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Programação cultural do Abrascão pautou determinação social da saúde

Luiza Gomes - Cooperação Social Fiocruz

Os sons, as cores, os aromas e as texturas no Abrascão 2018. Foto Rafael Venuto / Abrasco

Entre cortejos, rimas, poesias, tambores e passos de dança – linguagens artísticas tão distintas -, uma mesma afinação: a cultura como campo que também reflete e se expressa a partir de um olhar crítico sobre a saúde. Com recorte político e territorial, a curadoria do evento buscou alinhar os grandes temas em pauta no 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão 2018), na Fiocruz, com o refinamento estético, a performance crítica, e expressões culturais de povos tradicionais.

Um exemplo da diversidade refletida na programação é que mais de 40% das atividades do Congresso trouxeram a pulsação de vida e criação de grupos vindos de territórios vulnerabilizados da cidade do Rio de Janeiro – das favelas de Manguinhos, Complexo do Alemão, da Maré, de bairros da Zona da Leopoldina, Campo Grande e municípios da Baixada Fluminense – localidades fora do eixo comercial de produção cultural.

ACESSE AQUI os diversos álbuns de fotografias com os registros culturais do Abrascão 2018

E isso não foi ao acaso, segundo a coordenadora da sub-comissão, Adriana Coser, da Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz. “Buscamos valorizar a experiência e grupos desses territórios. Dança, poesia, fotografia, e música estiveram plenamente articuladas com a programação científica, nos divertindo e emocionando”, valorizou.

Em um evento com enorme concentração de intelectuais do campo da saúde, sanitaristas, agentes públicos, e militantes, a curadoria coletiva adotou a proposta de reunir atrações que estivessem ali não apenas pelo entretenimento, mas também para instigar a reflexão sobre as condições de vida do brasileiro. É o que afirma Felipe Eugênio, membro da sub-comissão e coordenador da área de Território, Arte e Saúde do Programa de Promoção de Territórios Urbanos Saudáveis da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz.

“A reflexão central que fizemos era da importância das artes e da cultura nos determinantes sociais da saúde. Nesse sentido, foi muito estratégico chamar aqueles que produzem arte a partir de territórios vulnerabilizados e cuja proposta estética fosse provocada pelas condições da realidade, e que, além disso, tivesse um compromisso de enfrentamento das injustiças presentes no nosso tempo”, explicou.

Saúde mental, desmonte do SUS, e questão de gênero

Na programação, a saúde mental e sua relação com as condições de vida e ambiente apareceu como tema da apresentação do Hip Hop Saúde, artistas das favelas de Manguinhos que produziram repertório especial para o Abrascão, no primeiro dia de congresso, na quinta-feira; e da instalação Programa de Volta para Casa: 15 anos em foto e vídeo dos egressos do sistema psiquiátrico de Barbacena-MG – realização do Núcleo de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas da Fiocruz Brasília, Radilson Carlos Gomes e equipe da TV Pinel -, localizada no Centro de Recepção do Museu da Vida.

A exposição Ausências, de autoria da fotógrafa Nana Moraes, retratou com sensibilidade a realidade de mulheres presas e suas relações com filhos e familiares, e foi inaugurada durante o evento, tendo recebido a visita, inclusive, da ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, que participou da Conferência de Abertura do Congresso. Além dela, a mostra fotográfica do Projeto Marias – Como posso ajudar meu filho especial? mostrou um pouco das atividades da rede de apoio para familiares de pessoas com deficiência residentes no Complexo de Manguinhos. A realização ficou a cargo do Coletivo Experimentalismo Brabo.

A Tenda Paulo Freire apresentou esquetes teatrais a partir de perspectiva de raça, classe, e gênero. O Coletivo Xica Manicongo apresentou ao público as experiências vividas por pessoas LGBTs em situação de vulnerabilidade em linguagem teatral. No mesmo espaço, a performance Na UTI abordou a situação atual de falta de investimentos e desmonte das políticas de saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), na quinta-feira (26/7), preambulando roda de conversa sobre o mesmo assunto. Dois dias depois, O impacto da violência na nossa saúde provocou o público da Tenda acerca da realidade violenta vivida pelos moradores de favelas, e a lida cotidiana envolvendo os conflitos armados, no sábado (28/7).

Da Tenda, partiram os cortejos de maracatu pelo grupo Baque Mulher, original de Recife, na quinta-feira, e o Cortejo com a Trupe Circo Escola Benjamin de Oliveira, da ONG Centro de Desenvolvimento Se Essa Rua Fosse Minha, fundada pelo sociólogo Betinho, na sexta-feira (27/7), conduzindo o público aos debates nas Grandes Tendas. Trazendo a beleza e força das manifestações culturais de matriz africana, a Cia. Banto se apresentou no lançamento da 16ª Conferência Nacional de Saúde, no sábado em frente ao Castelo de Manguinhos – que neste 2018 comemora seus 100 anos de existência. Karamundunga – Intervenção da palavra trouxe contos populares da América Latina, Grécia, da tradição sufi e outros, em duas edições, na sexta e no sábado.

Participaram da sub-comissão de cultura do Abrascão o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense (UFF), a Presidência da Fiocruz por meio de sua Coordenação de Cooperação Social e da Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), o Museu da Vida da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), o Programa de Qualificação em Educação Popular em Saúde (EdPopSUS) da Escoola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), e o Sindicato dos trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN).

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