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Saberes, conhecimento científico e pensamento crítico em saúde em Mesa Redonda no 3º Congresso de Política

A mesa “Saberes, conhecimento científico e pensamento crítico em saúde: instrumentos de luta política?”, na programação do 3º Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão em Saúde, da Abrasco, reuniu Kenneth Camargo Jr (IMS-UERJ), Aurea Ianni (FSP-USP) e Emerson Merhy (UFRJ), sob a coordenação de Eduardo Faerstein, também do IMS-UERJ e coordenador do Comitê de Relações Internacionais da Abrasco. Segundo Faerstein, a mesa apresentou “enfoques aparentemente díspares, não convergentes, mas que no fundo havia uma convergência na perplexidade, na diversidade de olhares sobre o papel que tem o conhecimento científico deve e pode ter na defesa da saúde”.

Kenneth Camargo, sob a perspectiva que culminou provocar uma reflexão sobre o movimento da “Marcha pela Ciência”, apresentou o “problema da crítica” com a citação de trecho do pensamento de Latour, afirmando que “o perigo não mais viria de uma confiança excessivamente em argumentos ideológicos posando de matéria de fato, mas de uma excessiva desconfiança de matéria de fato disfarçada como maus viezes ideológicos”; o “problema da expertise”, citando Turner, que afirma que “a expertise é um problema porque é um tipo de violação das condições de igualdade aproximada pressuposta pela accountability democrática”, nesse sentido, “estando face a um dilema entre capitulação ao ‘governo por experts’ ou governo democrático que é ‘populista’ que valoriza a sabedoria popular mesmo quando ‘o povo’ é ignorante e opera com base no medo e boato”; e a “indústria de RP (“spin”)”, citando Rampton & Stauber, que afirmam ressaltando o papel proeminente de Edward Bernays; a visão recnocrática e elitista de Gustave Le Bon com a “psicologia das massas”; e ainda a estratégia da “terceira pessoa” (o agente “independente” e com reputação de competência epistêmica no campo específico). Sobre este último, Kenneth disse que “é como se eu afirmasse aqui para vocês que sou a sumidade em Saúde Coletiva e todos rissem de mim, mas se uma terceira pessoa, conceituada e respeitada afirmasse que eu fosse essa sumidade, todos acatariam”.

Na fala de Aurea Ianni, da Faculdade de Saúde Pública da USP, o sentido da crítica foi foco de investimento por parte da debatedora. A proposta foi o de provocar o sentido crítico da saúde e para isso, partiu da ideia do pensamento crítico com ênfase em dois caminhos, o da ciência (no âmbito da teoria) e o do holístico (no contexto da prática). “O pensamento crítico em saúde é luta política, e isso exige diálogo e autocrítica”, ressaltou. A pesquisadora ainda passeou pelo pensamento social em saúde, pontuando o biológico e o social, enfatizando a questão democrática e o direito à saúde como bases estruturantes para balizarem o campo da Saúde Coletiva. E sugeriu um debate em torno do consumo e do direito.

Emerson Merhy, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirmou que o tema da resistência nos posiciona e que ele tem atravessado a todos há muito tempo. Sua participação, baseada no questionamento amplo das áreas que se relacionam entre si no contexto do conhecimento científico, provocou a reflexão tendo como referência as instâncias das “microfísicas do poder”, fazendo uma referência a Foucault. “No campo de estudo, todos são pesquisadores e isso tem certas consequências”, disse. Esclarecendo que veio de um grupo de militantes que acreditava na possibilidade de posse de um pensamento que poderia ser mais verdadeiro que o outro, Merhy disse que achava que podia impactar no caminhar da construção histórica da sociedade. “Isso acabava sendo um elemento vital para todos nós. Eu traria como um possível pensador que ainda é muito presente hoje e que tem grande importância no debate da sociologia do conhecimento, Michael Löwi, que chama a atenção de um enfrentamento, de um dilema sobre a possibilidade de como dar conta de que alguns modos de pensar no mundo estariam situados acima de outros modos de pensar do mundo. E portanto, eles poderiam falar dos outros modos criando o desafio de poder pensar sobre si mesmo. Sem dúvida nenhuma o Marxismo aparece como o grande paradigma e isso orienta muitas gerações e gerações. Eu diria que a Saúde Coletiva fez essa promessa para si. Eu acho que a Saúde Coletiva tem esse gancho e fez uma promessa de que se constituiria como um campo de produção de saberes de mãos dadas com a questão da produção científica e que esses saberes teriam uma qualidade acima de outros, que nos permitiriam manejar o mundo, fazer caminhares, acertar trajetórias, corrigir coisas, tentar uma nova possibilidade de viver. Uma fé muito grande na possibilidade da construção desse pensamento crítico. E a Saúde Coletiva navega muito por aí… Eu participo desse tipo de formação como muitos de nós. Mas eu acho que essa promessa fica pelo caminho com vários tipos de problemas no seu cumprimento e aí, ela obrigatoriamente, tem que dar conta dessa ferida, quase narcísica, e obriga a Saúde Coletiva ter que se debruçar sobre isso”, avaliou.

No local da fala de coordenador de mesa, Eduardo Faerstein disse que existe, por um lado, uma tendência obscurantista, anticiência que percorre várias sociedades, que deu margem nos Estados Unidos para a Marcha pela Ciência, e por outro lado, a necessidade de outros saberes não serem negligenciados do ponto de vista do que compõe a armamentária conceitual em benefício da saúde da população.

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