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Pulverização aérea do Aedes é ‘irresponsabilidade’, alerta cientista paraibano

Vilma Reis com informações de Rubens Nóbrega

A Lei 13.301/2016 autoriza a pulverização aérea de substâncias químicas sobre as cidades, como meio de combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya. Trata-se de uma “irresponsabilidade”, adverte o Professor Eduardo, pesquisador do Departamento de Biologia do Centro de Ciências Básicas e da Saúde, da Universidade Estadual da Paraíba/Campina Grande. Ele alerta ainda que o procedimento é ineficiente e não controla os mosquitos Aedes.

Pulverizar não é a solução, não funciona:

1) os adultos fêmeas do Aedes encontram-se nas residências, geralmente se escondem em abrigos, por atrás de armários, embaixo de mesa, camas etc. Isso impede que o inseticida atinja o inseto;

2) para ser eficiente é preciso que uma gotícula do inseticida atinja o adulto;

3) o Brasil há anos utilizou o temefós no controle vetorial de larvas e adultos, o que levou ao desenvolvimento da resistência ao inseticida. Monitorei por mais de dez anos várias amostras populacionais da Paraíba e todas apresentavam altos índices de resistência;

4) o temefós e o malathion têm o mesmo modo de ação, ou seja, bloqueiam a acetilcolinesterase na transmissão sináptica no sistema nervoso. Assim, se é resistente a um, é ao outro. Resistência cruzada. Não vai funcionar o controle. Me parece aí uma intenção clara de beneficiar um setor em crise, que é o da pulverização agrícola em detrimento da saúde pública e dos danos ambientais que serão causados.

A manifestação do professor e pesquisador da UEPB faz coro com a maioria das organizações de saúde, de combate a agrotóxicos e de representantes do Ministério Público do Trabalho (MPT), como o procurador regional do órgão em Pernambuco, Pedro Serafim, coordenador do Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (FNDCIA), para quem a lei sancionada por Temer “tem potencial para causar doenças nos seres humanos e outras espécies, além de perdas econômicas”.

Já o coordenador do Grupo de Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Marcelo Firpo, classificou a autorização prevista na lei como um “retrocesso civilizatório”, expressão destacada em matéria publicada pela Agência Brasil no último dia 29. “Segundo ele, as áreas afetadas vão ser usadas como laboratórios”, acrescenta, lembrando ainda que a lei não delimita que substâncias serão permitidas ou proibidas nas pulverizações.

Eduardo é licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual da Paraíba (1987), com mestrado em Entomologia pela Universidade Federal de Viçosa (1995) e doutorado em Entomologia pela Universidade de São Paulo (2001). Atualmente é professor Associado A da Universidade Estadual da Paraíba. Tem experiência na área de Zoologia, com ênfase em Bioecologia de insetos, atuando principalmente nos seguintes temas: dengue, vetor, insecta, Aedes aegypti e Aedes albopictus.

 

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