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Reparação e injustiças históricas na saúde: Grande Debate do 9ºCSHS

Na perspectiva da Saúde Coletiva, pensar nas condições de saúde das pessoas não é só avaliar sintomas, ausência ou presença de doenças. É preciso considerar os atravessamentos, tanto individuais quanto sócio estruturais. A história do Brasil – inclusive a recente – é recortada por violências e iniquidades. O Grande Debate “Reparação de injustiças históricas no campo da saúde: ethos, saber, política e ação social”, que aconteceu em 2 de novembro, durante o 9º CSHS, explorou as possibilidades e incoerências acerca da reparação.

Eugene Richardson, pesquisador da Universidade de Harvard (EUA), iniciou o debate apresentando dados de uma pesquisa de 2021, sobre o impacto do racismo estrutural na saúde da população negra nos Estados Unidos, diante da pandemia de Covid-19. Ele demonstrou que se o país tivesse destinado uma reparação financeira aos descendentes de pessoas escravizadas, antes da crise sanitária, o risco de infecção e mortalidade pelo coronavírus seria muito menor naquele grupo social.

Ele afirmou, ainda, que os dados produzidos pelo governo Trump normalizavam as estruturas racistas, e promoviam supremacia branca: “As análises epidemiológicas na pandemia reproduziram mais iniquidades, e delimitaram a capacidade do público de imaginar alternativas sociais. Por exemplo a reparação, por meio de transferência de renda, poderia ter reduzido a transmissão entre 31% e 68%”.

Anahi Guedes, pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Deficiência (NED/UFSC) e do GT Deficiência e Acessibilidade da Abrasco, frisou que o debate sobre capacitismo – descriminação de pessoas com deficiência – é interconectado com outros sistemas de opressão, como racismo, sexismo e homofobia. Para ela , é preciso pensar a reparação na produção acadêmica, nas narrativas sobre o Brasil – da memória nacional, que é também construída sob pensamentos higienistas, e invisibiliza os relatos das pessoas com deficiência.

É, essencialmente, uma questão de classe, e da luta anticapitalista: “A pessoa com deficiência é um corpo fora da ordem capitalista, é um corpo de menor valor, incapaz para o trabalho. A gente sabe qual é o jeito universal do Elas têm caráter permanente e são responsáveis em assessorar tecnicamente a diretoria. São compostas por representantes das instituições associadas e as composições são renovadas a cada três anos, nos respectivos congressos. capitalismo: é homem, é branco, cis, hétero, e sem deficiência”, afirmou.

Luís Eduardo Batista, abrasquiano e assessor para Equidade Racial em Saúde do Ministério da Saúde, fez reflexões sobre a saúde da população negra: “É preciso intersetorialidade: a gente só faz saúde com água, casa, boas escolas, comida na mesa. E perpassa por nós todos também mobilizarmos os nossos para que essa discussão esteja nos nossos processos de formação, de comunicação, componha a formação e construção da política”.

Ele também provocou as pessoas presentes sobre o papel da Abrasco e das Ciências Sociais e Humanas em Saúde na formação de novos pesquisadores e profissionais – “Para as necessidades do SUS, somos parte de uma instituição e corresponsáveis pelos técnicos que estão lá”, disse.O pesquisador comentou que pensar a própria composição da Comissão de Ciências Sociais e Humanas em Saúde da entidade – branca – é uma tarefa coletiva. Atualmente, integram a comissão pessoas indicadas pelos associados institucionais, renovadas a cada três anos – um reflexo, portanto, das instituições de ensino e pesquisa em Saúde Coletiva do país.

O debate foi mediado por Rosana Onocko, presidente da Abrasco, que finalizou a mesa comentando que interromper processos exige forças, e que espera “que sejamos capazes de interromper o pacto da branquitude, pelo bem dos nossos filhos, da nossa sociedade”.

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