O Sistema Único de Saúde (SUS) foi capa da revista Pesquisa Fapesp deste mês de fevereiro. Aumento dos casos de Covid-19, tentativas de desmonte da saúde pública e falta de governança trouxeram à tona as fragilidades e também a importância do SUS no cuidado à população e na garantia do direito constitucional à saúde. A pandemia causada pelo SARS-CoV2 fez mais de 220 mil vítimas e deixou alas de hospitais e unidades de terapia intensiva (UTI) lotadas, evidenciando a importância da universalidade do SUS e que contou com a participação de pesquisadores da Saúde Coletiva integrantes da Abrasco e que estarão presentes no 4º Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão da Saúde, a ser realizado de 22 a 26 de março.
Entrevistado para a matéria, Reinaldo Guimarães, vice-presidente da Abrasco e pesquisador do Nubea/UFRJ, afirma que “apesar dos pesares, o SUS foi uma joia na pandemia. Sem ele, estaríamos em uma situação mais dramática, como se pode ver em países onde as pessoas não procuram assistência porque não podem pagar”. O sanitarista destaca também que o SUS e seus gestores passaram a exercer um papel maior na definição de políticas de pesquisa, o que precisa ser valorizado.
A reportagem cita ainda documento Fortalecer o SUS, em Defesa da Democracia e da Vida, lançado pela Associação em outubro do ano passado, e que propõe a garantia e ampliação de financiamento regular e suficiente ao sistema; investimento estratégico na Atenção Primária à Saúde, ampliando o alcance de programas como o Estratégia Saúde da Família para reduzir os vazios de assistência médica no país; reforço nas políticas de ciência e tecnologia para o Sistema, entre outros aspectos.
Construir um sistema de saúde universal e gratuito em um país com a proporção do Brasil, tanto em dimensão geográfica quanto em densidade demográfica, é uma tarefa desafiadora. Em três décadas de existência o SUS surpreendeu por propor um atendimento ilimitado e sem nenhum tipo de cobrança. “Não conheço sistemas universais de saúde de países com a extensão territorial, tamanho da população e desigualdades regionais e sociais como o Brasil que tivessem o desempenho e os êxitos do SUS em apenas 30 anos, apesar de tantos obstáculos”, garante Jairnilson Silva Paim, professor da Universidade Federal da Bahia.
Pode surpreender, mas a União gasta menos com o financiamento do SUS do que outros países com sistemas universais semelhantes. E mesmo com pouco recurso, a existência de algum tipo de amparo é crucial para a sobrevivência de muitos. Para a abrasquiana Ligia Giovanella, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e coordenadora da Rede de Pesquisas em Atenção Primária (Rede APS), a ideia de que há ineficiências na atenção básica desconsidera fatores como a diversidade geográfica, econômica e social dos municípios. “É impróprio sugerir redução de recursos em um sistema tão subfinanciado como o SUS.”
Para a pesquisadora, uma das formas de tornar o SUS mais eficiente seria apostar na universalização da cobertura de equipes de saúde da família. Atualmente, a cobertura está disponível para apenas 63% da população. “A atenção primária, se bem estruturada, pode resolver mais de 80% das demandas, mas não deve existir descolada de uma rede de qualidade”, afirma. Acesse a matéria completa clicando aqui.
As políticas de saúde em destaque no 4º CBPPGS: Além de Reinaldo Guimarães, Jairnilson Paim e Lígia Giovanella, participaram também da matéria os pesquisadores Fabiola Vieira, do IPEA e Francisco Funcia, da diretoria da Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABrES). Todos os entrevistados estarão presentes nas mesas-redondas do 4º CBPPGS, o congresso temático da área promovido pela Abrasco e, em sua quarta edição, em formato totalmente virtual.
Serão 15 mesas exclusivas com pesquisadoras e pesquisadores de destaque da área, além de mais de 700 apresentações de trabalhos científicos aprovados, em ambiente totalmente virtual e pensado para o público da Saúde Coletiva. Até 5 de março é possível inscrever-se no evento. Saiba mais.