O movimento que uniu a ENSP e a Fiocruz cumpriu seu papel. Na noite de quinta-feira (17/10), a juíza da 35ª Vara Criminal, Daniella Alvarez Prado, concedeu alvará de soltura não apenas para Paulo Bruno, mas para todos os outros 19 presos políticos que estavam na mesma cadeia que ele.
Na manhã de sexta-feira (18/10), em outro ato de protesto e expectativa pela libertação de Paulo Bruno, muitas pessoas se reuniram, no pátio principal da ENSP, com cartazes e faixas e seguiram para a comunidade de Manguinhos para o velório do menino Paulo Roberto – morto na quinta-feira (17/10), após ser abordado e espancado por policiais da UPP, de acordo com moradores da região. Na ocasião, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, afirmou que este caso deve ser um incentivo para que a Fundação trabalhe cada vez mais no sentido de ser uma agente central de pensamento, proposição e mobilização a favor do respeito à democracia e direitos dos cidadãos brasileiros. Jorge da Hora, do Departamento Jurídico da Asfoc-SN, informou que o pesquisador está bem e não sofreu nenhum tipo de violência física durante o período em que esteve na Penitenciária Patricia Acioli, localizada em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro.
Segundo o diretor da ENSP, Hermano Castro, o caso Paulo Bruno é simbólico para a instituição. “Esta defesa não é apenas de um pesquisador da Fiocruz, mas da democracia que precisamos ter em nosso país. Precisamos acabar com a forma truculenta e arbitrária que as autoridades impõe à população quando ela tenta se manifestar ou reivindicar”. Ele encerrou alertando que precisamos de uma polícia que seja realmente pacificadora.
Os integrantes do Fórum de Alunos da ENSP cantaram palavras de ordem durante todo o tempo da manifestação e convidaram a todos os participantes à seguir em direção à Associação de Moradores de Manguinhos, onde estava sendo velado o corpo de Paulo Roberto. A aluna Mariana Faria lamentou a morte do rapaz. De acordo com ela, “não podemos deixar que Paulo Roberto se torne um outro Amarildo”. O enterro do jovem aconteceu no cemitério de Inhaúma. Moradores de Manguinhos acusam policiais militares da Unidade de polícia Pacificadora (UPP) de terem espancado o rapaz após uma abordagem.
O caso de Paulo Buno na Justiça
Depois da expedição do alvará de soltura na tarde desta sexta-feira (18/10), o Departamento Jurídico do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN) se dirigiu para o Complexo Penitenciário de Bangu a fim de libertar o pesquisador e professor da Fiocruz Paulo Roberto de Abreu Bruno. O diretor de Legislação e Assuntos Jurídicos do Sindicato, Jorge da Hora, e o assessor jurídico, Fábio Kruger, acompanharam o caso na libertação do servidor público. “A Justiça acatou o nosso argumento e estendeu o benefício de soltura a todos os outros 19 detidos na cadeia”, revelou Jorge da Hora.
De acordo com Fábio Kruger, entre os argumentos utilizados no pedido de relaxamento da prisão de Paulo Bruno está o caráter arbitrário da prisão e o abuso por parte do poder público. A juíza Daniela Alvarez, da 35a Vara Criminal, concedeu alvará de soltura ao pesquisador da ENSP, bem como estendeu a decisão a mais 19 outros presos por entender que “eles não oferecem risco à sociedade”.
Os advogados da Asfoc-SN também solicitaram à Justiça e obtiveram a conversão da prisão preventiva desses presos. Na decisão, a Justiça entendeu que não havia individualização de cada delito no inquérito, o que significa que o processo por acusação de dano ao patrimônio, formação de quadrilha, roubo e incêndio poderá ser respondido em liberdade.
Paulo Bruno, detido durante manifestação dos professores na terça-feira (15/10), ficou preso na Cadeia Pública Juíza Patricia Acioli, localizada em São Gonçalo, região metropolitana do Rio, e foi transferido na manhã de sexta-feira para o Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio.