A falta de políticas públicas de cuidados de longa duração com idosos, foi o tema debatido no 9º Congresso Brasileiro de Epidemiologia – o Epivix, escolhido pela Rádio CBN Vitória. A jornalista Natália Devens ouviu duas pesquisadores convidadas do Epivix. Confira o texto e o áudio da entrevista:
A necessidade de melhorar as políticas públicas voltadas para a assistência de saúde do idoso foi defendida por dezenas de especialistas da área de saúde pública durante o 9º Congresso Nacional de Epidemiologia, em Vitória. Nesta segunda-feira (8), foram debatidos os desafios do envelhecimento e as possíveis soluções para mudar o quadro atual. Segundo dados do Ministério da Saúde, atualmente 25% dos idosos do país necessitam de cuidados de longa duração. Desses, 20% possuem alguma dificuldade funcional, 4% estão acamados e 1% moram em instituições de longa permanência, como asilos.
A professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Yeda Duarte explica que são justamente esses idosos, os que possuem problemas sérios de saúde e os que moram em instituições, e seus familiares que mais sofrem, pois não há políticas públicas de cuidados de longa duração. Ela salienta também que não é preciso criar novas leis para atender a terceira idade, basta executar as que existem, o que normalmente não ocorre.
“Essa tem sido uma discussão grande em nível nacional, que é criar uma política de cuidados de longa duração. Mudar a lógica da política de assistência social e de saúde pensando nisto: que eu vou ter uma população mais envelhecida, mais dependente, que vai precisar de cuidado e como a gente vai fazer isso. Por outro lado, temos que trabalhar toda uma questão do envelhecer melhor. Alcançar uma velhice mais longeva em melhores condições”, afirmou à Rádio CBN Vitória.
A professora também ressaltou que os programas à saúde devem começar mais cedo, mudando a consciência da população para mostrar que ela vai viver muito e precisa se cuidar. Como alternativa, foi apresentada uma experiência que está sendo realizada em São Paulo e em outras três cidades e tem tido sucesso. Foi criado um Programa de acompanhantes de idosos, ligado à Secretaria Municipal de Saúde e totalmente financiado pelo poder público, fornecendo cuidadores para atender idosos que moram sozinhos e não têm quem os ajude. Ela acredita que isso muda a lógica da assistência à saúde e faz com que muitos idosos não precisem ir para asilos.
A pesquisadora Maria Lúcia Lebrão, também da USP, lembrou também da necessidade de se investir mais no atendimento primário da saúde, prevenindo e monitorando as doenças crônicas, o que pode evitar futuras internações. Esse procedimento, inclusive, é mais barato para o sistema de saúde. “As pessoas não frequentam a unidade básica. Você não provê a essas pessoas, idosos ou não, um atendimento básico antes delas precisarem do hospital. É tudo muito relegado a segundo plano, e quando se fica doente acaba tendo que ir para o hospital. O hospital é caro e é um sistema que o SUS não vai suportar”, defende.
A dona de casa Anélia Barcelos, de 62 anos, preferiu fazer um plano de saúde, mesmo sendo caro, após ter más experiências nas unidades de saúde do bairro em que mora, em Vila Velha. Anélia acredita que o sistema público ainda tem muito o que melhorar para que os idosos não sejam reféns do sistema particular.
“Eu acho que deveria haver mais médicos. Porque geralmente nos postos de bairro tem pouco médico. Também acho que as enfermeiras deveriam ser mais atenciosas, principalmente com os idosos. Em primeiro lugar está a saúde”, disse.
O Congresso de Epidemiologia acontece até o dia 10 de setembro, quarta-feira, com palestrantes de vários locais do país e do mundo, e uma variedade de temas.