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Pesquisadores debatem os malefícios das ações de rastreamento no mundo e no Brasil

Suelen Rocha - Comunicação do Departamento de Saúde Pública - SPB/UFSC

As campanhas de rastreamento (Outubro Rosa e Novembro Azul) foram implementadas no Brasil como medida de Saúde Pública e são difundidas por sociedades médicas e entidades da sociedade civil como preventivas do câncer de colo de útero e de próstata, respectivamente. Apesar da popularização, esse tipo de medida vem sendo criticada por instituições brasileiras e internacionais. Para problematizar o tema e discutir os benefícios e malefícios desse tipo de campanha de prevenção, Isabel dos Santos Silva, pesquisadora da London School of Hygiene and Tropical Medicine;  Luiz Carlos Zeferino, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp), e Arn Migowski, do Instituto Nacional do Câncer – INCA, compuseram a mesa-redonda “A epidemiologia e os meses coloridos: análise crítica das ações de rastreamento”, realizada na tarde de 10 de outubro, durante o X Congresso Brasileiro de Epidemiologia. A moderação foi de Gulnar Azevedo, diretora do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/Uerj).

A prática do rastreamento consiste na realização de testes ou exames diagnósticos em populações e pessoas sadias (assintomáticas) visando o diagnóstico precoce, a identificação e controle de riscos. Os palestrantes enfatizaram as razões maléficas da utilização do rastreamento, na qual convergiram nas opiniões. Isabel dos Santos trouxe como exemplos pesquisas realizadas na London School of Hygiene and Tropical Medicine, no Reino Unido, sobre epidemiologia do câncer no Brasil e na África. De acordo com os dados apresentados, houve uma redução de 20% na mortalidade por câncer de mama em participantes de um programa de rastreamento de 20 anos de seguimento; porém, essa redução foi acompanhada de efeitos nocivos como sobrediagnóstico de casos, resultados falsos negativos e falsos positivos. Além disso, outro dado revela que, no Reino Unido, de 4 mil pessoas submetidas ao rastreamento, somente 1,3 mil foram curadas por diagnóstico de câncer.

A faixa etária assídua nos exames de câncer de mama e colo de útero é um dos malefícios do rastreamento. De acordo com Luiz Carlos Zeferino, o processo de rastreamento não apresenta garantia de tratamento e de diagnóstico nos casos de exames oportunísticos, ou seja, da faixa etária jovem que é a mais submetida ao exame de rastreamento. “Não temos um sistema de informação que registre quantas mulheres na faixa etária adequada (50-69 anos) fizeram os exames e continuam sendo tratadas”, problematiza. Além disso, Zeferino apresentou que, de mil mulheres que fazem o rastreamento mamográfico de forma bienal ou trienal, apenas 43 casos tiveram como causa mortis o câncer de mama. Para ele, isso demonstra que as campanhas são “um modelo pouco eficiente, com baixa efetividade e com danos desnecessários”.

Arn Migowski, chefe da Divisão de Detecção Precoce de Câncer e Apoio à Organização de Rede do INCA, avaliou que mais de 20% dos exames são realizados fora da faixa etária de risco e apenas 11% com periodicidade correta. “Na prática clínica, o rastreamento tende ser ainda mais agressivo em função da medicina defensiva e superestimação de risco de desenvolvimento do câncer, mais afetando do que cuidando das mulheres jovens que se submeteram ao procedimento”, concluiu.

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