As mudanças anunciadas no Censo Agropecuário pela presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último dia 3 de abril têm mobilizado importantes segmentos da academia brasileira e da sociedade civil. No último dia 19, foi a vez da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede BPSSAN) encaminhar manifestação contrária a Paulo Rabello de Castro, presidente do IBGE, questionando mudanças de tão grande impacto na agricultura brasileira.
No documento é reforçado o quão prejudicial tal medida mostra-se para as investigações científicas sobre os modelos produtivos presentes no meio rural brasileiro. Para os pesquisadores, a dita “simplificação” do censo apaga temas como a utilização dos agrotóxicos nas lavouras, e condições de trabalho, o que impacta nos debates sobre agricultura familiar; saúde no campo; soberania e segurança alimentar e nutricional, levando o IBGE a uma posição institucional que reforça a manutenção das iniquidades no campo e contribuindo, assim, para a violação dos direitos dos agricultores, de famílias inteiras e dos trabalhadores rurais.
“Manifestamos fortemente nossa preocupação com as repercussões disso, a curto, médio e longo prazos, na definição de políticas públicas de Segurança Alimentar e Nutricional que prezam por ações que viabilizem a produção e o consumo de alimentos (saudáveis e adequados), seguindo os princípios da sustentabilidade. (…) Os dados do Censo Agropecuário de 2006 já apontavam o papel estratégico da agricultura familiar na alimentação da população brasileira. Desde então, um conjunto de ações públicas foi desenvolvido, com vistas a fortalecer e ampliar este modo de produção. Como, certamente, é de vosso conhecimento, não se protege e promove aquilo que não se conhece; a visibilidade é requisito fundamental para a compreensão e o planejamento”.
O documento é assinado por Renato Maluf, coordenador da rede e subscrito pelos demais membros, entre eles Maria Angélica T. Medeiros, professora da UNIFESP/Baixada Santista e vice-coordenadora do Grupo Temático Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva (GT ANSC/Abrasco); Elisabetta Recine, professora da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB e também do GT ANSC/Abrasco, e Veruska Prado Alexandre, professora da UFG e vice-coordenadora do Grupo Temático Promoção da Saúde e Desenvolvimento Sustentável (GTPS/Abrasco). A Articulação Nacional da Agroecologia (ANA) e a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) também já haviam se manifestado publicamente sobre a decisão do IBGE.