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Pesquisadores associados à Abrasco propõem revisão crítica do campo da toxicologia

Letícia Maçulo

Foto Eric Brehm/Unsplash

Em 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu pela permanência do uso do Glifosato no Brasil. Em reavaliação desde 2008, a decisão desconsiderou estudos realizados pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc) que classificou esse agrotóxico como provável carcinógeno para humanos. Para evitar a tomada de decisões que afetem negativamente a saúde da população, pesquisadores associados à Abrasco e integrantes do GT Saúde e Ambiente/Abrasco propõem revisões metodológicas apreciadas internacionalmente para estudos sobre agrotóxicos. 

Para os pesquisadores responsáveis pela revisão dos estudos de toxicologia, área que estuda os efeitos dos agrotóxicos na saúde humana, essa e outras decisões se baseiam em metodologias que atendem os interesses do mercado, interferindo no processo científico. Pesquisadores denunciam a prática como “ abuso político da ciência”. 

A divulgação judicial de documentos internos da Monsanto, uma das maiores produtoras de agrotóxicos formulados com glifosato, atesta que a  transnacional não avaliou adequadamente a toxicidade de seus produtos, ocultou estudos com resultados desfavoráveis à empresa, contratou ‘escritores fantasma’ (pesquisadores renomados que, embora não tenham participado dos estudos financiados pela indústria, assinaram sua autoria para conferir credibilidade às publicações), interferiu no processo de revisão por pares em artigos submetidos à periódicos científicos, influenciou na criação de um site pretensamente acadêmico para defender seus produtos e perseguiu instituições e pesquisadores independentes que publicaram estudos revelando a toxicidade do glifosato. 

Para pesquisadores do GT Saúde e Ambiente, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), decisões como a que permitiu o uso do Glifosato, lançam um alerta sobre a necessidade de se reavaliar as metodologias responsáveis pelo estudo dessas substâncias. “Assim como outras disciplinas que no campo da saúde coletiva passaram por revisões teóricas e metodológicas, a toxicologia há alguns anos vem passando por esse processo também. Nós temos um grupo bastante robusto de pesquisadores de diversas instituições, todos associados à Abrasco e temos feito um trabalho sistemático de revisão desse campo disciplinar.”, afirma Lia Giraldo, pesquisadora e integrante do Grupo Temático.

Recentemente, o artigo “Toxicologia crítica aplicada aos agrotóxicos – perspectivas em defesa da vida” chamou atenção de pesquisadores mexicanos e da Universidade de Guadalajara, que realizou a tradução  para o espanhol e produziu  um encarte para difusão do estudo, levando a produção científica brasileira para toda a  América Latina.

Clique aqui e confira a publicação no site da Rede de Ação Sobre Pesticidas e Alternativas no México (Rapam)

A pesquisadora alerta para a necessidade de revisão profunda da toxicologia para superar o modelo linear causa/efeito, ou de dose/resposta. Esse reducionismo clássico guia a maioria dos estudos dos efeitos dos agrotóxicos na saúde. “Principalmente por conta dos efeitos crônicos, esse modelo absolutamente não se sustenta. Um grupo importante de pesquisadores está dedicado a esse trabalho de construir uma perspectiva de Toxicologia Crítica. Esse artigo é um dos produtos de síntese que está sendo bem apreciado e há convites internacionais para se ampliar o debate com outros especialistas, toxicologistas, sanitaristas, epidemiologistas, clínicos e outros estudiosos de países da américa latina.

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