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Quando a Abrasco foi presidida por mulheres

Vilma Reis

Durante os 35 anos da história da Abrasco, houve um momento em que a Associação foi presidida por mulheres: Maria Cecília de Souza Minayo e Rita de Cássia Barradas Barata fizeram de 1994 a 2000 uma Abrasco diferente.

Cecília

Tinha primeiro que congregar, debater, para criar um primeiro congresso. Ainda não havia uma união das forças de ciências sociais. Até a década de 1990, tudo estava canalizado para a questão da constituição do SUS, para a formulação da nova política de saúde. Em síntese, as ciências sociais demoraram um pouco porque ela não tinha uma organicidade entre os cientistas sociais para se criar um congresso, apesar de que, internamente na Abrasco já havia algumas iniciativas, mesmo que esparsas, em 1982 tivemos uma reflexão sobre o ensino e pesquisa em ciências sociais, havia alguma coisa assim, mais pontuais. Além disso, era necessário o suporte da Abrasco, e não é por acaso que ocorre quando a Minayo é presidente…’ (entrevistado de artigo científico sobre o 1º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais em Saúde de 1995, em Curitiba, quando Maria Cecília de Souza Minayo era presidente da Abrasco)

Em 1978 Maria Cecília graduou-se em Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, a seguir concluiu a graduação em Ciências Sociais, em 1979, pela City University of New York. Tornou-se mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1985 e recebeu da Fundação Oswaldo Cruz o grau de doutora em Saúde Pública em 1989.

Depois Maria Cecília esteve na Abrasco e a Abrasco esteve com a Cecília. ‘A professora Cecília coordenou um processo de avaliação do campo da Saúde Coletiva, naquela época, que foi fundamental para ampliar, fortalecer e legitimar o espaço da SC dentro da comunidade científica e inclusive nos órgãos de gestão: Ministério de Ciência e Tecnologia; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e outros. Ela também é responsável pela criação da Revista Ciência & Saúde Coletiva – que está completando 20 anos e se tornou uma das mais importantes revistas do campo da saúde em geral. Para mim, a contribuição da professora Maria Cecília Minayo foi fundamental para a Abrasco e esta contribuição extrapola a Associação, Cecília é nossa militante da Saúde Coletiva. É um nome que honra nossa história’. Resume emocionado Luis Eugenio Souza, atual presidente da Abrasco.

Contada por ela própria, a história de Cecília com a presidência da Abrasco começa com Arlindo Fábio de Souza que fez o convite para a candidatura de Cecília. ‘Fiz minha candidatura e fui eleita sem maiores conflitos, apenas pequenas dificuldades apareceram. Felizmente posso dizer que nem na presidência da Abrasco e nem em toda minha carreira científica fui discriminada por ser mulher’ conta a socióloga. ‘Quando presidente, coordenava um grupo coeso de diretores e tínhamos um plano muito concreto de fazer uma avaliação da Pós-Graduação stricto sensu, além de representar a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no Conselho Nacional de Saúde e a Abrasco nos fóruns de discussão política da Saúde Pública. Fizemos o Congresso Internacional de Epidemiologia, abrigamos um congresso dos Conselhos de Saúde, um Congresso da Associação Latino-americana de Medicina Social (Alames)  e concretizamos o 1º Congresso de Ciências Sociais em Saúde. Dividimos as tarefas entre a diretoria e as diferentes comissões. Creio que, na medida do possível coordenei bem o trabalho da diretoria. Fizemos algumas reformas no Estatuto e terminamos o mandato tendo cumprido as metas a que nos propusemos’ conta Cecília.

Você acha que as mulheres avançaram no campo da Saúde Coletiva? ‘As mulheres estão em cheio no campo da Saúde Coletiva! Têm dado uma contribuição importantíssima e elevado o nível científico da área. Nossos estudos mostram que nos cursos de formação stricto e lato sensu já somos mais da metade dos docentes e em todos os níveis de política, gestão, serviços, ensino e pesquisa, a presença feminina é maior – MENOS NOS NÍVEIS MAIS ELEVADOS DE PODER DO MINISTÉRIO DA SAÚDE E DAS SECRETARIAS’ responde Maria Cecília em caixa alta e arremata: ‘Espero que esse passo importante chegue, pois as mulheres não podem apenas cumprir tarefas. Mas simplificando a resposta, é impossível pensar a saúde coletiva hoje sem enaltecer a presença importante e eficiente das mulheres’

 

Rita

‘Na verdade, quando Cecília e Péricles (Péricles Silveira da Costa, secretário executivo da Abrasco entre os anos de 1989 e 2003) propuseram que eu apresentasse meu nome na candidatura para a presidência da Abrasco, eu fiquei muito surpresa… me considerava muito jovem para isso! Na época eu tinha 34 anos. Minha eleição também foi atípica já que por uma série de circunstâncias não ocorreu em um dos nossos congressos e sim durante a 10ª Conferência Nacional de Saúde’ relembra Rita Barradas.

Sob a presidência de Rita de Cássia Barradas Barata e em mais uma promoção conjunta com a Associação Paulista de Saúde Pública (APSP), a Abrasco realizou de 25 a 29 de agosto de 1997, em Águas de Lindóia – São Paulo, o 5º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva com o tema “Saúde, responsabilidade do Estado contemporâneo”. Nesta reportagem da Radis, é possível ler entrevista da presidente da Abrasco na época “Os princípios que estão na base da formulação do direito à saúde estão ameaçados no embate entre as condições individualistas trazidas pela onda neoliberal e as concepções coletivas e solidárias” opinou Rita Barradas na reportagem da época.

Entre 1975 e 1993 Rita se graduou Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, se tornou mestre e doutora em Medicina Preventiva pela Universidade de São Paulo. Ao site da Abrasco Rita contou que a experiência na presidência da Abrasco lhe trouxe uma visão muito mais concreta da política nacional de saúde, da política científica no país e da pós-graduação brasileira. ‘Sendo de São Paulo, por mais que eu tivesse contato com docentes e pesquisadores de outros estados, minha visão era bastante enviesada. Estar no Conselho Nacional de Saúde me permitiu um contato grande com as principais entidades representativas e movimentos sociais atuantes no campo da saúde. A relação com a SBPC, o CNPq e a CAPES também foram intensas durante o mandato. Finalmente o meu, também por circunstâncias particulares, foi o mais longo mandato na diretoria pois terminei ficando à frente da associação durante quatro anos para que a eleição do novo presidente voltasse a ocorrer em nossos congressos’ explica a atual editora científica da Revista de Saúde Pública e representante da comunidade acadêmica no Conselho Superior da CAPES.

‘Evidentemente, ter sido presidente da Abrasco me possibilitou a inserção e a circulação nacional que mantenho desde então. Acho que o campo da Saúde Coletiva vem apresentando um processo de feminilização crescente – penso que desde a criação da Associação já havia um número importante de mulheres com atuação destacada na área’ conclui Rita.

Depois de presidir a Abrasco, Rita foi Coordenadora da Área de Saúde Coletiva na CAPES, representante na Grande Área da Saúde no Conselho Técnico Científico da Educação Superior e representante do CTC-ES no Conselho Superior.

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