A Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG recepcionou mais uma discussão preparatória para o 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, na manhã de 20 de junho, em Belo Horizonte. As conferências de Gastão Wagner, presidente da Abrasco, e Juarez Rocha Guimarães, professor do Departamento de Ciência Política da UFMG, exploraram o tema “Em defesa do SUS: 30 anos de construção”, diante do auditório lotado. A Abrasco esteve também diretamente representada pela vice-presidente Eli Iola Gurgel, docente do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, na mesa de abertura.
Em entrevista à TV UFMG, Gastão afirmou que o Sistema Único de Saúde é um patrimônio da sociedade brasileira e a continuidade do programa – a superação das ameaças apresentadas pelas medidas de sucateamento do governo – depende do movimento da própria sociedade brasileira e a capacidade de defender a ciência e tecnologia, a educação e saúde públicas e de qualidade. Assista:
O Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG cobriu o seminário. Confira alguns trechos da matéria assinada por Carol Prado:
Integrante do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes), o professor Cordelis Van Stralen, afirmou hoje, […] que o momento atual do país é uma crise da democracia do qual o SUS é vítima. “Nós construímos o mais complexo sistema público de saúde do planeta, referência internacional em vários aspectos. Precisamos defendê-lo”, afirmou o professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, Antonio Thomaz Gonzaga da Matta Machado.
A superintendente do Hospital das Clínicas da UFMG e professora do departamento de Propedêutica Complementar da Faculdade, Luciana de Gouvêa Viana, demonstrou sua preocupação com o retrocesso de medidas como a cobertura vacinal no país. “Décadas de avanço podem ser destruídas em poucos anos”, alegou. Ela reforçou a necessidade de se exercer a cidadania: “Temos responsabilidade individual com o SUS. É ano de eleições e na urna poderemos exprimir os nossos desejos, valores e indignações”.
Crise de representatividade
O professor da Universidade Estadual de Campinas e Presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Gastão Wagner de Souza Campos, questionou as gestões e distribuições de receita no SUS, defendendo a criação de uma nova política de pessoal e gestão descentralizada. “O poder do usuário no dia a dia tem que aumentar. Uma gestão participativa tem que ser internalizada. O cidadão precisa saber que o SUS tem jeito” disse. “Os problemas do Sistema Único de Saúde não vão se resolver sozinhos”, acredita.
Ainda segundo Gastão, o SUS é um fenômeno social altamente improvável. “Com as condições estruturais, econômicas e desigualdade do nosso país, o SUS era um fator improvável. Mas ele está aqui. O que nos fizemos precisa continuar sendo feito”, destacou o professor.
“A desconstrução do SUS é lenta e gradual. Essa desconstrução produz a barbárie. Os níveis de mortalidade infantil subiram. A cobertura vacinal do país está em falha. E o governo sabe que ações grandes vão gerar reações violentas. Portanto precisamos ficar de olhos abertos a essas medidas menos visíveis”, completou.
Estiveram presentes ainda o diretor e a vice-diretora da Faculdade de Medicina da UFMG, Humberto José Alves e Alamanda Kfoury Pereira, e a diretora da Escola de Enfermagem da UFMG, Eliane Mariana Palhares Guimarães, o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Bruno Abreu Gomes, a secretária municipal de Saúde adjunta Taciana Malheiros, o professor do Departamento de Ciências Políticas da UFMG, Juarez Rocha Guimarães, o representante do Presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems/MG), Eduardo Luiz da Silva, além de representantes de secretarias municipais e estadual de saúde de Minas Gerais.
Construir resistência
Quando perguntado sobre como construir resistência, o professor Gastão disse “Temos que fazê-la, inventá-la. Temos que incentivar o conhecimento, estar sempre ativos. Nós temos a potencia e a possibilidade de manter nosso Sistema Único de Saúde”, afirmou.
A professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social, Eli Iola Gurgel Andrade, disse que o momento atual é parte da “complexidade do processo de conquista de direitos na história da humanidade”. “A construção do SUS é o desejo brasileiro pela igualdade e justiça, pelo direito a vida. As conquistas democráticas que fizemos na nossa curta história estão sendo ameaçados, precisamos falar sobre isso”, afirmou.