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Regina Flauzino: “Todo cientista tem que ir aonde o povo está”

“Todo artista tem de ir aonde o povo está”, canta Milton Nascimento. “E todo cientista tem que ir aonde o povo está”, brincou Regina Flauzino, diretora da Abrasco, durante palestra no Pint of Science Petrópolis 2019, evento que leva cientistas a bares – no Brasil e no mundo – a fim de promover a aproximação da ciência com a sociedade. A professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) compôs o espaço sobre Fake News e Ciência, abordando o movimento antivacina, enquanto Thiago Signorini, especialista em Astronomia e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ministrou uma aula sobre terraplanismo, na noite de 21 de maio.

Em meio ao cenário de cervejas e garrafas, Flauzino expôs à plateia do bar Brew Point o desafio de dar uma aula menos tradicional: “É a primeira vez que venho para o bar conversar sobre isso – venho ainda com vícios de trazer dados e gráficos, porque a gente se apega a estes recursos para tentar mostrar um pouco a verdade. Mas a verdade pode ser mostrada de outras formas”. 

E as mentiras também. Desde o final do século XVIII, mesmo antes da invenção da primeira vacina, contra a varíola, a prevenção à doença já era alvo de ataques religiosos. A professora citou um histórico sermão que atestava que doenças eram enviadas por Deus para punir pecados – e que qualquer tentativa de prevenção da varíola por inoculação (colocar uma pessoa sadia em contato com o vírus variólico para que esta tivesse a doença em sua variação mais branda) seria uma operação diabólica. “Em 1700, 1800 talvez as evidências científicas não fossem tão fortes…mas hoje?”, exclamou.

As explicações encontradas para o antivacinismo no século XXI ainda têm algum fundo religioso – em Nova York, por exemplo, os judeus ultraortodoxos são apontados pelas autoridades como a principal comunidade a boicotar o método preventivo , já que consideram um ato de desrespeito à fé. Entretanto, somam-se às complexas subjetividades a avalanche de fake news (a vacina contra a febre amarela mata? paralisa os rins?), a falsa sensação de confiança – algumas famílias acreditam que se a doença foi erradicada não há necessidade de se proteger – e até mesmo complacência médica, já que alguns advogam a não vacinação de crianças.

No Brasil o movimento antivacina é mais ligado às classes média/alta, e a baixa cobertura vacinal é mais relacionada à dificuldade da população de acessar Unidades de Saúde: “Nós temos orgulho de dizer que temos um Programa Nacional de Imunização. São 40 anos lutando, brigando, conseguimos eliminar sarampo, erradicar a pólio, isto não é brincadeira. Mas temos barreiras: parte população não consegue chegar às Unidades de Saúde. E pior: um governo que não está investindo na área. Como podemos comprar seringas e agulhas? Precisamos de carro, gasolina, em algumas regiões, como na Floresta Amazônica, precisamos de barcos para chegar com as vacinas”, afirmou.

A aula completa sobre o movimento antivacina foi registrada, e é possível assisti-la abaixo:

 

A primeira edição do Pint of Science em Petrópolis reuniu cerca de 750 pessoas – durante os três dias de evento – segundo A Tribuna de Petrópolis.  No Brasil outros 85 municípios receberam o evento.

 

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