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'Pessoas que foram eleitas pelo voto deveriam ser atendidas no SUS' diz Ligia Bahia em entrevista

Vilma Reis com informações de Carla de Paula Pinto

Confira a entrevista que a professora Ligia Bahia concedeu à jornalista Carla de Paula Pinto, editora da revista Healthcare Management sobre Saúde Pública e os desafios para 2015.

Acesse aqui o PDF da matéria ou leia baixo o texto na íntegra:

REVISTA – Quais são os maiores desafios do próximo mandato de Dilma Rousseff quanto à Saúde Pública?

LIGIA BAHIA – Compatibilizar necessidades de saúde de uma nação que convive simultaneamente com envelhecimento da população, violências, e aumento absoluto e relativo de doenças crônicas e aumento absoluto de algumas doenças infecciosas. O perfil demográfico e epidemiológico endereça desafios imensos para as políticas de saúde.

REVISTA – Atualmente, vivemos em um cenário econômico de muito pessimismo. Como isso pode refletir na Saúde do País? Com podemos atravessar este mau momento na Saúde?

LIGIA BAHIA – Tudo seria um pouco melhor se tivéssemos um bom sistema público de saúde, a inflação dos gastos dos orçamentos domésticos com saúde é um problema muito sério. Nesse momento o que temos a fazer é por os fatos em cima da mesa. A recessão econômica associada com um sistema de saúde ainda insuficiente será um fator de desgaste político se não forem tomadas medidas tais como investir na saúde, inclusive estancando a sangria de recursos públicos que financiam o setor privado.

REVISTA – Uma das promessas de Dilma Rousseff é o fortalecimento do SUS. Em sua opinião, o que é necessário para que isso seja feito?

LIGIA BAHIA – De muitas maneiras. Uma bem simples, mas não simplória. Pessoas que foram eleitas pelo voto deveriam ser atendidas na rede SUS, isso tem um enorme valor simbólico, além disso o fato de políticos se tornarem usuários d o SUS e não apenas discursarem sobre a rede pública estimularia restringir gastos públicos com serviços privados de saúde para parlamentares dos três níveis de governo, magistrados e funcionários do Poder Executivo. Outras medidas dizem respeito a sustentabilidade material e política do SUS e portanto, políticas tecnológicas e científicas adequadas às necessidades de saúde e redução de custos.

REVISTA – Outro problema muito abordado no setor é o reajuste da tabela SUS. Qual a sua opinião a respeito?

LIGIA BAHIA – Sistemas modernos de saúde não utilizam tabelas para remunerar serviços, o modelo tabela está ultrapassado foi substituído pelo pagamento baseado nos diagnósticos ou pelo pagamento por capitação (no qual estima-se um valor por cada habitante). O Brasil parou no tempo. O que precisamos é de um padrão de remuneração que seja condizente com os custos (o que determinados das tabelas atuais de fato não cobrem) e que não estimule que serviços de saúde se tornem vendedores de materiais e medicamentos, cometam fraudes contribuam para a construção um sistema de informação sobre saúde.

REVISTA – Qual a sua opinião sobre a cultura de serviços públicos na saúde?

LIGIA BAHIA – Temos serviços públicos excelentes, mas ainda não fomos capazes de realizar transformações vitais para o SUS entre as quais a compreensão de que o servidor público serve ao público. A confusão entre direito e favor é um elemento que está presente no atendimento de diversos pontos de cuidados da rede pública e gera constrangimentos para pessoas que já estão fragilizadas pela condição de saúde.

REVISTA – O problema da Saúde Pública no país é o financiamento público que não é suficiente para a garantia de um acesso de qualidade? Falta dinheiro ou temos que melhorar a gestão? Como fazer isso?

LIGIA BAHIA – Falta os dois, esse é um tipico problema do subdesenvolvimento. falta de recursos conjugada com a má qualidade de uso dos existentes. Temos que brigar contra a concepção errônea segundo a qual não é necessário prover mais recursos para a saúde a ao mesmo tempo mudar práticas clientelistas de gestão tais como fazer da saúde moeda de troca de articulações partidárias.

REVISTA – É importante mudar a cultura dos sistemas de saúde e fazer com que os pacientes sejam participantes ativos em seus próprios serviços de saúde? Por que?

LIGIA BAHIA – Sim é importante que a população decida sobre prioridades e estratégias para alcança-las, do contrário a tendencia é que prevaleçam políticas pautadas por interesses imediatistas (nos prazos de gestão de cada governo) ou apenas técnicos (que não levem em consideração as características socioculturais).

REVISTA – Diante do estrangulamento de nosso sistema de saúde público, qual é a importância em investir em atenção primária e medicina preventiva na sua opinião?

LIGIA BAHIA – A Atenção Primária é uma alternativa de coordenação dos cuidado, adotada inclusive em países ricos e justificada em função da necessidade de propiciar atenção continuada e personalizada aos cidadãos. O Brasil acerta ao investir na Atenção Primária

REVISTA – Em se tratando de um país de dimensões continentais como é o Brasil, qual é a grande aposta para levar saúde a todos os cidadãos? Seria a telemedicina um caminho para isso? Como criar uma rede centralizada?

LIGIA BAHIA – Sim sem dúvida, as tecnologias de informação entre elas a telemedicina poderiam contribuir muito para ampliar acesso com qualidade no Brasil.

REVISTA – Diariamente vemos diversos casos de Santas Casas e instituições de saúde que não consegue manter os fornecedores e profissionais. Qual o melhor meio para que essas instituições recuperam sua saúde financeira?

LIGIA BAHIA – Esse é um problema, mas não existe homogeneidade, existem santas casas mais inseridas nos sistemas locais e regionais e outras muito dependentes de anistias de dividas, concessões e rolagem de empréstimos, ou seja de apoios políticos. O melhor meio é que elas integrem a rede do SUS se adequando a situação sanitária de suas sedes.

 

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