Na semana passada (1/11) Tereza Cristina, ministra da Agricultura, decidiu manter a pesca de crustáceos em praias atingidas pelo petróleo, no Nordeste. A ordem contradiz o posicionamento de cientistas, como os do Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho da Universidade Federal da Bahia (PPGSAT/UFBA), que publicaram nota, endossada pela Abrasco, sobre os riscos que a situação representa para a saúde pública. O jornal O Globo entrevistou o professor Paulo Pena, que compõe o quadro docente do PPGSAT. Confira trechos:
Professor do Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Paulo Pena condena as declarações dos ministros.
— É uma irresponsabilidade negar que estamos lidando com um produto extremamente tóxico — sublinha. — O governo deveria decretar estado de emergência em saúde pública, disponibilizando mais recursos humanos, econômicos e laboratórios para mapear as praias atingidas, as comunidades pesqueiras afetadas e a toxicidade do óleo.
Segundo os pesquisadores, ninguém deve se banhar nas praias ou se alimentar de peixes que têm ou tiveram registro de óleo, mesmo que aparentemente limpos.
— Por prudência, não é recomendado — pondera Pena. — O óleo passou por águas rasas e profundas e pode ter se diluído na areia. Também é possível ver os resíduos da substância nos manguezais, onde trabalham os pescadores.
Ação de vigilância
Uma carta elaborada por cientistas da UFBA destacou que, embora milhões de pessoas frequentem praias e consumam pescados e mariscos, ainda não houve uma “ação efetiva do Sistema de Vigilância em Saúde para garantir segurança alimentar e nutricional a essa população”. Os componentes do óleo penetram o organismo dos animais e, por isso, podem contaminar quem os ingerir. O documento, endossado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), recomenda a interdição das atividades de pesca e mariscagem nas áreas oleadas e a mobilização de unidades do SUS para orientar os consumidores.
Procurado pelo GLOBO, o Ministério da Saúde afirmou que Mandetta sustenta que “não foram encontrados elementos que comprovem risco à saúde pública”: “O ministério sabe que produtos derivados do petróleo, como o benzeno, são prejudiciais à saúde, mas reforça que sua concentração no petróleo bruto como encontrado neste momento pode variar de menos de 0,5% a 4% do total. Portanto, para uma exposição ao benzeno, considera-se que o risco seja baixo, até o momento”.
Os ministérios da Agricultura e do Turismo não responderam à reportagem.
Em transmissão ao vivo em rede social, ontem, o presidente Jair Bolsonaro disse que “já está mais do que comprovado que o óleo é da Venezuela” e que “talvez consiga um tempo para ir na região” para “dizer que estamos realmente preocupados com o Nordeste”. A seu lado, o secretário da Pesca e Aquicultura, Jorge Seif Júnior, afirmou que os pescados brasileiros foram testados e são “perfeitamente” seguros para consumo.
Leia matéria completa, publicada no O Globo.