Com frequência, nós nos perguntamos como prosseguir na longa maratona em que a vida se transformou. Não sabemos quando e onde ela acaba, mas queremos chegar bem ao final.
Para usufruir desse longo caminho, a saúde é capital, inclusive para tornar viável o envelhecer, sempre a melhor de duas opções —só nos resta outra, a morte prematura.
Pode não ser fácil, exige constância e propósito. Saúde para continuarmos caminhando bem. É um dos pilares do envelhecimento ativo. Do meu? Do seu? De todos. Fortalecer a saúde não é uma tarefa solitária, requer um esforço coletivo.
Saúde é criada no contexto do dia a dia: onde vivemos, trabalhamos, nos locomovemos, divertimos, brincamos, amamos. Logo, escolhas mais saudáveis devem ser as mais acessíveis, fáceis e baratas.
Nossa tarefa coletiva é lutar por políticas públicas que promovam a saúde de todos. Que possam diminuir o fosso injusto entre os envelheceres, permitindo velhices dignas para todos.
Para isso, as políticas públicas devem estar alinhadas aos princípios do envelhecimento ativo: saúde, educação ao longo da vida, participação e segurança. Assim, serão mais amigáveis para todas as idades.
Nesta pandemia do Covid-19, vimos nossa velhice ameaçada. Muitos não teriam sobrevivido sem o SUS, o sistema universal, público, de saúde É preciso proteger os mais velhos, os mais vulneráveis, os que vivem só ou em instituições.
Utilizar a ciência e a tecnologia de acordo com as necessidades, sem barreiras cronológicas, pode impedir o abreviar da vida dos idosos.
Por ser financiado por todos, o SUS não impõe distinções de idade, raça, cor, gênero ou renda. Para que possa sobreviver, o sistema exige o reconhecimento e defesa da sociedade.
Precisa também de mais investimentos e controles, em particular, na atenção básica, nos territórios de toda a cidade, articulando e compondo as políticas sociais que salvam vidas. Requer a escuta aos idosos para dar respostas às necessidades de uma sociedade que envelhece, muito além dos desejos do mercado ou do próprio estado.
O SUS é amigo de todas as idades por incorporar os princípios de universalidade: políticas públicas de saúde para todos; integralidade e integração dos serviços; e equidade —condições de igualdade e inclusão. Constrói redes de cuidados, seja para os mais ativos ou para os mais dependentes, promovendo autonomia e independência.
Precisamos, sim, de um SUS para envelhecer e viver melhor. Um sistema de saúde e não da doença, articulado a um sistema forte de proteção social, compromissado pela igualdade.
Nosso bom envelhecer pressupõe escolhas acertadas, do nosso comportamento no dia a dia à que fazemos na hora de votar. Quais são as suas?
Envelhecer e ter um sistema público de saúde não é benefício, é direito —e direito se conquista a cada dia. O caminho se faz caminhando.
*Marília Louvison é professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP USP), membro do Conselho Deliberativo da Abrasco e do GT Envelhecimento e Saúde Coletiva da Abrasco.
Artigo publicado originalmente no jornal Folha de São Paulo no dia 10 de outubro de 2020, na seção Como chegar bem aos 100, que tem a curadoria de Alexandre Kalache, coordenador do GT Envelhecimento e Saúde Coletiva da Abrasco.