o 3º Congresso Paulista de Saúde Pública. No ano em que se realizaria a primeira eleição direta para presidente da República desde o Golpe Militar de 1964, uma das mesas-redondas era ” Que saúde é essa, presidente? A saúde no contexto da sucessão presidencial”.
3º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Porto Alegre (RS), de 16 a 20 de maio de 1992
Porto Alegre sediou a terceira edição do Abrascão, em 1992, quando – em ato político – a Usina do Gasômetro foi coberta com um preservativo gigante a fim de chamar a atenção para a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis e da Aids, tendo como tema central Saúde como direito à vida. Aconteceu, em conjunto, o 1º Encontro de Saúde Coletiva do Cone Sul, uma ampliação do olhar da Abrasco também para a América Latina.
4º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Olinda (PE), de 19 a 23 de junho de 1994
Depois de edições contemplando o eixo sul-sudeste, o Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva de 1994 escolheu Olinda, cidade do Estado de Pernambuco, para debater o tema Saúde, o feito por fazer. O 4º Abrascão reuniu cerca de 3800 participantes e, ao final, foi redigida a Carta de Pernambuco – que seria entregue ao futuro presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso.
5º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Águas de Lindóia (SP), de 25 a 29 de agosto de 1997
Sob a presidência de Rita de Cássia Barradas Barata e novamente em uma promoção conjunta com a APSP, a Abrasco realizou o 5º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva com o tema Saúde, responsabilidade do Estado contemporâneo. Nesta reportagem da Radis, é possível ler entrevista da presidente da Abrasco na época “Os princípios que estão na base da formulação do direito à saúde estão ameaçados no embate entre as condições individualistas trazidas pela onda neoliberal e as concepções coletivas e solidárias” opinou Rita Barradas.
6º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Salvador (BA), de 28 de agosto a 1o de setembro de 2000
No ano 2000 a Abrasco levou seu congresso para Salvador, Bahia, e debateu o tema O sujeito na Saúde Coletiva em sua 6ª edição. Neste congresso foi possível registrar uma palestra proferida por David Capistrano Filho, reconhecido médico sanitarista, militante popular,e um dos idealizadores do SUS. Foi o último pronunciamento público de David Capistrano, que veio a falecer em novembro daquele ano.
7º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Brasília (DF), de 29 de julho a 2 de agosto de 2003
A capital federal recebeu o 7º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva na Universidade de Brasília (UnB). A discussão acerca da necessidade de se enfrentar a desigualdade existente e persistente no país inspirou a escolha do tema central Saúde, justiça, cidadania. Foram apresentados cerca de cinco mil além de 127 painéis, 29 palestras, 13 colóquios, nove grandes debates e três conferências magnas. Nesse conjunto de apresentações orais foram apresentados 1085 trabalhos científicos, envolvendo profissionais de serviços, professores e pesquisadores nacionais e internacionais.
8º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Rio de Janeiro (RJ), de 21 a 25 de agosto de 2006
O 8ª Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva retornou ao Rio de Janeiro no ano de 2006. Esta edição foi realizada simultaneamente com o 11º Congresso Mundial de Saúde Pública, promovido em parceria com a Federação Mundial das Associações de Saúde Pública – WFPHA. Os eventos aconteceram de 21 a 25 de agosto de 2006, na capital carioca sob o tema Saúde Coletiva em um mundo globalizado: rompendo barreiras sociais, econômicas e políticas. O Canal Saúde registrou, em entrevista, as opiniões de Jarbas Barbosa (secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde em 2206) e de José Gomes Temporão (secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde em 2006).
9º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Recife (PE) , de 31 de outubro a 4 de novembro de 2009
“Todos aqui sabem que a Abrasco veio fortalecendo o seu papel ao longo da década de 90, quando a maior preocupação na área da saúde era garantir as conquistas obtidas com a nova Constituição e assegurar a implementação do modelo de gestão em saúde definido pelo SUS” afirmou Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República, presente na abertura do 9º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Foi a primeira vez que um presidente da República participou da cerimônia de abertura de um dos congressos da Abrasco. Os participantes debruçaram-se no “compromisso da ciência, tecnologia e inovação com o direito à saúde”, com a submissão de quase 11 mil resumos inscritos.
10º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Porto Alegre (RS), de 14 a 18 de novembro de 2012
Sob o tema Saúde é Desenvolvimento: Ciência para a Cidadania o 10º Abrascão firmou-se como um espaço de integração entre gestores de saúde, movimentos sociais, instituições de ensino e pesquisa e trabalhadores do setor. A Abrasco criou e mantém um hotsite com a memória desta edição, disponibilizando fotografias, conteúdo científico e vídeo-conferências como as de Lígia Bahia; Jairnilson Paim; Joaquim Molina, entre outros.
11º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – Goiânia (GO), de 28 de julho a 1 de agosto de 2015
Como uma grande explosão, onde diversas atividades, entre mesas-redondas, comunicações científicas, atividades políticas e culturais, lançamento de livros e de projetos, aconteceram simultaneamente, o Abrascão 2015 funcionou como um centro irradiador de conhecimentos, propostas e novas ações no campo da Saúde Pública. Em entrevista ao portal da Universidade Federal de Goiás (UFG), sede da edição, Luis Eugenio Souza, então presidente da Abrasco, declarou que o tema Saúde, Desenvolvimento e Democracia: o desafio do SUS universal foi escolhido pela Comissão Científica do congresso por “reafirmar a compreensão de que a saúde para todos só é alcançável em uma sociedade economicamente desenvolvida e socialmente democrática”.
O próximo passo
O 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva acontecerá no Rio de Janeiro, de 26 a 29 de julho de 2018, no campus Manguinhos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O pré-congresso será realizado na Uerj. Em sua mensagem-convite, Gastão Wagner, atual presidente da entidade, convoca todos a continuarmos escrevendo a história da Saúde Coletiva no país: “O Abrascão 2018 acontecerá num momento muito particular da história do Brasil: um contexto difícil. Direitos, liberdade, democracia, Universidade Pública e o Sistema Único de Saúde estão submetidos a ataques cerrados. O principal recurso à nossa disposição para organizarmos a resistência e impedir retrocessos à liberdade e aos direitos sociais somos nós mesmos”. As inscrições estão abertas, as ideias em polvorosa, as comissões – científica e organizadora – em movimento. Como disse Gastão, “vamos que vamos!”